Voluntários salvam vidas e evidenciam falta de bombeiros em Monlevade

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SEVOR atua há 20 anos na cidade, que não tem Corpo de Bombeiros ou Samu (Sevor/Divulgação)

Apesar da alta incidência de acidentes em João Monlevade, na região Central de Minas Gerais, a cidade não possui unidade do Corpo de Bombeiros, nem conta com a atuação de um Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) municipal (entenda abaixo). A queda do ônibus na BR-381, que matou 19 pessoas na última sexta-feira (4), evidenciou a importância da atuação do SEVOR (Serviço Voluntário de Resgate) no município.

Com 20 anos de atuação e mais de 100 voluntários, incluindo quatro médicos e 37 enfermeiros, é o SEVOR que atende ocorrências desde acidentes no esporte e atropelamentos a acidentes de grande porte, principalmente nas rodovias BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, e BR-262. A organização é, inclusive, o único serviço voluntário de resgate credenciado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

Segundo dados da organização, o SEVOR atuou em 437 ocorrências em rodovias em 2018, e 317 em 2019. Até outubro de 2020, os voluntários já haviam atuado em 326 ocorrências registradas em rodovias, que incluem a BR-381 e a BR-262. Ainda neste ano, 942 vítimas de trauma foram socorridas pelo SEVOR, e 244 vítimas tinham casos clínicos.

O secretário do SEVOR, Renato Carvalho, explica que o batalhão dos bombeiros mais próximo é em Itabira, cidade a cerca de 40 km de João Monlevade. Por isso, os membros fazem plantões na sede da organização, 24 horas por dia, e fazem disparos para outros voluntários em caso de ocorrências de grande porte.

Ônibus na BR-381

Quando os voluntários do SEVOR foram acionados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) para o acidente do ônibus na BR-381, por volta das 13h20, a informação preliminar era de que havia 30 pessoas no veículo. No momento, havia cerca de seis pessoas na sede da organização, o que corresponde a um contingente para duas equipes de resgate.

“Imediatamente o operador fez o disparo chamando mais pessoas. Na mesma hora, também fizemos contato com grupos voluntários de cidades vizinhas, como Barão de Cocais, o GAVE (Grupo de Atendimento Voluntário de Emergência), em Nova Era, e bombeiros voluntários de São Domingos do Prata. No total, descemos para o local do acidente com 9 viaturas e 27 voluntários do SEVOR”, conta Renato Carvalho.

Além dos voluntários enviados para atuar na cena do acidente, uma médica e mais três colaboradores foram encaminhados para o hospital Margarida para ajudar na triagem dos pacientes. Dois voluntários continuaram na base do SEVOR, trabalhando para repor o material das ambulâncias.

“Quando chegamos, atravessamos 300 metros de linha férrea, e um morador da região já estava ajudando no local. Quando já tínhamos levado 27 sobreviventes ao hospital, chegaram duas viaturas dos bombeiros de Itabira. Eu disse ao subtenente que só havia óbitos na cena, todos com vida já tinham sido resgatados”, detalha.

“Depois, chegaram duas guarnições 2 da Polícia Civil de Ipatinga. Só duas horas depois, chegou uma viatura do Samu de Itabira, quando já estava tudo resolvido. Só faltou a perícia autorizar a liberação dos corpos”, completa o secretário.

O Sevor lamenta as vidas perdidas no grave acidente com um ônibus que viajava de Alagoas para São Paulo, sendo que ao…

Publicado por Sevor Serviço Voluntario de Resgate em Sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Por que não tem Corpo de Bombeiros?

A média de cinco ocorrências atendidas por dia pelo SEVOR, tanto na área urbana quanto na rural, é consequência da falta de atuação do Corpo de Bombeiros do estado em João Monlevade. De acordo com o secretário do SEVOR, já houve várias reuniões na Câmara Municipal para instalar um pelotão de bombeiros na cidade, em parceria com municípios vizinhos, mas o orçamento não foi aprovado pelos vereadores.

A tentativa foi confirmada pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Por meio de nota (leia na íntegra abaixo), a corporação afirma que tratativas foram iniciadas para a instalação de uma unidade em João Monlevade. “Todavia, como para a efetiva instalação de unidades BM, são necessárias tratativas com o Poder Público Municipal, não houve interesse do município em prosseguir com o projeto”, pontua a nota.

“Sendo assim, o CBMMG segue com o planejamento e previsão de instalação de uma fração na cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo, mais próxima a cidade de João Monlevade, o que reduzirá ainda mais o tempo de atendimento e incrementará a capacidade de resposta na região”, completa o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

Hoje, a Prefeitura de João Monlevade e o SEVOR têm um acordo de cooperação, que prevê o fornecimento de 800 litros de combustível por mês à organização voluntária, por parte da administração municipal. Além disso, a prefeitura arca com as despesas de água, energia elétrica e telefone do SEVOR, entre outros gastos (leia mais abaixo).

E o Samu?

No caso do Samu, o município já tentou articular, em parceria com administrações de outras cidades da região, a instalação de uma sede do Samu em João Monlevade e outra em São Domingos do Prata, para que o atendimento chegasse a outros municípios ao redor. O projeto foi apresentado pela administração de João Monlevade após reunião com o Consórcio Aliança, que inclui prefeituras da microrregião do Médio Piracicaba. O consórcio, porém, acabou não cumprindo o que foi determinado.

“O consórcio também chegou a vistoriar um espaço alugado pela então administração pública aprovando o imóvel. A Prefeitura de João Monlevade cumpriu todos os pedidos que lhe cabia para atender o consórcio e ter o SAMU na cidade atendendo toda a região. O acordo inicial seria de que o Consórcio Aliança cederia duas ambulâncias e uma UTI Móvel para João Monlevade e a estrutura para seu funcionamento, assim como uma ambulância para São Domingos do Prata. O Consórcio Aliança não cumpriu com o combinado”, esclarece a administração municipal, em nota (leia na íntegra abaixo).

A tramitação também foi ressaltada pelo secretário do SEVOR, Renato Carvalho: “A Prefeitura de João Monlevade chegou a alugar uma casa, onde seria instalada a sede do Samu. Os custos seriam rateados com administrações das cidades ao redor, mas não chegaram a um acordo. É preciso vontade política, dos municípios e do estado, para fazer acontecer”, disse.

“A Prefeitura de João Monlevade fornece 800 litros de combustível por mês ao SEVOR; fornece medicamentos e materiais médico-hospitalares básicos de acordo com a disponibilidade do estoque do município; mantém dois veículos cedidos pelo município para realizar atendimentos sendo manutenção mecânica e elétrica. A Prefeitura também (…) garante o deslocamento dos voluntários do SEVOR até a sede com fornecimento de até 600 vales/mês. Além disso, a Prefeitura fez a cessão de uso de terrenos com mais de 800m² para construção da sede da entidade”, ressalta a nota.

O SEVOR

A fundação do SEVOR, em 4 de novembro de 2000, foi motivada pelas constantes tragédias ocorridas nas rodovias BR-381 e BR-262. A organização tem como objetivos “levar o conforto e os cuidados necessários às vítimas de acidentes no atendimento pré-hospitalar, amenizando e prevenindo possíveis sequelas; conscientizar a população através de palestras e reuniões sobre prevenção de acidentes, direção defensiva, primeiros socorros e outros; promover a cidadania individual e coletiva; além de incentivar outros setores da sociedade em prol do nosso objetivo de ‘salvar Vidas’.

Sede do Sevor
Organização atua voluntariamente em João Monlevade há 20 anos (Sevor/Divulgação)

“O SEVOR tem muita força e credibilidade em João Monlevade, a população é apaixonada pelo trabalho. Mas, acima de tudo, defendemos que somos uma instituição de apoio ao estado, não de substituição da atuação e da responsabilidade do estado”, reforça o secretário. A organização recebe doações da população local, além de contribuições mensais de associações comerciais e clubes de serviço.

De acordo com Renato Carvalho, a renda fixa da organização chega a, em média, R$ 5.500 por mês. “O que conseguimos de renda extra é com ações como pedágio solidário, quando pedimos contribuições nos semáforos. A renda fixa fica para a manutenção dos carros, e o que sobra usamos para comprar equipamentos. Os uniformes, por exemplo, são pagos pelos próprios voluntários”, completa.

Nota do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

“O CBMMG instala suas unidades em pontos estratégicos que garantem o atendimento em todo o Estado dentro de referenciais estabelecidos de tempo-resposta e outros parâmetros. Além disso, o CBMMG estabelece parcerias com os municípios para a instalação de brigadas municipais e realiza a regulação e controle da atividade voluntária, conforme a lei 22839/18.
No caso do atendimento em questão, os militares do Pelotão de Itabira se deslocaram imediatamente após receberem o chamado e agiram de forma rápida, evitando que o número de vítimas fatais fosse ainda maior.
Em relação a instalação de uma fração em de João Monlevade, confirmamos que o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais de fato iniciou tratativas no sentido de inserir uma unidade no município. Todavia, como para a efetiva instalação de unidades BM, são necessárias tratativas com o Poder Público Municipal, não houve interesse do Município em prosseguir com o projeto.
Sendo assim, o CBMMG segue com o planejamento e previsão de instalação de uma fração na cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo, mais próxima a cidade de João Monlevade, o que reduzirá ainda mais o tempo de atendimento e incrementará a capacidade de resposta na região.”

Nota da Prefeitura de João Monlevade

“O município de João Monlevade apresentou o Projeto de Lei nº 765/2013, de 8 de fevereiro de 2013, que foi aprovado na Câmara Municipal, no ano de 2013. O projeto se tratava de um ‘Protocolo de Intenções firmado pelo Município de João Monlevade com a finalidade de constituir um Consórcio Público sob a forma de associação pública, entidade de natureza autárquica, nos termos da Lei Federal nº 11.107, de 06 de abril de 2005, visando o desenvolvimento em conjunto de ações e serviços de saúde, especialmente no que tange ao gerenciamento dos serviços de urgência e emergência da Macrorregião Centro do Estado de Minas Gerais’.
Tal demanda surgiu após reunião com o Consórcio Aliança que abrangeria várias cidades da microrregião do Médio Piracicaba. O consórcio Aliança chegou a fazer processo seletivo para contratação de profissionais para atuar no SAMU que teria uma sede em João Monlevade e outra em São Domingos do Prata. O consórcio também chegou a vistoriar um espaço alugado pela então administração pública aprovando o imóvel. A Prefeitura de João Monlevade cumpriu todos os pedidos que lhe cabia para atender o consórcio e ter o SAMU na cidade atendendo toda a região. O acordo inicial seria de que o Consórcio Aliança cederia duas ambulâncias e uma UTI Móvel para João Monlevade e a estrutura para seu funcionamento, assim como uma ambulância para São Domingos do Prata. O Consórcio Aliança não cumpriu com o combinado.
Dessa forma, com o imóvel alugado, após meses aguardando, a Prefeitura cedeu o imóvel para uso do SEVOR. Importante salientar: o SEVOR é o único serviço voluntário de resgate reconhecido publicamente pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos que salva vidas em toda a região de forma voluntária.
A Prefeitura de João Monlevade não repassa dinheiro para o SEVOR. Existe um acordo de cooperação que visa estabelecer cooperação mútua para viabilizar o desenvolvimento das atividades pertinentes ao atendimento primário às vítimas de acidentes, de acordo com o plano de trabalho detalhado pela organização SEVOR. A Prefeitura de João Monlevade fornece 800 litros de combustível por mês ao SEVOR; fornece medicamentos e materiais médico-hospitalares básicos de acordo com a disponibilidade do estoque do município; mantém dois veículos cedidos pelo município para realizar atendimentos sendo manutenção mecânica e elétrica. A Prefeitura também paga as despesas com água, energia elétrica e telefone e garante o deslocamento dos voluntários do SEVOR até a sede com fornecimento de até 600 vales/mês através da dotação orçamentária 1030310032052-33903900. Além disso, a Prefeitura fez a cessão de uso de terrenos com mais de 800m² para construção da sede da entidade”.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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