Professor mineiro é preso por engano no lugar de suspeito de tráfico: ‘Tenho muitos pesadelos’

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O professor Pedro Henrique de Castro Borges foi preso por tráfico na última quinta-feira (21), em João Pinheiro, após um engano (Arquivo pessoal)

O professor universitário Pedro Henrique de Castro Borges viveu um verdadeiro pesadelo ao ser preso na última quinta-feira (21), em João Pinheiro, no Noroeste de Minas, após um engano. Ele foi detido por tráfico de drogas no lugar de um homem com mandado de prisão em aberto em Aparecida de Goiânia (GO).

Ao BHAZ, o docente disse que estava chegando na universidade na última quinta-feira (21) quando foi abordado por dois homens, que não se identificaram. Segundo Pedro, eles diziam que ele estava “encrencado” e mostraram o documento do homem com os dados do professor, mas com uma foto diferente da dele.

“Eu fiquei assustado, logo soube que estavam me confundindo com alguém. Um veio por trás, me imobilizou com um mata-leão e eu comecei a me debater com as pernas. Eles apontaram a arma na minha cabeça e falaram que era uma coisa séria”, relembra ele.

Uma viatura da Polícia Militar chegou no local e ele foi algemado e colocado no camburão. Pedro foi levado até o quartel e, no caminho, tentava esclarecer que tudo não passava de um engano. O professor lembra que já registrou boletins de ocorrência após ser vítima de estelionato de pessoas que se passaram por ele em outra ocasião.

“Uma vez abriram uma conta no meu banco e me negativaram por conta de clonagem de documentos, expliquei que já tinha feito boletins anos atrás. Nesse momento imaginei que também era alguém se passando por mim”, explica.

Ambiente insalubre

Ao chegar no local, Pedro logo contatou a família e pediu ajuda para esclarecer a situação. Ele depois foi conduzido para a delegacia de Paracatu e também passou por exames médicos por conta da forma como foi abordado pelos policiais.

O professor disse que comunicou a situação a amigos dele que são policiais para tentarem ajudá-lo. Até que o engano fosse desfeito, Pedro passou quatro dias na prisão e chegou a dividir cela com outros detentos.

“A prisão é um ambiente insalubre em todos os aspectos: para dormir, tomar banho, comer. Enfim, só quem tá lá mesmo para constatar. Minha relação com os colegas de cela foi tranquila, não tive nenhum problema com eles, mas lógico que os agentes [penitenciários] trataram nós todos com rigor, sem nenhuma distinção”, relembra.

O professor disse que o que mais o deixou preocupado foi não conseguir ter contato com a família. “Fiquei muito angustiado para saber notícias e também não sabia quanto tempo que eu ia ficar lá. Até provar que focinho de porco não é tomada, né? Podia demorar muito tempo”, disse.

Professor tem liberdade concedida

No sábado (23), a juíza Wilsianne Ferreira Novato, do Tribunal de Justiça de Aparecida de Goiânia, determinou a soltura de Pedro. Na decisão, a juíza chega a mencionar o engano.

“Ao que tudo indica, o requerente Pedro Henrique de Castro Borges está detido sem ter cometido a infração penal, na medida em que, nem mesmo, as características físicas do documento de identificação colacionado nos autos principais são colidentes com as do requerente”, diz o documento.

“Poder ver a minha família foi a melhor sensação possível. Foi libertador, de certa forma, porque minha maior angústia era saber como tava minha família”, comentou Pedro.

‘Não consigo dormir’

O professor conta que está afastado do trabalho devido a uma licença psiquiátrica. Por conta do ocorrido, ele não tem conseguido dormir direito.

“Durante o dia, com o apoio da família, a gente consegue viver tranquilo. À noite, acaba que a gente não tem muito controle do que pensa. Tenho tido pesadelos, não teve uma noite que eu consegui dormir inteira. Eu acordo de madrugada assustado, então tenho contado com a ajuda de um psiquiatra”, pontuou.

Pedro diz, ainda, que pretende se mobilizar judicialmente em relação ao caso. Isso não pode passar como se fosse tranquilo. Foi algo muito para mim e precisa ser encarado como algo grave para que outras pessoas também não passem por isso”, finalizou.

O BHAZ procurou o Tribunal de Justiça de Goiás para obter informações sobre o caso e aguarda o retorno.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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