Desabafo sobre pressão pelo sucesso antes dos 30 anos viraliza no Facebook

Reprodução/Facebook Fernanda Abreu

Aos 26 anos, a historiadora Fernanda Abreu viu um “textão” de sua autoria viralizar no Facebook. O desabafo da moradora do Rio de Janeiro tem como tema central uma angústia compartilhada entre muitos jovens nos dias de hoje: a pressão por alcançar o sucesso antes dos 30 anos de idade. Nesta quinta-feira (7), a publicação alcançou mais de 40 mil curtidas.

Em entrevista à Bhaz, Fernanda revelou que não esperava tanta repercussão. “Foi um texto totalmente despretensioso e pouco cuidadoso conceitualmente”, definiu. A historiadora ainda analisou as ideias apresentadas na publicação. “A minha denúncia (se posso usar esse termo) é que cumprir todos aqueles requisitos (citados no texto) não define necessariamente uma trajetória de sucesso; a pergunta que gostaria provocar é: ‘para quê?’. Isso é viver plenamente? A que custo?”, pontua.

Reprodução/Facebook Fernanda Abreu
Reprodução/Facebook Fernanda Abreu

Confira na íntegra a entrevista com Fernanda:

1) Como surgiu a ideia de escrever o texto?

A ideia surgiu de conversas recentes que tive com amigas próximas, de diferentes classes sociais e contextos profissionais, que enfrentam a mesma situação. Notei que esta seria uma questão de geração, de pressão social, e não um mero caso particular. E, claro, a conversa com o meu pai foi o gatilho para colocar essa reflexão “no papel”.


2) Você tem o hábito de expressar suas ideias assim no Facebook?

Sim, costumo escrever “textão de Facebook”. Principalmente sobre política e sociedade, mas poucas vezes comento sobre pontos tão pessoais quanto nesse texto.

3) Você esperava que a publicação fosse viralizar?

Não! De forma alguma! Foi um texto totalmente despretensioso e pouco cuidadoso conceitualmente. Eu apenas desabafei, sabe?

4) Tem recebido retornos de pessoas que se identificaram?

Sim, muitas mensagens de agradecimento de pessoas que se sentiram “contempladas” e tal. Inclusive, na medida do possível, eu estou acompanhando os compartilhamentos e em todos há relatos de identificação – especialmente de mulheres. A pressão para a mulher perpassa questões profissionais e acadêmicas. Está diretamente relacionada à vida pessoal e à maneira como se porta em sociedade, seja qual for a renda ou a escolaridade; tem que depilar, tem que passar batom, tem que isso e aquilo. É uma demanda diferente. E a minha denúncia (se posso usar esse termo) é que cumprir todos aqueles requisitos não define necessariamente uma trajetória de sucesso; a pergunta que gostaria provocar é: “para quê?”. Isso é viver plenamente? A que custo?

5) Mesmo com muitas pessoas se identificando com seu relato, ainda aparecem alguns comentários que defendem afirmações do tipo “Bem-vinda ao mundo adulto. É isso aí!”. Qual é a sua visão sobre isso?

Bom, os comentários do tipo “bem vindo ao mundo adulto” foram mínimos em relação aos que se identificaram. Eu estou bastante tranquila quanto a isso. Cada um tem uma experiência e um texto não precisa necessariamente representar a vivência do todo. Não, não sou “a voz de uma geração”, até porque boa parte das pessoas que compartilhou não passou pelo que passei e vice-versa. Sobre viver tal “mundo adulto”, já estou nele desde os 18 anos (quando saí da minha cidade para estudar no RJ) e, migs, o tempo passa e não fica mais fácil. Assim que é. Não reclamo de trabalhar – gosto muito, inclusive -, o problema é que a sociedade espera de mim coisas que não sou capaz de fazer porque o “mundo adulto” é cruel. Eu precisei trabalhar durante a graduação, durante o mestrado e continuo trabalhando porque minha família não tem condições de me bancar integralmente, mas vale lembrar que isso não tem nada a ver com meritocracia. Apesar das limitações financeiras pelas quais passei (e ainda passo, né), reconheço que sou bastante privilegiada em relação à boa parte da população: tive acesso à universidade, sou branca, faço parte de uma nova classe média, não moro em área periférica e tenho apoio familiar, sobretudo da minha mãe. Isso pode parecer apenas uma combinação de fatos, mas são sim circunstâncias privilegiadas. E foi isso que permitiu que eu me tornasse a primeira universitária da minha família, a primeira pós-graduada e por aí vai.

Maira Monteiro[email protected]

Diretora-executiva do BHAZ desde junho de 2018. Jornalista graduada pela PUC Minas, acumula mais de 15 anos de experiência em redações de veículos de imprensa, como Record TV e jornal Hoje em Dia, e em agências de comunicação com atuação em marketing digital, como na BCW Brasil.

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