Meios-irmãos têm dois filhos e querem mudar lei espanhola para se casar

Casal de meios-irmãos
Ana e Daniel Parra se conheceram aos 20 e 17 anos, respectivamente (Reprodução/anaparra_bcn/Instagram)

Um casal de meios-irmãos por parte de pai está reivindicando uma mudança nas leis da Espanha para poder se casar no papel. Ana e Daniel Parra, que se conheceram aos 20 e 17 anos, respectivamente, moram juntos em Barcelona e têm dois filhos.

Ao jornal El Español, Ana explicou que foi abandonada pelo pai na infância, mas sempre soube que tinha um “irmão perdido”. Ao completar 20 anos, ela decidiu buscá-lo no Facebook, criando um perfil anônimo para entrar em contato com Daniel.

À época, o rapaz tinha 17 anos e morava com o pai. Os meios-irmãos começaram a conversar, Ana revelou sua identidade, e os dois decidiram se encontrar ao descobrirem que moravam na mesma região. “Tentamos manter uma relação de irmãos, mas foi difícil. Tínhamos uma relação de amigos”, explica Daniel.

O casal de meios-irmãos conta que a rotina de convivência foi aproximando os dois, e que “não existia um sentimento fraternal”. Ana chegou a conhecer o próprio pai, que é pai de Daniel, e sentiu que a experiência foi “uma oportunidade de tirar o peso de cima” do rapaz.

Relacionamento e filhos

Não demorou até que Ana e Daniel começassem a se relacionar romanticamente. “Nós nos gostávamos, estávamos bem juntos, mas como somos irmãos, não podíamos fazer nada”, desabafa a mulher. Mesmo escondendo o relacionamento, vizinhos começaram a notar o comportamento dos dois.

Quando eles viajaram a Londres, decidiram se portar como um casal, e ao voltar compartilharam a notícia de que estavam juntos de um jeito inusitado: em um programa de televisão. “Não queríamos contar nossa história um por um, então decidimos fazer desse jeito”, explica Ana.

Antes de terem filhos, os meios-irmãos consultaram um ginecologista sobre as chances de que as crianças nascessem com alguma deficiência. “Disseram que, no nosso caso, o risco de que nascessem com alguma doença recessiva era 4% maior do que para um casal que não compartilha genes”, conta a mulher.

O casal de meios-irmãos fez um estudo genético que atestou que eles não compartilhavam doenças recessivas, e então Ana engravidou. Os dois são pais de duas crianças e aparecem como genitores nas certidões, já que uma lei de 2012 permite o reconhecimento de filhos frutos de relações incestuosas.

Casal
Daniel e Ana querem se casar oficialmente (Reprodução/Instagram)

Mudança na lei

Hoje, Ana e Daniel Parra reivindicam uma mudança na legislação espanhola para que possam se casar oficialmente. De acordo com o jornal El Español, o Código Civil do país proíbe o matrimônio entre parentes diretos, apesar de o incesto não ser considerado crime desde 1978.

“Na Suécia, por exemplo, poderíamos nos casar. Falamos com uma advogada, que disse que isso não seria tão difícil, mas exigiria muito tempo e dinheiro”, conta Ana. Para se casar na Espanha, a mulher precisaria renunciar ao próprio pai e ser adotada por alguém, “mas sendo maior de idade, é muito complicado”.

“A sociedade deve avançar e não ficar presa em tradicionalismos. Os homossexuais também não podiam se casar, e agora podem. Nós nos amamos, e isso é o que deveria prevalecer. Não prejudicamos ninguém”, finaliza.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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