Cruzeiro será julgado e pode perder torcida em jogos após episódio de racismo contra jogador do Remo

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Jefferson Victor, atacante do Remo, foi vítima de racismo por parte de um torcedor do Cruzeiro (Reprodução@ClubeDoRemo/Twitter)

Atualização às 14:42 do dia 18/11/2021 : Esta matéria foi atualizada para incluir novo posicionamento do Cruzeiro, emitido após a publicação da reportagem.

O Cruzeiro vai ser julgado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) na próxima semana e poderá ser punido com multa e jogos de portões fechados, em decorrência do racismo praticado por um torcedor. O caso ocorreu na derrota por 3 a 1 para o Remo no final de outubro.

Na partida, que aconteceu na Arena Independência, quando um torcedor do Cruzeiro disse ao atleta Jefferson: “vai tomar no seu **, macaco”. A possível responsabilização do clube pelo episódio criminoso será na próxima terça-feira (23), a partir das 10h.

Possíveis punições

O clube mineiro será julgado pelo artigo 243-G por ato discriminatório, que dispõe sobre a prática de “ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”.

Segundo o STJD, a pena consiste em suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta – mesmo se suplente -, treinador, médico ou membro da comissão técnica. Mas, como as ofensas partiram de um torcedor, a pena poderá ser a suspensão pelo prazo de 120 a 360 dias.

Essa é a penalidade estipulada para o caso de a ofensa ser praticada por qualquer outra pessoa natural submetida ao Código – como é a situação dos torcedores -, que também determina a aplicação de multa, que pode variar de R$ 100 a R$ 100 mil, ao clube.

Além disso, a Procuradoria solicitou também a suspensão preventiva do Cruzeiro com base no artigo 35 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, para que o time mande seus jogos com portões fechados e não tenha direito a carga de ingressos nos jogos como visitante. O pedido foi encaminhado e será analisado pelo presidente do STJD do Futebol, Otávio Noronha.

Felipe Conceição e Vitor Leque

Na ocasião, também serão julgados o técnico Felipe Conceição, do Remo, e Vitor Leque, do time celeste, após algumas infrações registradas na súmula do jogo. O ex-treinador do Cruzeiro, que foi expulso no intervalo do jogo, proferiu ofensas à arbitragem e precisou ser contido por membros da comissão técnica do time de Belém.

Já o atacante cruzeirense também foi expulso e ofendeu a arbitragem com os dizeres: “Vocês são moleques, vieram aqui para nos prejudicar, seus m*”.

O atacante Vitor Leque durante a partida contra o Remo (Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Cruzeiro reforça posicionamento

Procurado pelo BHAZ, o clube reiterou que “na época do acontecimento, o Cruzeiro já se posicionou sobre o assunto, deixando claro que é contra qualquer ato de racismo” e encaminhou a nota já divulgada em outubro.

Ainda restam duas rodadas para o Cruzeiro nesta temporada, que poderiam ser afetadas pela punição por racismo: o jogo contra o Sampaio Corrêa amanhã (18), no Castelão, e o duelo contra o Náutico em Belo Horizonte, ainda sem data e local definidos.

Nota oficial

Após a publicação desta matéria, em nota divulgada nesta quinta-feira (18), o Cruzeiro alegou que agiu rapidamente logo após o caso e contatou o Clube do Remo para uma ação conjunta, mas não obteve retorno do time paraense. Leia a nota na íntegra:

Nós, do Cruzeiro, temos trabalhado incessantemente para a conscientização contra o racismo e isso fica escancarado em ações e campanhas nos últimos tempos. O simples fato de existir a possibilidade de algo ter sido pronunciado nesse sentido em um jogo com mando nosso fez com que, antes mesmo de sermos demandados e ou termos certeza de qualquer fala, proativamente tratássemos do assunto em nossas redes sociais. Mesmo tendo a segurança de que nada foi dito por qualquer integrante de sua comissão técnica ou diretoria, preferimos agir. Ainda que o áudio não fosse claro e que não houvesse prova inequívoca sobre as palavras proferidas, naquele momento, a dúvida foi o suficiente para que nós, do Cruzeiro, decidíssemos agir.  

Aliás, faríamos novamente, porque não esperamos o racismo escancarado para agir. Uma mísera fagulha de racismo basta para que qualquer um lute contra. Inclusive, mesmo sendo um fato isolado, sem participação do Cruzeiro, vale lembrar, ainda tentamos, em ação prática, identificar com a Arena Independência quem teria agido nesse sentido. 

Mais do que isso, a gestão do Cruzeiro, na figura de seu presidente Sérgio Santos Rodrigues, tão logo tomou conhecimento da situação, fez questão de imediatamente contatar o presidente do Clube do Remo, no sentido de oferecer toda a estrutura possível para que, juntos, déssemos um exemplo de ação contra o racismo. O presidente do clube paraense, no entanto, sequer respondeu ao Cruzeiro, tendo optado por apresentar uma notícia de infração ao STJD, preferindo transformar uma oportunidade de discussão crucial ao desenvolvimento e evolução da nossa sociedade em uma tentativa de prejuízo desportivo a um adversário. Confiamos na Justiça Desportiva e temos convicção de que lá os fatos serão devidamente esclarecidos.

Edição: Giovanna Fávero
Beatriz Kalil Othero[email protected]

Jornalista formada pela UFMG, escreve para o BHAZ desde 2020, e atualmente, é redatora e fotógrafa do Portal. Participou de reportagens premiadas pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.

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