Nova Bento Rodrigues não tem casas prontas para metade dos atingidos: ‘Cidade cenográfica’, critica morador

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Projeto da nova Bento Rodrigues é alvo de críticas por parte de moradores (Reprodução/Fundação Renova)

Com atraso de mais de três anos e meio em relação à previsão inicial da entrega das obras do novo distrito de Bento Rodrigues, a Fundação Renova organizou uma cerimônia para apresentar o vilarejo, mas mais da metade das casas não está sequer pronta. Oito das residências não tiveram nem as obras iniciadas pela organização criada para reparar os danos provocados pelo rompimento da barragem da Samarco, mineradora formada pelas gigantes Vale e BHP Billiton.

Inicialmente, as obras de construção do novo distrito de Bento Rodrigues estavam previstas para serem concluídas em março de 2019. A pedido da Fundação Renova a entrega foi adiada para agosto de 2020, depois para fevereiro de 2021. Agora, a previsão é que os primeiros moradores se mudem para o vilarejo só nos primeiros meses de 2023. Ou seja, mais de sete anos após o desastre que vitimou 19 pessoas, o projeto não saiu totalmente do papel.

Detalhe: mais de cinco dezenas de pessoas atingidas, que deveriam ser alocadas no novo distrito, morreram antes mesmo do projeto ser finalizado.

“A suspeita de que famílias estão sendo levadas a viver num canteiro de obras tem ganhado cada vez mais corpo entre as pessoas da comunidade”, afirma a Cáritas, entidade ligada à Igreja Católica que auxilia os atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana.

A organização acusa a Renova de investir pesado na visibilidade do reassentamento, mas de ignorar outras demandas, como a garantia de água bruta para cuidar de plantação e criação nos assentamentos. E ainda diz que o descumprimento de prazos “gera incertezas nas pessoas atingidas”.

Cidade cenográfica

Em conversa com o BHAZ, o Sr. Mauro Marcos da Silva, ex-morador de Bento Rodrigues, descreveu a “Nova Bento Rodrigues” como uma cidade cenográfica.

“Ali não tem terra para a agricultura, não tem condições para as pessoas viverem da terra. Em Bento, a gente tinha um modo de vida, que não pode ser reproduzido lá. Eles culpam os atingidos, dizendo que a gente participou de tudo, mas a gente só participou das escolhas que eles ofereciam”, afirmou Marcos.

O ex-morador de Bento admite que as casas oferecidas são bonitas, mas sustenta que as estruturas oferecidas não substituem o modo de vida que os moradores tinham na localidade atingida.

Pedro Munhoz[email protected]

Editor de Política do BHAZ. Graduado em Direito pela Faculdade Milton Campos e em História pela UFMG, trabalhou como articulista de política no BHAZ entre 2012 e 2013. Atuou como assessor parlamentar desde 2016, com passagens pela Câmara dos Deputados, Câmara Municipal de Belo Horizonte e Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Pedro Rocha Franco[email protected]

Pedro Rocha Franco é jornalista desde 2007 e estudante de ciências sociais. Foi repórter do jornal Estado de Minas, editor do portal O Tempo e head de digital da Itatiaia. Hoje é gerente executivo do BHAZ. Além disso, colaborou com UOL e Repórter Brasil.

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