Repórter relembra caso ‘Escola Base’ e pede desculpas a acusados injustamente: ‘Cicatriz vai ficar para sempre’

Valmir Salaro relembra caso Escola Base
Valmir Salaro prefere falar sobre o que caso para que nada parecido se repita (Reprodução/TV Globo)

O jornalista Valmir Salaro, o primeiro repórter a noticiar o caso “Escola Base” em 1994, participou nesta quarta-feira (16) do Encontro, da TV Globo. Ele falou sobre a experiência de descobrir que as seis pessoas acusadas de abusar sexualmente de crianças de 4 anos, na verdade, eram inocentes.

Salaro protagoniza o documentário “Escola Base – Um repórter enfrenta o passado“, que estreou na última quinta-feira (10) no Globoplay. Na obra, ele revisita a cobertura do caso e pede perdão pessoalmente aos acusados.

Na participação no Encontro, ele relembrou a experiência. “Foram momentos muito difíceis, desde quando descobri há quase 30 anos que os seis acusados pela polícia, pela Justiça e por mim, eram inocentes. Nunca esqueci. Tenho o rosto dessas pessoas marcado dentro de mim”, contou.

Valmir Salaro reforçou que se recusa a “jogar embaixo do tapete” o caso e prefere falar sobre o que aconteceu para que nada parecido se repita: “sempre lembrei, porque acho que ajudei de uma forma definitiva naquele momento a destruir o destino e a reputação daquelas seis pessoas”.

Arrependimento

À época, com base em informações repassadas por um delegado e em laudos periciais, o repórter foi o primeiro a noticiar que pais de crianças de 4 anos acusavam os donos e outros funcionários da Escola Base, em São Paulo, de abusar sexualmente dos alunos.

“Depois comecei a ver que aquelas pessoas, na verdade, foram vítimas de legistas que apontaram que um menininho da escola poderia ter sofrido violência sexual, de um delegado que acreditou nesse laudo, das mães que insistiam desesperadamente falando que os filhos tinham atitudes diferentes quando chegavam em casa…”, relembrou o jornalista.

Valmir Salaro busca reviver o caso para que ele sirva de exemplo para jornalistas de todo o país, além de fazer um alerta: “desconfie sempre, de tudo, antes de colocar uma notícia no ar, porque depois não tem retorno”.

No documentário, ele se encontra com os acusados e pede desculpas pessoalmente. Sobre a conversa com Paula Milhim, professora na Escola Base, o repórter recordou: “pedi perdão, ela me perdoou. Aquilo amenizou um pouco a dor interna que eu tinha, mas uma cicatriz vai ficar para sempre”.

O caso ‘Escola Base’

Em 1994, seis pessoas foram acusadas injustamente de abusar sexualmente de crianças de 4 anos: o casal de donos da escola, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada; a professora Paula Milhim Alvarenga e marido, o motorista Maurício Monteiro de Alvarenga; e os pais de uma criança que estudava na instituição.

Tudo surgiu depois que um laudo pericial deu positivo para o abuso sexual de uma das crianças. À época, o delegado Edelcio Lemos determinou a prisão de todos antes de as investigações chegarem ao fim, e o repórter Valmir Salaro noticiou o caso na TV Globo.

Quando o exame foi refeito, os mesmos profissionais da perícia apontaram que os indícios na verdade eram marcas decorrentes de uma prisão de ventre da criança. Mas já era tarde: a Escola Base já havia sido depredada, os acusados foram ameaçados de morte e acabaram perdendo tudo que tinham.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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