Jovem mineira tem perna amputada 5 anos após pisar em espinhos e faz vaquinha para prótese

Gabriela Mello Mendes
Hoje, Gabriela anda de muletas e arrecada dinheiro para comprar uma prótese (Arquivo pessoal)

Faltava um dia para Gabriela Mello Mendes comemorar o aniversário de 25 anos em um sítio com amigos. O sonho, no entanto, se transformou em pesadelo, e, cinco anos depois, após repetidas internações e uma experiência de ‘quase morte’, a jovem mostra força e resiliência com uma atitude que a faz sonhar cada vez mais. Hoje, ela faz uma vaquinha para ajudar na compra da prótese e para pagar a fisioterapia.

Desde aquele ano, a administradora de empresas de Ubá, na Zona da Mata, combateu contaminações bacterianas, problemas no coração e infecções nos ossos, além de passar por uma experiência de “quase-morte” e longas internações na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Tudo isso após ter pisado em um espinho.

Como tudo começou

Em 3 de dezembro de 2017, Gabriella Mendes pisou em espinhos em um sítio onde comemoraria o próprio aniversário de 25 anos no dia seguinte. Já no dia 4, começou a sentir um mal-estar e percebeu que o joelho esquerdo estava inchado.

“Procurei um ortopedista, porque como eu jogava bola na época, pensei que pudesse ser por causa disso. Ele fez um raio X, mas não deu nada. Na mesma semana, tive dores nas articulações e fui a um reumatologista, para ver se tinha uma fibromialgia, ou algo do tipo”, conta ela ao BHAZ.

“Como essas doenças não são detectadas por exames de sangue, ele me deu uma injeção bem forte, daquelas que jogadores tomam quando estão lesionados. O exame de sangue deu indicativo de infecção, ele me disse que devia ser por causa dos espinhos e me liberou para continuar a vida normalmente”, completa.

Na semana seguinte, Gabriela começou a ter dores de cabeça muito fortes, além de febre alta. Ela chegou a fazer exames para saber se tinha chikungunya, febre amarela, hepatite, entre outras doenças, mas o diagnóstico ainda era desconhecido. Já no dia 3 de janeiro, um mês após pisar nos espinhos, ela foi internada.

Mais de um mês no hospital

Em um hospital de Ubá, ela passou por vários exames mais detalhados, cujos resultados demoram para sair. A resposta veio depois de uma ecocardiografia transesofágica, que detectou uma vegetação – um aglomerado de bactérias – em uma válvula aórtica: o diagnóstico era uma endocardite, ou uma inflamação no revestimento interno do coração.

Já no dia 8 de janeiro de 2018, ela começou a tratar o quadro. “O protocolo era ficar de 6 a 8 semanas tomando vários antibióticos pela veia, então tive que ficar no hospital. Comecei a ter uma melhora, mas acabei piorando. Senti muita falta de ar, achei que era uma crise de pânico, mas não passava”, relata Gabriela.

A mineira foi levada à UTI no dia 23 de janeiro, onde recebeu oxigênio, enquanto a família e os amigos ficavam cada vez mais preocupados. Ela deixou a unidade no dia seguinte e, na noite do dia 26, foi transferida para um hospital de Juiz de Fora com melhor estrutura.

“No dia 27, só me lembro de almoçar e nada mais. Me intubaram, e no dia seguinte passei por uma cirurgia às pressas no coração. Nesse meio tempo, minha perna começou a escurecer, e viram que um pedaço da vegetação tinha deslocado para a perna, impedido a circulação”, explica.

No início de fevereiro, Gabriela Mendes passou por mais uma cirurgia, desta vez para retirar as bactérias da perna, sendo que as pontas dos dedos e o calcâneo haviam necrosado. Já no dia 16, ela deixou a UTI, e recebeu alta do hospital em 28 de março, pesando apenas 40 kg e precisando de fisioterapia para voltar a andar.

Infecção no osso e amputação

A jovem seguiu em acompanhamento semanal, depois quinzenal, e fez a primeira cirurgia para retirada da necrose em 28 de abril. “Desde então, os dedos cicatrizaram, mas o calcâneo não. Passei cinco anos fazendo curativos. Eu já tinha vontade de amputar a perna, porque andava mancando, machucava as pontas dos dedos… Já estava me enchendo o saco”, desabafa ela, brincando.

A ferida aberta no calcanhar acabou gerando uma osteomielite, uma infecção no osso. Como ela já havia tido a endocardite, não poderiam ter outro tipo de infecção, por risco de ter a doença mais uma vez. A solução, portanto, era a amputação.

No dia 13 de setembro, ela ainda passou por uma nova cirurgia, já que a perna não poderia ser amputada antes que se soubesse até onde a ostomielite havia chegado. Os médicos constataram que o pé dela já estava todo contaminado, e a infecção já estava subindo para a perna.

“Quando abri o olho da anestesia depois dessa cirurgia, perguntei para a médica, ‘e aí, vai realizar meu sonho?'”, brinca Gabriela, que já estava ansiosa para não precisar mais lidar com os problemas da perna esquerda.

A amputação foi realizada já no dia seguinte. “Claro que tem as dores da amputação, mas eu curti cada processo, porque era uma coisa que eu queria. Sabendo que vou estar andando no meu aniversário deste ano, me sinto extraordinária”, comemora.

Vaquinha e rifas para a prótese

Hoje, Gabriela anda de muletas, mas está arrecadando dinheiro para comprar uma prótese e para arcar com os custos da fisioterapia e de todos os tratamentos.

Quem quiser ajudar pode contribuir na vaquinha online, neste link, ou comprar rifas para um sofá que será sorteado. É só entrar em contato com a Gabriela pelo Instagram, por aqui. Ela também aceita contribuições pelo Pix: 10895300729 (CPF).

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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