Cruzeiro repudia cantos homofóbicos dos próprios torcedores em jogo contra o Grêmio: ‘Nunca mais’

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Torcedores cruzeirenses voltaram a entoar cantos homofóbicos (Reprodução/@cruzeiro/Twitter)

Por meio dos perfis que mantém em redes sociais, o Cruzeiro condenou os cantos homofóbicos entoados pela própria torcida durante o jogo de ontem contra o Grêmio no Independência. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) recomenda que as autoridades da partida relatem quaisquer tipos de “injúria em decorrência de orientação sexual por torcedores ou partícipes das competições”. Contudo, nada foi registrado na súmula da partida. Se denunciado, o clube pode ser punido. O BHAZ entrou em contato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) questionando o motivo dos cantos não aparecerem na súmula. Assim que for enviada uma resposta, a matéria será atualizada.

“Arerê, gaúcho dá o c* e fala tchê”, foi um dos cantos mais ouvidos durante a partida. O jogo foi válido pela 6ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. O canto foi ecoado por volta dos 30 min do primeiro tempo e dos 13 min da segunda etapa.

Pelas redes sociais, o clube celeste disse que tem “a torcida mais incrível” e não precisa de cantos homofóbicos para “demonstrar isso”. “O Cruzeiro reitera o pedido para que qualquer canto nesse sentido nunca mais esteja em nossos ou quaisquer outros jogos”, escreveu o time azul pelo Twitter.

“O tradicional e lamentável cântico homofóbico contra gaúchos ecoando forte no Independência através da torcida do Cruzeiro”, disse a publicação de uma torcida do Grêmio. Eles ainda pediram que “o jurídico do clube atue tomando as devidas providências na sua esfera”.

Súmula não registra cantos

Pela súmula oficial da partida, o árbitro Flavio Rodrigues de Souza (Fifa) não registrou nada sobre os cantos homofóbicos. O profissional apenas citou dois copos de cerveja arremessados pela torcida por torcedores após o gol contra de Rodrigo Ferreira, aos 27 minutos do primeiro tempo.

“Cumpro informar que, aos 27 minutos do primeiro tempo, após a marcação do gol da equipe do Cruzeiro SAF, foi arremessado dois copos de cervejas dentro do campo de jogo, um no meio de campo próximo onde se encontrava o banco de reservas da equipe do Grêmio e outro atrás do gol da equipe visitante próximo aos fotógrafos. Informo ainda que ambos vieram de onde se encontrava a torcida do Cruzeiro SAF”, diz a súmula.

O BHAZ entrou em contato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) questionando o motivo dos cantos não aparecerem na súmula. Assim que órgão enviar uma resposta, a matéria será atualizada.

Não foi a primeira vez…

Os cantos homofóbicos estão enraizados no futebol brasileiro. O BHAZ fez uma série de reportagens, em 2019, denunciando a prática. Tanto Cruzeiro quanto Atlético já entoaram músicas preconceituosas em relação à orientação sexual. No fim de 2019, o time alvinegro e outros sete foram acionados no STJD por conta das canções com teor homofóbico.

No dia 8 de setembro de 2019, o Cruzeiro também entoou o mesmo canto homofóbico, também contra o Grêmio, durante uma derrota para o time gaúcho. Na época, os dois clubes estavam na Série A. A ofensa, direcionada aos torcedores gremistas, surgiu no segundo tempo da partida. A infração ocorreu após a torcida celeste ter entoado um canto homofóbico no jogo contra o Vasco, poucos dias antes, e depois de um casal homossexual ser ameaçado em consequência de uma foto dos dois abraçados dentro do Mineirão viralizar.

“Cachorrada filha da p***, chupa r*** e dá o c*! Ei, Galo, vai tomar no c*”. Foi o que a torcida do Cruzeiro cantou no fim do primeiro jogo no Mineirão após determinação do STJD para punir atitudes homofóbicas no estádio, no dia 1º de setembro de 2019. Na ocasião, o time celeste venceu o Vasco por 1 a 0. O clube azul não sofreu nenhuma punição. Relembre o vídeo:

O que diz o STJD

A recomendação do STJD é que “os árbitros, auxiliares e delegados das partidas relatem na súmula e/ou documentos oficiais dos jogos a ocorrência de manifestações preconceituosas e de injúria em decorrência de orientação sexual por torcedores ou partícipes das competições, devendo os oficiais das partidas serem orientados da presente recomendação, bem como, cumpram todas as determinações regulamentares aplicáveis em vigor”.

Vale lembrar que orientação do STJD ocorreu após o STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizar a homofobia em junho. Portanto, gritos homofóbicos podem não apenas prejudicar o clube – até com perda de ponto -, como, principalmente, é crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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