Com o aumento das pesquisas sobre o novo coronavírus, surgem não apenas possíveis tratamentos, mas também sintomas anteriormente desconhecidos. E um dos indícios que está perto de entrar para o rol dos sintomas da Covid-19 é a conjuntivite. Essa manifestação pode ser causada por diversos agentes, inclusive o novo coronavírus, conforme explicam especialistas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Isso ocorre quando o vírus entra em contato com a superfície ocular, o que provoca a inflamação.
A conjuntivite é um processo inflamatório da conjuntiva, membrana transparente que reveste principalmente a área branca dos olhos e pode se manifestar quando o vírus entra em contato com a superfície ocular. “A conjuntivite não é a principal manifestação do coronavírus, mas pode sim ser desencadeada pelo agente causador da doença. Essa informação não é surpresa, já que vírus mais conhecidos, como de gripes comuns, também podem levar ao quadro de conjuntivite”, afirma o professor e subchefe do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Daniel Vitor Santos.
“Todas as infecções aéreas superiores podem levar à inflamação da conjuntiva. Por isso, quando o paciente está com suspeita de conjuntivite, nós sempre perguntamos se ele apresentou algum quadro respiratório recente, como tosse e coriza. Se o indivíduo relata isso, a probabilidade de ser uma conjuntivite viral aumenta significativamente”, comenta Daniel.
Principais causadores
Segundo o especialista, os vírus são os principais causadores das conjuntivites infecciosas, que são altamente contagiosas, ainda que de pouca gravidade. Mas eles não são os únicos responsáveis pela doença. Nesse grupo, existem também bactérias, fungos e parasitas, por exemplo.
No caso de conjuntivite não infecciosa, ou seja, em que não há risco de contágio, Daniel explica que pode ocorrer “quando algum produto químico entra no olho e provoca queimadura da superfície ocular ou algum quadro irritativo, por exemplo, o que é chamado de conjuntivite química”. Outro tipo é quando os cílios crescem para dentro do olho e causam irritação.
Mudança no tratamento
Mesmo que a principal recomendação seja procurar um médico ao apresentar os sintomas da conjuntivite, o cenário de pandemia do novo coronavírus mudou essa orientação: agora, o indicado na maioria dos casos é tratar em casa e se torna ainda mais importante avaliar a necessidade de atendimento de acordo com cada caso. Segundo o professor Daniel, como não há um tratamento específico para a conjuntivite viral, os cuidados são apenas para diminuir o desconforto.
“Se a pessoa apresenta somente os sintomas comuns da conjuntivite, como olhos vermelhos, secreção e inchaço da pálpebra, o mais prudente, neste contexto de pandemia, é tratar em casa. Recomendamos que seja feita a higiene ocular, com uso contínuo de soro fisiológico gelado”, explica. Se as pálpebras estiverem muito inchadas, compressas de gelo também podem ajudar.
No entanto, ele reforça que não é prudente descartar por completo uma ida ao médico. “Se o paciente apresentar sinais mais graves, como baixa visão ou manifestação respiratória preocupante, como falta de ar, é recomendado procurar uma Unidade Básica de Saúde”, pontua. Também é preciso tomar cuidado com os remédios caseiros: “Muitos sugerem uso de leite materno, arruda, água boricada e até mesmo limão. O olho é uma superfície muito delicada, por isso deve-se evitar essas preparações caseiras. A melhor forma de tratar a doença é com soro fisiológico”.
Transmissão e cuidados
Segundo Daniel, a transmissão da conjuntivite ocorre durante a manifestação dos sintomas e principalmente pelo contato. Para as pessoas sintomáticas, o mais importante é ter precauções, inclusive como forma de responsabilidade social, para evitar que a doença se dissemine com facilidade.
E as medidas de prevenção não são muito diferentes daquelas recomendadas para combater o coronavírus: “Nesses casos, sempre recomendamos um distanciamento social. Por exemplo, crianças têm costume de se aproximar mais, dar abraços. Devido a isso, a recomendação é afastá-las de escolas e creches, até se recuperarem, pois, nesses ambientes, a chance de propagação da doença é alta”.
Com Giovana Maldini, da UFMG