UFMG confirma autoria de imagem sacra ao escultor Aleijadinho

ufmg reconhece escultura aleijadinho
Peça sacra estava em capela de cidade mineira antes de ser enviada à análise de pesquisadores (Ewerton Martins Ribeiro/Divulgação UFMG)

Uma peça sacra do século XVIII foi devolvida a Cipotânea, no interior de Minas Gerais, depois que o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a atribuiu ao escultor Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

A imagem de São Francisco Penitente, um antigo frade italiano, foi encaminhada ao Cecor em 2016 para ser restaurada. Antes disso, estava guardada em uma sala no subsolo de uma capela do município mineiro, onde circulavam rumores sobre sua origem.

Depois de um longo processo de análise, estudiosos conseguiram atribuir a obra a Aleijadinho. “Para fazer uma atribuição, primeiro é necessário estudar tudo que já foi escrito sobre o artista. É o que chamamos de revisão da literatura”, diz Alessandra Rosado, professora e atual diretora do Cecor.

Estudo com base em materiais e técnicas

A educadora explica que é importante observar os detalhes: a forma de fazer o cabelo, a boca, os olhos, a orelha, o nariz e até mesmo a barba. Assim, é possível identificar traços comuns entre o cânone documentado e a obra estudada naquele instante.

Além disso, o processo se ancora em estudos de materiais e técnicas do artista, com base nos produtos e modos de produção da época. Nesse caso, o modo de esculpir, a madeira usada no trabalho e o tipo de tinta. “Exames como a radiografia, por exemplo, permitem examinar a obra em sua estrutura, para que ela possa ser comparada com outras obras documentadas”, afirma.

Os pesquisadores navegaram pelos campos de história, história da arte, iconografia, ciências da conservação, além de critérios de restauração da escultura. A conclusão foi de que Aleijadinho produziu a imagem entre 1790 e 1792, na região onde estava antes do resgate. Documentos mostram que ele viveu em Rio Espera na época, cidade a 13 quilômetros de Cipotânea.

“Também não podemos desconsiderar que, na região, havia fartura de madeira de qualidade para confecção do retábulo, já que, de acordo com os documentos, o trabalho do retábulo de São Francisco de Assis de Ouro Preto teve início em Espera. Há três obras atribuídas a Aleijadinho com origem em Rio Espera: São José de Botas, Bom Jesus da Paciência e Nossa Senhora da Piedade, padroeira local”, diz o relatório.

Pesquisadores estudaram cabeça da escultura

Com uma série histórica e material de fatos, considerou-se o estado de conservação e os resultados das análises científicas. O vice-diretor do Cecor, Cruz Souza, explica que as radiografias permitiram visualizar as perdas da cor original e encontrar os estilemas de Aleijadinho encobertos pelas repinturas.

Segundo a Agência Brasil, o Ministério Público de Minas Gerais, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acharam melhor resguardar a obra até que houvesse maior segurança para a devolução à matriz.

Alessandra explicou ao site que, por ser uma imagem de vestir, a escultura de 16 kg é formada por vários blocos. Não há uma estrutura esculpida de forma artística, então os estudos foram referentes somente à cabeça da obra. Em nota ao site, o Iphan reconheceu a complexidade do trabalho e afirmou que não cabe à autarquia, neste momento, confirmar ou refutar a autoria.

Com UFMG

Edição: Giovanna Fávero
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!