Vereador de Brumadinho denuncia homofobia de colega parlamentar: ‘V*ado do cara***’

vereador denuncia homofobia
Vereador destilou comentário homofóbico ao colega (Reprodução/@guilhermemorais_/Instagram)

Atualização às 13:27 do dia 01/10/2022 : Texto atualizado para incluir o posicionamento do vereador Ricardo da Tejucana, que aparece destilando o comentário homofóbico no vídeo

Um vereador de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, denunciou falas homofóbicas por parte de um colega parlamentar na noite dessa sexta-feira (30).

Vídeo mostra o momento em que Ricardo da Tejucana (PSL) chama Guilherme de Morais (PV) de “v*ado do cara***”. “Ah, você quer respeito? Aonde você merece respeito?”, diz na gravação (assista abaixo).

Entenda o contexto da agressão

Na última semana, houve uma reunião ordinária na Câmara da cidade na qual cinco vereadores, incluindo Ricardo, não compareceram. A ausência gerou a suspensão da reunião por falta de córum e, inconformado, Guilherme expôs a situação em suas redes sociais.

O vereador questionou a falta de comprometimento, já que pautas importantes seriam debatidas na ocasião. Já ontem, pouco antes de uma sessão extraordinária, Ricardo procurou Guilherme para reclamar da suposta “exposição” a que havia sido submetido.

Ricardo teria dito que o colega faltou com respeito ao expor a ausência dos vereadores na Câmara. Depois disso, destilou o comentário homofóbico.

Por meio do Instagram, Guilherme Morais denunciou o preconceito e disse estar “indignado e perplexo” com a atitude do vereador. “O vídeo já deixa claro o motivo de ‘não me respeitarem’!”, escreveu.

O comentário rendeu um boletim de ocorrência por ameaça e homofobia, além de uma queixa-crime contra o parlamentar.

Vítima recebe apoio

Em conversa com o BHAZ na manhã deste sábado (1º), Guilherme explica que a ficha “demorou a cair”.

“O que eu fico mais triste é que o fato ocorreu, a reunião continuou. E durante toda a reunião ele teve a oportunidade de reconhecer o erro dele. Porque eu sei que nós somos seres humanos e somos sujeitos a erros, falhos, mas em hora nenhuma ele se arrependeu do que ele fez”, lamenta a vítima.

Após o ocorrido, o agressor ainda agiu com indiferença, como se nada tivesse acontecido. Inclusive, com risadas, ironias e deboche, segundo Guilherme.

“Por outro lado eu tenho recebido apoio não só de Brumadinho, mas da região toda. Meu Instagram tem recebido muita mensagem, muita gente comentando e apoiando. Mas é triste, a gente viver o que vivemos ontem”, acrescenta.

‘O que era velado tem se tornado mais claro’

Em contato com o BHAZ, o advogado da vítima, Cleisson dos Santos, explica que Guilherme vem sendo atacado desde o início do mandato pela oposição. Defensor do meio ambiente e dos direitos da comunidade LBGTQIA+, já recebeu até mesmo ameaças de morte.

Quando notou que Guilherme estava filmando o diálogo, Ricardo saiu andando. Agora, ele e Cleisson desejam que o homem também seja responsabilizado por quebra de decoro parlamentar.

“Ontem, após o ocorrido, o acompanhei até a delegacia e registramos um boletim de ocorrência. No mesmo diálogo, o Ricardo ainda disse para o Guilherme tomar cuidado porque ‘ele não sabia com quem estava mexendo'”, recorda o advogado.

“Antes, o que era velado, agora tem se tornado muito mais claro. Ontem foi o cúmulo, na frente de todo mundo. Além de quem assistiu ao vídeo, várias pessoas presenciaram”, diz.

Por meio de nota, a Polícia Civil informa que a ocorrência foi registrada como atrito verbal. A corporação vai apurar os fatos relatados e tomar providências de polícia judiciária, no que couber (leia na íntegra abaixo).

O BHAZ entrou em contato com a Câmara Municipal de Brumadinho para mais detalhes sobre possíveis providências e aguarda retorno.

Vereador Ricardo da Tejucana se posiciona

Em nota ao BHAZ na tarde deste sábado, o vereador Ricardo da Tejucana, que aparece proferindo a fala homofóbica no vídeo, se defendeu das acusações. Ele afirma que Guilherme “quer manipular a sociedade e a mídia, se postando como vítima, como um perseguido, quando na verdade, ele persegue, humilha, é desrespeitoso com os demais pares”.

No comunicado, o parlamentar ainda acusa a vítima de racismo, dizendo também que ele foi misógino com uma vereadora da Câmara.

“O vereador Guilherme tem o meu respeito, contudo a recíproca não é verdadeira, pois, infelizmente, começou a perseguir e desrespeitar a minha esposa e família, sendo certo que, por fim, manipulou um vídeo que não demonstra a totalidade e realidade dos fatos em que fui provocado e vítima de racismo”, diz o texto.

A reportagem procurou o advogado de Guilherme, que o defendeu das acusações. Cleisson dos Santos afirma que o episódio de misoginia a que Ricardo se refere não aconteceu, visto que o vereador teria enfrentado um momento de divergências meramente políticas com a vereadora Alessandra (Cidadania).

“O que tem acontecido é que tentam inverter o fato de o Guilherme questionar e divergir dos posicionamentos”, defende. Ele ainda afirma que o parlamentar não disse nada relativo à cor da pele de Ricardo e que foi o opositor quem iniciou a conversa registrada em vídeo.

“Várias testemunhas estavam presentes no momento. Ele chamou o Guilherme para conversar e logo no início começou a destilar esse tipo de ataque”, complementa.

Confira abaixo o momento do atrito com a vereadora da cidade, que está disponível nos canais da Câmara Municipal de Brumadinho:

Homofobia é crime

Homofobia e transfobia são crimes previstos por lei. Eles entram na lei do racismo, já existente há 30 anos e, com isso, as punições são semelhantes. O STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia em junho de 2019.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.

Nota da Polícia Civil na íntegra

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que a ocorrência foi registrada ontem (30/9) como atrito verbal pela Polícia Militar e destinada à Delegacia de Polícia Civil em Brumadinho para apuração dos fatos relatados e providências de polícia judiciária, no que couber.

Nota do vereador Ricardo da Tejucana na íntegra

“Em resposta a imprensa e, principalmente, à população da nossa amada Brumadinho, venho esclarecer que sempre respeitei e respeito todas as minorias, o que não poderia ser diferente, tendo em vista o meu histórico de raça e vida. Em verdade meu par, Guilherme Moraes, infelizmente, quer manipular a sociedade e a mídia, se postando como vítima, como um perseguido, quando na verdade, ele persegue, humilha, é desrespeitoso com os demais pares e, principalmente, é misógino, desrespeitoso com as mulheres, como ocorrido com a vereadora Alessandra na última reunião; momento em que me desrespeitou e os demais pares, que não puderam comparecer por diversos motivos.

O vereador Guilherme tem o meu respeito, contudo a recíproca não é verdadeira, pois, infelizmente, começou a perseguir e desrespeitar a minha esposa e família, sendo certo que, por fim, manipulou um vídeo que não demonstra a totalidade e realidade dos fatos em que fui provocado e vítima de racismo.

Por fim, confio na Justiça para apurar os fatos e demonstrar para a sociedade quem é quem, pois, com às bençãos de Deus as máscara irão cair.”

Edição: Vitor Fernandes
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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