Caso Evaldo: Viúva diz que queria ter morrido ao lado do marido; 10 militares foram presos

Reprodução/RecordTV

A família do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, foi nesta segunda-feira (8), no final da manhã, ao Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio de Janeiro, para liberar o corpo dele. O homem foi morto em uma operação do Exército, em Guadalupe, na zona oeste da cidade, na qual o carro em que estava foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil.

Em estado de choque, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família passava pelo local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.

“Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo.”

Emoção

Aos prantos, a viúva disse que preferia ter morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. “Eles me deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu e meu filho”, disse. “Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo”, afirmou a técnica de enfermagem, que disse ao filho que pai estava hospitalizado.

Luciana Nogueira informou que Evaldo era músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos. Débora dos Santos Araújo, irmã da técnica, disse que o filho do casal, de 7 anos, ainda não foi informado da morte do pai.

“A gente ainda não falou que ele morreu. O menino fica perguntando quando o pai vai sair do hospital. Ele está na casa do avô, do meu padrasto. Era filho único, tinha muito amor pelo pai”, ressaltou Débora Araújo.

Segundo Débora, houve uma tentativa de militares de fazer a perícia no local. “Tem um vídeo mostrando que queriam colocar alguma coisa embaixo do meu cunhado”, disse. “Nós exigimos que fosse a polícia. Isso foi [por volta das] duas horas, a polícia chegou às seis e pouco. Nós não deixamos eles fazerem porque eles podiam tentar fraudar.”

Ação

O carro em que estava a família foi atingido por mais de 80 tiros disparados pelos militares. Evaldo, a mulher, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga da família estavam indo para um chá de bebê. O músico foi atingido por três tiros e morreu na hora.

O sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo, recebeu um tiro nas costas e outro no glúteo e está internado em estado estável no Hospital Albert Schweitzer ao lado de um homem, que estava no local, e tentou socorrer a família, mas foi atingindo por um tiro no peito.

Segundo Luciana Nogueira, não houve confronto, e os tiros começaram assim que o carro da família entrou na rua. “Eu me senti protegida quando vi o quartel. Meu padrasto estava no banco da frente. O Evaldo já estava caindo no volante, mas falou ‘corre com o Davi’. Eu abri a porta e disse que ajudava a levar o carro. Os vizinhos vieram para ajudar a socorrer.”

Prisão de militares

O Exército determinou nesta segunda, no Rio de Janeiro, a prisão de dez dos 12 militares que estavam na guarnição envolvida em disparos contra o carro em que Evaldo estava.

Segundo o Comando Militar do Leste (CML), eles foram presos em flagrante por descumprimento das regras de engajamento.
 
De acordo com o CML, foram constatadas inconsistências entre os fatos inicialmente reportados pelos militares envolvidos e as informações que chegaram posteriormente ao Exército.
 
As prisões foram determinadas depois de depoimentos dos militares envolvidos no episódio à Delegacia de Polícia Judiciária Militar e ao Ministério Público Militar.
 
Inicialmente, o CML informou que a guarnição circulava pelo bairro de Guadalupe quando se deparou com um assalto e foi atacada por criminosos. E que, por causa disso, atirou contra os assaltantes. Segundo essa primeira nota divulgada nesse domingo pelo Exército, o homem que morreu e o que ficou ferido eram assaltantes.
 
Uma terceira pessoa, um pedestre, foi atingido durante o tiroteio, segundo ainda a primeira nota do Exército.
 
A Polícia Civil, no entanto, depois de fazer uma perícia no local, informou que não havia assaltantes no carro e que as duas vítimas eram integrantes de uma família que estava no veículo.
  
De acordo com a última nota divulgada pelo CML, os militares presos estão à disposição da Justiça Militar, que realizará a audiência de custódia e decidirá se manterá ou não a prisão.
 
“O Exército Brasileiro reitera seu estrito compromisso com a transparência e com os parâmetros legais impostos pelo Estado de Direito ao uso legítimo da força por seus membros, repudiando veementemente excessos ou abusos que venham a ser cometidos quando do exercício das suas atividades”, finaliza a nota.

Da Agência Brasil

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