Pastor se nega a batizar adolescente com cabelo crespo: ‘Não é de crente’

Arquivo Pessoal/Martha Miranda

No último dia 11 de dezembro, o pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Jacobina, na Bahia, se recusou a batizar uma adolescente negra de 15 anos por conta do cabelo dela, que é crespo. Amigos da jovem saíram em defesa dela e se reuniram em um protesto pacífico contra o episódio de racismo.

Ao BHAZ, Martha Medeiros, amiga da vítima e organizadora do protesto, contou que a adolescente participava de um evento na igreja, quando a palestrante convidada elogiou seu cabelo. Neste momento, o pastor pegou o microfone e disse, diante de toda a igreja, que ela só poderia se batizar se mudasse o cabelo. “Ele disse ‘ou você muda o cabelo ou você não vai ser batizada’. Para ele, cabelo crespo não é de crente”, conta.

Depois do episódio, a adolescente chegou em casa chorando, contou à família o que havia acontecido e disse que o pastor não havia se desculpado. Foi aí que surgiu a ideia do protesto.

‘Seguimos’

Diante do constrangimento da adolescente, uma irmã dela e Martha decidiram agir. “Publicamos um story no Instagram pedindo meninas com cabelos crespos para nos procurarem, reunimos um grupo de 14 pessoas e fomos até a igreja”, conta a amiga.

Ela lembra que a reação dos fiéis ao movimento foi de completa indiferença: “Eles sabiam que a gente iria e a maioria nos ignorou completamente, quando nós entramos na igreja, fingiram que nem tinham visto a gente”. Apenas duas pessoas procuraram os jovens para se desculpar. “Nós entramos e ficamos calados, mas eles foram se desculpar porque sabiam qual era o motivo da nossa presença”, lembra Martha.

A polêmica se intensificou depois da repercussão do protesto nas redes sociais. De acordo com Martha, muitas pessoas saíram em defesa do pastor, dizendo que o conheciam e que ele estava sendo vítima de calúnia, inclusive fiéis da igreja que são negros: “Eles acham que, como eles são negros e estão lá, o pastor não é racista”.

Depois das postagens, o pastor voltou a procurar a vítima, mas em nenhum momento reconheceu o racismo. “Ele procurou ela para conversar, pediu desculpas por ter causado constrangimento, mas insistiu que ela só poderia ser batizada se desse um ‘jeitinho’ no cabelo”, conta Martha.

Martha ainda relata indignação com um formulário de batismo, preenchido anteriormente pela vítima, que informava que, uma vez batizada, ela deveria “ser submissa ao pastor e à igreja”.

Além disso, a falta de posicionamento da igreja diante do crime também incomoda, mas a lição deixada com o protesto falou mais alto: “Feliz em saber que não estamos sozinhas e não somos menores ou inferiores a ninguém. Temos o direito de seguir a religião que quisermos, bem como ocupar qualquer lugar. Seguimos”.

A reportagem do BHAZ tentou contato com o pastor, mas não obteve retorno ate a publicação desta matéria.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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