Um torcedor do América foi preso em flagrante após proferir ofensas racistas contra um segurança do Estádio Independência durante o jogo dessa quinta-feira (8), contra o Ceará. Segundo o boletim de ocorrência, o homem repetiu frases como “macaco, macaco, macaco fedido” e “macaco, safado”. O caso foi enquadrado como injúria racial e o suspeito responderá pelo crime.
O América emitiu uma nota de repúdio sobre o caso um dia após o jogo (9). De acordo com o texto, o clube espera que “punições exemplares sejam aplicadas por parte dos órgãos competentes” caso o crime seja comprovado.
‘Macaco’
Conforme relatado pela vítima no boletim de ocorrência, a abordagem violenta ocorreu quando o segurança estava fazendo uma ronda pelo corredor do estádio durante o jogo. Quando o segurança se aproximou do torcedor do América, o homem teria lhe dito “macaco, macaco, macaco fedido” e “macaco, safado”.
Com isso, a vítima disse que saiu do local de forma imediata para comunicar o ocorrido à coordenadora. Porém, quando eles retornaram, o homem já havia saído. Após uma busca no estádio, o suspeito foi encontrado próximo a um banheiro. Nesse momento, ele fez gestos imitando um macaco em direção ao segurança.
Após mais essa manifestação de cunho racista, o segurança e a equipe do estádio detiveram o homem até a chegada da polícia. Assim, a vítima e o autor foram levados à delegacia para o registro do B.O.
Outro caso recente
Segundo o mesmo boletim de ocorrência, o torcedor já esteve envolvido em outro caso de racismo no Independência ao final de abril deste ano, no dia do jogo contra o Athletico-PR. Na época, após ser impedido de entrar com uma garrafa de metal no estádio, o homem disse frases racistas ao segurança, como “macaco, odeio essa raça”, “seu filho da p***” e “passa fome assalariado”.
O acusado
Na versão do acusado, no jogo contra o Ceará, ele recebeu um “olhar intimidador” do segurança e respondeu com: “o que você está me olhando?”. Sobre o caso do duelo contra o Athletico-PR, o homem alegou que foi abordado pelo segurança porque estava no alambrado próximo ao campo com seu neto de 2 anos no colo.
Em seu depoimento, o torcedor afirmou que teve o braço segurado com força pelo segurança, além de um dedo da mão direita quebrado pelo homem.
Torcida do América
Diversos grupos, entre torcidas organizadas, coletivos de torcedores, influenciadores e demais torcedores antirracistas se posicionaram sobre o caso em carta aberta. “Exigimos que o clube adote estratégias para coibir atos como este – que vão além de posts em efemérides – que acompanhe as denúncias, e sobretudo, ampare suas vítimas”, diz trecho do texto.
“Também cobramos que o América Futebol Clube garanta total amparo às vítimas de ontem, garantindo seu anonimato, sua integridade física e emocional, e principalmente, sua estabilidade profissional”, defendeu a torcida. Leia a carta completa abaixo, assinada por grupos como Resistência Americana Antifacista, Coletivo Fora da Toca, Barra UNA e Seita Verde:
América emite nota
Em comunicado oficial, o América repudiou o caso e afirmou que apura o ocorrido “para tomar as medidas cabíveis e coibir atos discriminatórios”. Segundo o clube, o suspeito não é sócio do Coelho, e se fosse, estaria suspenso durante a investigação. Além disso, o América estuda “formas de orientar e apoiar os colaboradores, prestadores de serviços e torcedores de como denunciar esses crimes”. Leia a nota na íntegra:
O América Futebol Clube repudia qualquer ato de racismo ou injúria racial. Diante da denúncia de injúria racial ocorrida contra um profissional da área de segurança, no jogo contra o Ceará, na Arena Independência, o Clube vem apurando a situação desde que tomou conhecimento dos os fatos para tomar as medidas cabíveis e coibir atos discriminatórios e preservar a quem teria sofrido a injúria racial.
O Clube esclarece que o suspeito não faz parte do Programa Onda Verde. Se fosse, seria suspenso até o término do processo. Apesar dos trâmites legais, o América espera que, comprovada a injúria racial, punições exemplares sejam aplicadas por parte dos órgãos competentes. O Clube entende que a sensação de impunidade prejudica em muito as ações de combate ao racismo e demais preconceitos.
O América acrescenta que o posicionamento e combate a qualquer tipo de preconceito deve ir muito além do ambiente virtual. Por isso, o Clube está estudando formas de orientar e apoiar os colaboradores, prestadores de serviço e torcedores de como denunciar esses crimes e situações que, infelizmente, têm acontecido com frequência no futebol e no mundo.
Racismo é crime
De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.
A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.
Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la.