Após ataques a baiana viralizarem, Prefeitura de Salvador cria ‘Guia para não ser um turista babaca’

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A publicação foi feita após uma recente polêmica envolvendo dois turistas que ofenderam e expuseram uma baiana do acarajé no Pelourinho (Prefeitura de Salvador/Divulgação)

A Prefeitura de Salvador deu uma verdadeira aula de “bom senso” em suas redes sociais nessa quarta-feira (17) ao publicar um guia de “como não ser um turista babaca”. A publicação foi feita após uma recente polêmica envolvendo dois turistas, que ofenderam e expuseram uma baiana do acarajé e seguidora do candomblé (veja abaixo).

Na legenda da publicação, a prefeitura já deixa claro que a cidade “não é bagunça”. As duas primeiras regras apresentadas pelo perfil dizem respeito às medidas de segurança contra a Covid-19 que devem ser seguidas sob orientação dos órgãos de saúde.

“O uso de máscara ainda é obrigatório em Salvador. Não deixe a sua na mala!”, diz a primeira orientação. “Alguns locais só aceitam a entrada de pessoas vacinadas. Ande sempre com o seu cartão em mãos e evite dor de cabeça!”, acrescenta a prefeitura na segunda regra.

Na sequência, o Executivo municipal pede que os turistas respeitem a vontade das mulheres no momento da paquera. “Vai chegar numa mina? Vai na ‘manha’. Caso ela diga não, respeite e se afaste. Aqui e em qualquer lugar: não é não!”. Veja abaixo:

‘Fé não é brincadeira’

Sem “papas na língua”, a Prefeitura de Salvador ainda deu uma dura naqueles turistas que praticam intolerância religiosa. “Salvador tem muito sincretismo religioso, mas isso não dá espaço para desrespeito às religiões. Não trate a fé das pessoas como brincadeira!”, diz a quarta recomendação.

Por fim, o perfil repudia atos de discriminação e pede respeito ao seu povo. “Nem todo descanso é preguiça, mas todo preconceito é vergonhoso. Não caia na besteira de incentivar estereótipos pejorativos em nossa terra!”, termina a publicação.

‘Cara de macumbeira’

O guia vem como resposta a um vídeo que tem repercutido e gerado muita revolta nas redes sociais desde a última segunda-feira (15). Na ocasião, uma vendedora de acarajé do Pelourinho foi exposta no perfil de dois turistas que passavam o feriado em Salvador.

No vídeo, os amigos filmam a baiana Eliane de Jesus e a chamam de “macumbeira” e “preguiçosa”, por ela estar usando roupas do candomblé. “É aquela baiana ali, oh, ela falou que vai me dar axé, ela tem cara de macumbeira?”, diz um dos homens.

“Ela é o que, irmã?”, questiona o seu amigo, ao passo que o primeiro responde: “Marmoteira”. “E preguiçosa”, completa o segundo. Veja o vídeo:

‘Me senti humilhada’

Em entrevista à TV Bahia, afiliada da Globo, Eliane de Jesus, de 48 anos, disse que se sentiu “humilhada” ao se ver naquela situação e que “ser humano nenhum merece isso”. “E eu estou muito indignada, estou muito ferida com isso, porque isso é intolerância religiosa”, disse.

“Eu trabalho no Pelourinho há mais de dez anos, benzo, e sou suspensa como Ekede [cargo no candomblé] em uma casa [terreiro]. Então não é certo ele me chegar e fazer isso com minha imagem. Isso é uma intolerância contra a minha religião”, desabafa.

Após a repercussão dos ataques xenofóbicos, Eliane denunciou o caso à Delegacia de Proteção ao Turista e a dupla será investigada Pela Polícia Civil.

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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