Mapa do Medo: Saiba tudo e veja onde estão as barragens de ‘método assassino’ em Minas

Reprodução/Google Maps + Amanda Dias/BHAZ

Dois crimes ambientais com centenas de mortes e danos incalculáveis, a iminência de novos rompimentos e um Estado com medo. Minas experimentou o pesadelo em 2015, quando uma estrutura da Samarco rompeu-se, e mergulhou nesse tormento em janeiro deste ano, quando uma barragem da Vale ruiu e tantas outras tiveram a fragilidade e instabilidade, enfim, reveladas.

Para se ter ideia, segundo informação oficial da própria mineradora, quatro barragens podem se romper a qualquer momento. Além disso, o Estado possui 50 estruturas construídas com um método ultrapassado, considerado assassino por especialistas e autoridades, e que causou a morte de centenas em Mariana e Brumadinho.

Esse tipo de método, aliás, chamado oficialmente como a montante, está com os dias contados. Após a segunda tragédia recente, em Brumadinho, a administração estadual deu até 2021 para que essas estruturas sejam extintas – ou descomissionadas, conforme o termo técnico.

Mas existem quantos métodos para a construção de barragens? Além do considerado assassino, quais são os outros? E mais: onde estão essas barragens cujas estruturas são consideradas mais frágeis e, consequentemente, mais perigosas?

Baseado em informações oficiais de fundador de centro de pesquisa sobre o tema, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e da Agência Nacional de Mineração (ANM), o BHAZ explica, com ilustrações, a diferença das estruturas e revela onde estão as barragens a montante no nosso Estado.

Mapa do Medo

O mapa interativo possibilita que os leitores naveguem pela região das barragens e confira informações sobre as estruturas, como a altura, o volume de rejeitos e a empresa responsável.

Além disso, consta no mapa as barragens que estão nos níveis um, que indica problemas na estrutura (representado pelo ícone amarelo); dois, quando os primeiros problemas não foram solucionados (ícone laranja); ou três, o grau de rompimento (ícone vermelho).

Veja:

Tipos de barragem

O professor Carlos Barreira Martinez, fundador do centro de pesquisas hidráulicas da UFMG, explica como funcionam os métodos de barragens. Segundo o especialista, a construção a montante, a mesma de Mariana e Brumadinho, são as preferidas das mineradoras no Brasil por questão de custo, apesar do perigo.

A montante

“O modelo a montante é o método que faz com que a barragem cresça sobre o rejeito da mineração. Eles constroem um dique inicial, despejam o material e seguem a construção da estrutura como se fosse um paredão inclinado com material compactado ou adensado”, explica o professor.

Segundo Martinez, o método pode ser até seis vezes mais barato. “Usam a construção a montante por ser mais barato do que o método de linha de centro e muito mais barato que a construção a jusante. Entretanto, como tudo na vida, o que é mais barato não tem como ser melhor”, conta.

Modelo a montante é o mais barato e inseguro (Arte BHAZ)

Linha de centro

“O método de linha de centro é o processo em que, a partir do dique inicial, a barragem é estruturada, literalmente, seguindo uma linha central. É um modelo intermediário, mas é mais seguro de que a montante”, explica Barreira.

A estrutura em linha de centro é considerada intermediária (Arte BHAZ)

Jusante

“O método a jusante é um dos mais caros. Neste caso, a barragem é feita de cima para baixo sobre ela mesma e garante uma maior estabilidade dos rejeitos”, ressalta.

Método a jusante é o mais seguro e também o mais caro (Arte BHAZ)

Colapso

Área devastada pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (Bárbara Ferreira/BHAZ)

Conforme explica o professor, o colapso das barragens a montante é causado pela liquefação, que é a infiltração de água na estrutura.

“A liquefação é mais crítica em barragens com método de montante, pois a estrutura é feita sobre o material de rejeito, que é formado por água, areia, argila, minério etc. Uma mistura de materiais jogado dentro da estrutura por meio de bombeamento”, diz.

“Com o tempo, esse rejeito vai secando e fica sólido e, com isso, as mineradoras assentam a barragem em cima desse material seco. Entretanto, se sobrar água, essa estrutura se comporta de maneira instável. É a mesma coisa de levantar o muro em uma areia movediça, o muro cai”, conclui.

A incerteza do amanhã

Com a elevação dos níveis de barragens em Minas, centenas de moradores vivem incertezas em diversas cidades mineiras. Ao todo, mais de 1,2 mil pessoas no Estado tiveram que deixar suas residências às pressas depois de sirenes tocarem alertando sobre risco de rompimento de barragens de mineração.

Este é o caso da moradora de Macacos, em Nova Lima, na região metropolitana da capital, Tatiana Silva Mota, de 28 anos. Ela teve de deixar a casa onde mora após a barragem B3/B4, da Vale, entrar em nível três, quado o rompimento é iminente.

“Eu, meu marido e meus dois cachorros tivemos que vir para uma pousada. É uma situação muito ruim, pois fomos pegos de surpresa. Eu não consigo criar uma rotina, minha vida tem sido cheia de incertezas. Estou vivendo sob demandas, perdi minha liberdade e não sei sobre o dia de amanhã, é muita insegurança, estresse e medo. Isso é péssimo para saúde mental”, conta Tatiana.

Ela conta que sente saudade da casa onde morava, mas não quer voltar, enquanto se sentir insegura. “Quero voltar para casa com a certeza de que a Vale vai acabar com todas as barragens e garantir que teremos segurança e que não haverá nenhuma bomba relógio prestes a explodir em nossas cabeças”, diz.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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