Homofobia não! Em meio a polêmica de Maurício Souza, atletas do vôlei se manifestam contra preconceito

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Carol Gattaz, Fabi e Douglas Souza usaram as redes para lembrar que manifestações como as do Maurício estão longe de ser apenas ‘opinião’ (Reprodução/@carolgattaz + @fabialvim + @douglasouza/Instagram)

O nome do jogador de vôlei Maurício Souza, central do Minas Tênis Clube, movimentou as redes sociais nesta terça-feira (26), depois que patrocinadores do clube cobraram um posicionamento a respeito das recentes falas homofóbicas do atleta. Diversos jogadores se manifestaram contra Maurício, que, conforme anunciado pelo clube nesta noite, será afastado por tempo indeterminado, além de ter que pagar uma multa.

A lista de nomes importantes do vôlei que fizeram questão de repudiar atos homofóbicos inclui Douglas Souza, jogador declaradamente gay e ex-colega de Maurício na seleção brasileira, e Maique Reis, que defende o Minas Tênis Clube ao lado do atleta e também teve o nome envolvido em outra polêmica hoje. Carol Gattaz, capitã do time feminino do Minas, e as ex-jogadoras Fabi Alvim e Vera Mossa também se falaram sobre o assunto.

‘Homofobia não é opinião’

De acordo com o jornalista Demétrio Vecchioli, do Uol, os colegas de clube de Maurício Souza chegaram a fazer uma carta em defesa do atleta quando souberam que a diretoria do Minas Tênis Clube havia decidido pelo afastamento. No texto, os jogadores teriam defendido o direito do colega à “liberdade de expressão” e chegaram ameaçar deixar o clube.

Maique Reis, líbero do Minas, foi um dos mais criticados quando a informação veio a público. Diante da repercussão, ele usou as redes sociais para se defender dos ataques e esclarecer que não assinou a carta.

“Está aqui meu posicionamento, em relação ao clube e nosso companheiro de equipe isso é algo que eles tem que resolver. Não há nada que eu possa fazer. E passar o pano também não vou, porque é algo grave! Homofobia não é opinião”, escreveu.

Ele disse, ainda, que vai continuar “lutando pelos meus direitos e de nossa comunidade e de todo e qualquer tipo de preconceito”. Veja a publicação:

Carol Gattaz puxa coro no vôlei

Além de Maique, diversas estrelas do universo do vôlei também aproveitaram sua visibilidade para se posicionar contra a homofobia. Carol Gattaz, atleta do time feminino do Minas Tênis Clube e medalhista olímpica pela Seleção Brasileira, usou seu Instagram para lembrar que manifestações como as do Maurício estão longe de ser apenas “opinião”.

“Homofobia é crime. Racismo é crime. Respeito é OBRIGATÓRIO. Está na lei, garantido pela Constituição. Já toleramos desrespeito, gracinhas e preconceitos disfarçados de opinião por muito tempo. CHEGA!”, escreveu.

O post foi aplaudido e compartilhado por diversos atletas, inclusive por Vera Mossa, mãe do jogador Bruninho. “Gostaria de acrescentar aos machistas de plantão: somos resistência!!”, complementou Vera. Nas redes, os internautas também ficaram de olho em quem havia curtido a publicação, já que a métrica é comumente utilizada para demonstrar endosso.

Pelo Twitter, a bi-campeã olímpica de vôlei, Fabi Alvim, também fez questão de lembrar que “homofobia é CRIME!”. Veja um pouco da repercussão:

Douglas Souza lamenta: ‘Toda vez a mesma coisa’

O jogador Douglas Souza – que desde o começo da polêmica se posicionou abertamente contra o ex-colega de seleção – também voltou a falar sobre o assunto na noite de hoje. Pelo Twitter, ele lamentou que tudo possa terminar apenas em uma “nota de retratação”, que seria uma das condições para que Maurício Souza permaneça no clube após um período de afastamento.

“O famoso não vai dar em nada né. Toda vez a mesma coisa, cansado disso de sempre ter falas criminosas e no máximo que rola é uma ‘multa’ e uma retratação nas redes sociais. Até quando?”, escreveu.

Douglas voltou a comemorar a cobrança feita por alguns patrocinadores do Minas e lembra que “todos os dias, todas as horas um dos nossos morrem”.

Polêmica viraliza nas redes sociais

Durante a tarde de hoje (26), os nomes do Maurício Souza e do Minas Tênis Clube estiveram entre os assuntos mais comentados do Twitter, assim como o termo “homofobia”. É que para além da manifestação dos colegas de Maurício, centenas de internautas opinaram sobre o afastamento do atleta e, principalmente, sobre seu comportamento homofóbico.

“Infelizmente somente o dinheiro para barrar a homofobia, pois mesmo sendo lei, os homofóbicos continuam atuando”, disse uma pessoa. “Tá lindo de ver as meninas se posicionando contra esse caso de homofobia do Maurício Souza, que teve uma passada de pano quente do próprio clube!”, comentou outra usuária da rede.

Veja um pouco da repercussão:

Maurício Souza afastado e multado

Nesta terça-feira, a diretoria do Minas Tênis Clube decidiu pelo afastamento de Maurício Souza, após os patrocinadores Fiat e Gerdau virem a público cobrar medidas do clube. A reivindicação surgiu após sucessivas publicações de cunho homofóbico feitas pelo central. 

Em um post feito há pouco mais de dez dias, Maurício Souza ironizou o anúncio da DC Comics a respeito da bissexualidade do Super-Homem. Já em outra publicação, o atleta criticou o uso de pronomes neutros em uma nova novela da Globo. “O céu é o limite se deixarmos! Está chegando a hora dos silenciosos gritarem”, disparou.

As publicações, que não foram as primeiras de teor homofóbico feitas pelo central, foram duramente criticadas e renderam uma invertida de Douglas Souza. “Engraçado que eu não ‘virei heterossexual’ vendo os super-heróis homens beijando mulheres… Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade para sua heterossexualidade frágil”, disse.

Conforme anunciado pelo clube por volta das 20h50 desta noite, Maurício foi comunicado do afastamento pelo próprio presidente do Minas, Ricardo Vieira Santiago. O atleta também terá que pagar uma multa e foi orientado a fazer uma retratação pública imediata.

É crime e mata

Vale reforçar que, pela legislação brasileira, falas e atitudes homofóbicas podem ser, além de preconceituosas, criminosas. É que, desde junho de 2019, homofobia e transfobia são crimes previstos por lei – eles se enquadram na lei do racismo, já existente há 30 anos.

Podem ser consideradas criminosas a “prática, indução ou incitação de discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual, assim como a “divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação” e outros crimes mais violentos. 

Esses últimos, inclusive, aumentaram no último ano. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram uma elevação de mais de 20% nos registros em crimes violentos contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e intersexuais. 

Segundo a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve, em 2020, um crescimento de 20,9% nas lesões corporais dolosas, de 20,5% nos estupros e de 24,7% nos homicídios dolosos de pessoas LGBTQIA+.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.
Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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