A série sul-coreana Round 6 é um sucesso na Netflix e já possui os melhores números da empresa de streaming. Apesar de ser indicada para o público com mais de 16 anos, o sucesso “Round 6”, da Netflix, tem sido assistida também por crianças e adolescentes. O conteúdo de violência apresentado nos episódios vem despertando preocupação e reforça o cuidado com os pequenos. Psicanalista ouvido pelo BHAZ alerta que os impactos são imensos.
Nas redes sociais, internautas comentam sobre a audiência da série pelo público infantil, já que tudo acontece em torno de brincadeiras de criança e a penalidade para o perdedor é a morte.
Os usuários da web têm destacado atitudes de escolas para evitar a audiência. “Uma escola carioca fez uma carta aberta aos pais dos alunos alertando sobre a série Round 6. A carta alerta sobre o teor sexual e agressivo da série que não deve ser acompanhada”.
a quantidade de pais irresponsáveis colocando round 6 e deixando as crianças assistirem como se fosse algo bom pra elas pic.twitter.com/Vn0E2nhmnX
— louie 🕊 (@moonloviess) October 7, 2021
a escola da minha filha em que as crianças mais velhas tem 11 anos, mandou um comunicado dizendo para proibir os filhos a assistirem round 6
— 7 days 🌹💋🎌✨🎶☯♻ (@PriMDiM1) October 11, 2021
os pais perderam a noção de limites
Estou na escola numa turma de crianças de 8 anos e a professora falando sobre Round 6 e que isso não é adequado para eles assistirem. A escola que tem que falar isso para as crianças????? Cadê esses pais?
— Sereníssima (@Tataserenissima) October 8, 2021
Ao BHAZ, a presidente do Sinep-MG (Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais), Zuleica Reis, diz que alunos já foram vistos comentando sobre a série nas escolas. “Algumas crianças disseram ter assistido e outras que ainda estão acompanhando”. A representante da categoria alerta para a necessidade dos pais saberem os conteúdos consumidos pelos filhos.
“Cabe à família [fazer este controle]. A pandemia trouxe acesso fácil às redes sociais e crianças e adolescentes têm ficado muito tempo com o celular e a frente do computador. As famílias devem ficar atentas e fazer avaliação”.
‘Não previ’
Hwang Dong-hyuk é o criador e diretor de Round 6. Ele disse que não esperava que a série fosse um sucesso com as crianças e adolescentes. “Não previ esse nível de sucesso. Estou animado, mas assustado também. Há três semanas, vivo uma montanha-russa emocional”, afirmou. As informações são de O Globo.
O criador destacou que a obra não foi criada para este público. “Estou perplexo que crianças estejam vendo. Espero que os pais e os professores ao redor do mundo sejam prudentes para que elas não sejam expostas a esse tipo de conteúdo”.
‘Violência gratuita’
A violência explicitada na série pode causar impactos “incomensuráveis” na vida das crianças e adolescentes, conforme explica o psicólogo e psicanalista Eduardo Lucas Andrade. “Cada uma reagirá de um modo. Sem orientação, esses perigos se adentram e atravessam a saúde mental podendo gerar medos, ansiedades, inseguranças, incompreensões e reações agressivas”.
O diálogo entre pais e filhos é fundamental que aconteça diante dos questionamentos das crianças que assistiram Round 6.
“Dialogar não significa somente o adulto falar silenciando a criança. Um diálogo carece de escuta sobre o que se está falando. Neste caso, se trata do adulto escutar a criança, acolher o que ela traz e a partir do que ela disser, o adulto poderá problematizar as partes extremamente agressivas e tecer diálogo acerca de outros temas inseridos na série.” Pondera Andrade.
A conversa é necessária devido ao fato da criança ter ficado exposta às cenas impróprias para a idade. “É difícil para uma criança, até mesmo para um adulto, lidar com tanta violência gratuita”, diz.
Mais diálogo
A presidente do Sinep-MG contou que a série é comentada entre as crianças. Se uma não tiver visto, certamente ficará com a curiosidade de acompanhar o que foi relatado pelo colega. Neste momento, mais uma vez, o diálogo se faz necessário.
“Ao não falar sobre, tomando tabu e apenas se impondo com um não pelo não, a curiosidade tende a ganhar ainda mais força. Nem toda descoberta serve a toda época da vida. A saída pelo diálogo, pelo amparo, contextualizando que esse conteúdo prejudica a saúde mental deles pelo excesso de violência que tem, pode ser mais viável do que um não com silêncio e pronto”, diz o psicanalista.
A conversa acolhedora vai gerar, segundo Andrade, a segurança e o fortalecimento do vínculo de cuidado. “Isso é tanto com a série quanto com outras coisas na vida. Como se trata de algo muito falado, o adulto pode propor ver com a criança outras séries que se encaixe na faixa etária e que também esteja em alta. Assim as crianças não estarão tão desalojados dos assuntos de momento”.