Diretora de escola municipal morre vítima da Covid-19 em BH: ‘Muito difícil’

escola municipal marlene
Diretora exercia funções na escola localizada no bairro Alípio de Melo (Reprodução/Google Street View)

Atualização às 13h55 do dia 15/05/2021: Esta matéria foi atualizada para incluir a resposta da PBH.

“Uma pessoa que lutou em prol da escola pública de qualidade, em defesa dos professores e dos alunos carentes”. Desta forma que colegas de trabalho definem a diretora Márcia Nunes, 61, que durante 27 anos trabalhou na Escola Municipal Marlene Pereira Rancante, na região Noroeste de BH. Sem comorbidades, a educadora é a segunda de escola municipal da capital a morrer vítima da Covid-19. O óbito foi registrado nessa sexta-feira (14). A servidora trabalhava de forma remota desde março de 2020, mas foi recentemente à unidade de educação – ainda fechada e sem presença de alunos – para preparar a retomada das atividades presenciais.

O Sind-Rede BH (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte) comunicou o falecimento da educadora ao BHAZ. “Lamentamos muito a perda da Márcia. Ativista antiga da rede, pessoa super cuidadosa e, infelizmente, mais uma vítima da Covid”, diz Vanessa Portugal, diretora do sindicato.

A morte de Márcia deixou a comunidade escolar muito abalada, pois ela dedicou a vida toda à instituição de ensino. “Está sendo muito difícil [lidar com a morte dela]. Aqui foi a única escola que ela trabalhou em BH. Vinte e seis anos, sendo diretora por cinco vezes”, afirma uma colega de trabalho que opta pelo anonimato.

Mesmo já podendo aposentar, Márcia preferiu continuar se dedicando à escola. “Ela nem pensava em aposentar. Tinha dedicação, energia e muito amor pela escola”. Antes de ser diagnosticada com o vírus, a diretora estava ajudando na preparação da instituição para a volta às aulas presenciais.

Morte repentina

Márcia vinha trabalhando normalmente, em escala de revezamento com outros servidores, quando teve uma forte gripe na sexta-feira da semana passada – 7 de maio. Ao longo desta semana, ela procurou o médico, fez o exame de Covid e recebeu o diagnóstico positivo na quarta-feira (12). “Márcia ficou chateada, pois era muito cuidadosa e fazia de tudo para não se contaminar”.

“Ela parou de conversar com a gente e ficamos preocupados”, lembra a colega. A forma como tudo aconteceu, do diagnóstico até a morte, deixou a comunidade escolar muito assustada. “Foi tudo muito rápido. Não deu tempo de agir”. Márcia chegou a ser intubada no começo da tarde de ontem (14) e horas depois veio a falecer.

A educadora não tinha comorbidades e faleceu na mesma semana em que completou mais um ano de vida, no dia 10 de maio. O primeiro diretor a morrer de Covid-19 foi Cláudyo Antônio Oliveira, da Escola Municipal José Maria dos Mares Guia. Ele faleceu em julho de 2020 em decorrência da doença.

Preocupação

A morte de Márcia é um alerta, segundo o Sind-Rede BH, sobre o retorno das aulas presenciais em meio à pandemia. “Não podemos dizer que foi a presença dela na escola que levou à contaminação, mas também não podemos descartar”, ressalta Vanessa.

“O que a gente diz é o seguinte: a questão central da pandemia é o isolamento. Todas as medidas que ampliam aberturas colocam mais vidas em risco e não faz sentido abrir escolas neste momento. Escola é espaço de contato. Só quem não tem compreensão de escola acha que ela cumpre seu papel com professora a dois metros do aluno”.

A categoria segue em greve sanitária contra o retorno das aulas presenciais.

PBH

As aulas presenciais ainda não retornaram na escola que tinha Márcia como diretora. A reportagem procurou a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) para saber se haverá alguma alteração na data de retorno.

O Executivo municipal, por meio da SMED (Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte), lamentou “profundamente” a morte de Márcia. A pasta informou que “a diretora estava afastada do trabalho presencial desde março de 2020, desempenhando as atividades de gestão a partir do teletrabalho”.

Sobre um possível adiamento na volta às aulas, a Smed esclareceu que “as aulas só são paralisadas se houver surtos, caso contrário são mantidas as medidas de prevenção ao contágio”. A nota na íntegra pode ser lida abaixo.

Nota da PBH

“A Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte lamenta profundamente a morte da diretora da Escola Municipal Marlene Pereira Rancante, Márcia Nunes, nessa sexta-feira (14).  Por estar no grupo de risco, a diretora estava afastada do trabalho presencial desde março de 2020, desempenhando as atividades de gestão a partir do teletrabalho. No entanto, recentemente a diretora esteve na escola, sem qualquer contato com alunos ou professores, uma vez que as aulas na unidade ainda não foram retomadas. 

A orientação para casos suspeitos de Covid-19 é o afastamento e encaminhamento da pessoa para a unidade de saúde, além do isolamento e busca de contactantes. A Secretaria Municipal de Saúde elaborou um protocolo com normas de funcionamento e Nota Técnica específica sobre as medidas relacionadas ao monitoramento dos funcionários e alunos que estiverem em atividades presenciais.

É importante esclarecer que as aulas só são paralisadas se houver surtos, caso contrário são mantidas as medidas de prevenção ao contágio.

As secretarias municipais de Saúde e de Educação monitoram rigorosamente a situação das unidades e os profissionais que apresentam sintomas compatíveis com a Covid-19, estão sendo encaminhados para testagem e afastados por 10 dias. Já os que tiveram contato com pessoas suspeitas e ainda não apresentam sintomas, é orientado o afastamento por 14 dias”.

Edição: Vitor Fernandes
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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