O retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos tem causado preocupação entre os imigrantes, principalmente naqueles que vivem irregularmente no país. Uma mineira que mora em terras americanas há 20 anos relata que, hoje, a comunidade brasileira vive assombrada pelo receio da deportação.
“Hoje vivemos à base do medo”, relata a mulher que trocou Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, pelo estado de Massachusetts, em 2005.
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O cenário se desenvolve em função de medidas anunciadas pelo político republicano no sentido de endurecer as regras de entrada e permanência no país. Após tomar posse no dia 20 de janeiro, Trump determinou que o ICE (Departamento de Imigração e Alfândega) realize blitzes pelo país no intuito de localizar criminosos foragidos da Justiça. Mas segundo relatos de estrangeiros, os agentes também estão pegando e deportando os irregulares parados nas buscas. Na última semana, o BHAZ mostrou que centros religiosos e mercados tradicionalmente frequentados por brasileiros têm ficado às moscas.
“Os irmãos não estão indo à igreja porque Trump autorizou a polícia a entrar nas igrejas. Eles podem entrar na igreja para pegar a pessoa lá dentro e a gente não pode fazer nada. Se tiverem pessoas ao lado, eles podem pedir a identificação e, se estiver devendo algum documento, você pode ser pego e levado. É um risco grande”, relata.
Em duas décadas, a brasileira se casou e teve duas filhas nos Estados Unidos. Ela e o marido, no entanto, ainda não têm autorização do governo para viver no país.
“Meu pensamento não é financeiro porque nesse tempo que ficamos aqui deu para juntar um dinheiro. Meu pensamento é nas minhas filhas, que são cidadãs americanas. Elas nasceram aqui, têm a escola e voltar para o Brasil seria uma adaptação difícil”, fala sobre o risco de retorno.
Desafios da entrada
A brasileira ainda tem fresca na memória as lembranças de quando decidiu se mudar. O histórico de pobreza a motivou a buscar oportunidades melhores nos Estados Unidos. Ela perdeu o pai aos 13 anos e começou a trabalhar em um lixão para ajudar a família. Exerceu a atividade até os 18 anos, quando conseguiu o primeiro trabalho de carteira assinada em uma lanchonete. Cerca de um ano depois, mudou-se com uma irmã.
“Eu entrei pela fronteira, com a ajuda de coiotes. Foram 10 dias até cruzar a fronteira e chegar na cidade, que é onde eu moro até hoje”, relembra.
Depois disso, ela conseguiu emprego em diferentes áreas que aceitavam o estrangeiro não regularizado. Trabalhou com faxina, lavagem de pratos e em uma fábrica. Depois de um ano e dois meses, ainda sem ter pago o coiote, acabou presa durante uma mega fiscalização do departamento de migração.
“Eu custei a tirar esse trauma da mente”, comenta. Na época, um homem desconhecido pagou a fiança dela e de outros estrangeiros detidos. “Dizem que ele é um milionário rico de Nova Iorque. Ele pagou o valor integral de várias pessoas e a gente precisou ressarci-lo somente metade, de acordo com as condições que tínhamos de pagar”, comenta.
A ameaça de deportação reviveu na brasileira o medo de prisão ou de deportação. Mesmo assim, ela garante que ainda não quer voltar ao Brasil.
“Nem eu e nem meu marido queremos voltar por livre espontânea vontade. Minha filha vai fazer 16 anos, quer entrar na faculdade, e temos planos aqui. A América ficou muito agitada com tudo isso que está acontecendo”, conclui.
Apesar do medo crescente atualmente, a brasileira afirma que viu o filme se repetir nas gestões anteriores. Neste período, ela presenciou o final do Governo Bush, a gestão Obama e o primeiro mandato de Trump.
Deportações
O Brasil deve receber, nesta sexta-feira (07), o segundo voo de deportados desde a posse de Donaldo Trump. A aeronave vai chegar pelo Recife, em função de alinhamento feito entre o Governo Federal e a gestão americana.
No último dia 25 de janeiro, o país recebeu a primeira aeronave do Governo de Donald Trump. Passageiros denunciaram ter sido obrigados a usar algemas e correntes nas pernas. Alguns ainda citaram tratamento degradante, como falta de alimentação adequada e agressões.
A situação motivou reações de políticos e entidades brasileiras contra o Governo dos Estados Unidos.
Após os episódios, o Governo Lula começou a estudar a instalação de um posto de ajuda humanitária no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Grande BH, para onde os primeiros deportados foram levados.