Belo Horizonte completa nesta sexta-feira 120 dias consecutivos sem chuva, é o recorde para o século 21, segundo levantamento feito pelo BHAZ e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os dados do Inmet mostram que o período sem chuva em 2024 é o maior intervalo de Belo Horizonte pelo menos desde o ano 2000. A última chuva significativa na capital mineira (acima de 1 milímetro) foi em 18 de abril.
O levantamento mostra que em 2003, 2010, 2017 e 2019 BH permaneceu por intervalos de mais de 100 dias sem chuva. Antes, o maior período havia sido em 2019, com 113 dias sem volumes significativos de chuva na capital mineira.
Na primeira semana de agosto, moradores de BH registraram chuviscos por dois dias seguidos em alguns bairros da cidade, mas volumes considerados insuficientes para as estatísticas climatológicas. Em outros termos, foi chuva suficiente para molhar o asfalto e secar minutos depois.
Segundo a meteorologista do Inmet, Anete Fernandes, não há previsão de chuva para os próximos dias em BH, e o recorde de tempo seco deve, com isso, se estender. “Estamos no auge da estação seca, nesta época do ano, as chuvas ocorrem somente com o avanço de frentes frias, o que não tem ocorrido desde o outono”, explica. A meteorologista ainda reforça que “o tempo seco de agora é característico do nosso inverno”.
O coordenador geral de Operações e Modelagem do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), Marcelo Seluch, afirma que o recorde está ligado ao encerramento precoce do último período chuvoso. Segundo ele, por padrão, as chuvas vão enfraquecendo gradativamente em abril e o primeiro mês da estação seca normalmente é maio.
E, apesar de se ter um recorde, o que se percebe nas últimas décadas é que a chuva na região Central do Brasil está diminuindo. “A chuva anual acumulada na região Central, incluindo Minas Gerais, está diminuindo e a duração da estação chuvosa está ficando mais curta no Sul. Nós perdemos quase um mês de estação chuvosa nos últimos 40 anos”, afirma Seluch, ressaltando que episódios de chuva extrema estão ficando mais recorrentes dentro do período chuvoso.
Sobre os 120 dias sem chuvas, ele diz que os modelos de anos atrás previam impacto na região Central do Brasil e acrescenta que a mudança no uso do solo é outro fator que contribui para este cenário. “A umidade que provoca chuva em Minas Gerais vem em grande parte da Amazônia, então, se você fica desmatando a Amazônia, você diminui uma fonte de umidade importante que a floresta emite.
O climatologista Marcel Ligabô, por sua vez, ressalta a importância a necessidade de se analisar períodos mais prolongados e considerada o intervalo sem chuva uma “variabilidade natural do clima”. “Durante o século 21 terão outros [intervalos de seca], até mais fortes, ou não, só terão mais fortes daqui 100, 200 anos. Essa variação temporal do clima é normal, existem vários ciclos na natureza, vários comportamentos cíclicos, e às vezes para o ser humano é uma longa data, mas para a natureza não é, então são diversos tipos de ciclos que atuam numa região”, afirma, alertando para possibilidade de chuvas fortes em janeiro e fevereiro em Minas Gerais.
Mas o que estaria causando este período prolongado sem chuva. “Minas Gerais está passando por uma seca por causa da transição do El Niño para o La Niña que tivemos meses atrás, tanto que pela zona de convergência intertropical que está deslocada mais ao Norte neste período, levando inclusive furacões para a América do Norte. À medida que essa área de convergência tropical se deslocar mais ao Sul, vai trazer mais umidade para o hemisfério”, afirma Ligabô.
