Um vereador de São Paulo vem sendo amplamente criticado após dizer, em sessão na Câmara na tarde de ontem (18), que tem um vídeo de “homens beijando crianças” e “tentando praticar sexo com crianças”.
Trata-se de Rinaldi Digilio (União), que se dirigia a uma vereadora do PSOL para criticar uma fala dela. O vídeo veio à tona com uma publicação da também vereadora Luana Alves (PSOL), que pedirá uma investigação sobre o caso.
“Presidente [da Câmara], eu tenho foto. Ou melhor, eu tenho vídeo de homens beijando crianças, tentando praticar sexo com crianças nos ribeirinhos. É pra trazer os vídeos aqui, nós vamos trazer”, diz o vereador em um trecho da sessão.
Em contato com o BHAZ, a assessoria de imprensa de Digilio disse que Luana Alves usou as redes sociais para “imputar falso crime”. Além disso, afirma que ela tirou a frase de contexto e espalhou calúnias.
O vídeo
Nas imagens (assista abaixo), o vereador pelo Republicanos aparece rebatendo uma fala da vereadora Erika Hilton, do PSOL. Ela discursou pouco antes sobre pessoas que estariam rezando em frente ao hospital Pérola Byington, referência na realização de abortos previstos em lei.
Reforçando o posicionamento contra a legalização, Digilio acusou a colega de perseguição religiosa. “É o cúmulo aonde a perseguição religiosa chega. Se ela é a favor do aborto, é um problema dela. Embora eu veja que ela não está no lugar de fala de uma criança que é assassinada no ventre da mãe. E nós somos aqui totalmente pró-vida”, começou.
Em tom de deboche, ele disse que Erika estaria provocando uma “verborragia” ao supostamente proibir pessoas de orar em frente a um hospital. Ele também disparou sobre outra fala da vereadora, na qual ela teceu críticas à ex-ministra Damares Alves, agora eleita senadora pelo Distrito Federal.
“Não adianta tentar criar uma ideia de defesa da concepção da vida, indo inclusive contra os argumentos científicos quando é essa mesma gente não se dói em ver a quantidade de pessoas pobres periféricas pedindo nas calçadas da cidade de São Paulo”, disse a parlamentar.
‘Achei que tinha entendido errado’
O BHAZ procurou Luana Alves para entender o contexto da declaração e das vindouras denúncias. A vereadora explica que a sessão na Câmara não teria nenhum projeto importante para ser votado. Ela acompanhou online e, em dado momento, a fala do parlamentar chamou sua atenção.
“Achei que tinha entendido errado. Um parlamentar falar isso com essa banalidade. O que mais me assustou foi quando ele falou que poderia passar isso na Câmara”, diz à reportagem. Na ocasião, os vereadores comentavam sobre tópicos que achavam relevantes.
Luana afirma que a presidente logo encerrou a sessão. A vereadora vai hoje à delegacia de proteção à infância para formalizar a denúncia. Ela e sua equipe ainda estudam que providências tomar dentro da Câmara.
‘Será alvo de ação judicial’, diz assessoria
Em contato com a reportagem, a assessoria de imprensa de Rinaldi Digilio afirma que vai entrar na Justiça contra Luana Alves. Segundo a equipe, o parlamentar se referia a um material “amplamente divulgado pela imprensa” e de domínio público: o caso de um homem que beijou a enteada de seis anos à força em 2021.
A assessoria defende que o vereador nunca falou em “armazenar” conteúdo de pedofilia, como Luana publicou. Por meio de nota (veja na íntegra abaixo), Rinaldi Digilio ainda diz que caberá a Luana “explicar judicialmente o motivo de imputar falso crime”.
Armazenar pornografia infantil é crime
O artigo 241-B do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) descreve o crime de aquisição de pornografia infantil. A pena pode variar de um a quatro anos de reclusão e multa.
O dispositivo esclarece que são considerados crimes os atos de adquirir, possuir ou armazenar material que contenha qualquer forma de registro de sexo ou pornografia envolvendo crianças ou adolescentes.
Nota do vereador Rinaldi Digilio na íntegra
“O vereador Rinaldi Digilio esclarece, como mostra o vídeo da sessão que, em nenhum momento disse armazenar vídeos de abuso sexual infantil, ao contrário do que a vereadora Luana Alves informou em suas redes sociais.
Digilio, como fato notório, se referia a vídeo e notícia amplamente divulgada pela imprensa, inclusive, publicado por grandes veículos de comunicação, que noticiaram o fato descrito por ele em seu discurso.
Por conta do crime grave cometido pela vereadora, Digilio pretende ingressar com uma ação na esfera cível e criminal, além de processo interno na corregedoria por imputar-lhe um crime falso e divulgar a fake news. O mesmo ato será tomado continuamente com quem divulgar a mentira em meio público.
Estranha-se o fato de que a vereadora, já que achava que se tratava de crime, de ir registrar a ocorrência e pedir oficialmente a apuração pelas autoridades, ter ido primeiro para as redes sociais e para a imprensa promover calúnia e difamação, além de imputar falso crime a um cidadão, mostrando que além de não cumprir sua função básica, prefere politizar sobre a vida de crianças inocentes”.
