Atualização às 09:44 do dia 24/10/2022 : Atualizado para incluir comunicado do MPF-RS.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS) provocou revolta nas redes sociais ao dizer que estudantes de universidades federais do Estado merecem ser “queimados vivos”. A afirmação foi feita após os alunos protestarem contra o bloqueio orçamentário das universidades anunciado pelo governo federal e, que, posteriormente, o MEC (Ministério da Educação) reverteu a medida.
Em transmissão ao vivo feita em 9 de outubro, Bibo Nunes chamou de “inúteis” os estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ele citou o filme “Tropa de Elite” para sugerir que os alunos merecem ser queimados.
“Sabe o que aconteceu? Olha o filme um. Pegaram aqueles coitadistas, aqueles riquinhos ajudando pobre, se deram mal, queimaram vivos dentro de pneus. Queimaram vivo dentro de pneus. E é isso que esses estudantes alienados filhos de papai que têm grana merecem”, disse o deputado, que não se reelegeu.
“Não que eu queira isso, mas merecem porque estão arriscando acabar com nosso Brasil, que está crescendo muito bem, um Brasil que não tem mais roubo, que acabou com a corrupção”, completou, chamando os estudantes de “vergonha, escória do mundo”.
O quase ex-deputado é a expressão caricata e fracassada da extrema direita. Grave sugerir que estudantes de Santa Maria, que lutam em defesa da educação pública, morram queimados vivos. Na cidade da tragédia da boate Kiss! Merece ser responsabilizado civil e criminalmente! pic.twitter.com/PCEu92iswh
— Fernanda Melchionna (@fernandapsol) October 20, 2022
Repercussão
O trecho da transmissão ao vivo repercutiu nas redes sociais nesta sexta-feira (21) e gerou revolta. Internautas ainda lembraram que Santa Maria, onde fica a UFSM, é a cidade em que ocorreu a tragédia da Boate Kiss, quando 242 pessoas morreram queimadas.
Muitos sabem que sou de Santa Maria. Estava lá naquela trágica noite, não na Kiss, mas ao lado.
— Thais (@TVizzotto) October 21, 2022
Muitas vezes frequentei a casa. Fui aluna da UFSM..
Ouvir um deputado dizer isso é inacreditável! Quem se sentir á vontade vá até o perfil do BIBO NUNES e demonstre repúdio a tal ato pic.twitter.com/lPAJCTMtWM
Bolsonarismo é assim. Bibo Nunes critica manifestação de estudantes e diz que deveriam morrer queimados. Isso na cidade onde um incêndio vitimou centenas deles.
— Pedro Ruas (@PedroRuasPsol) October 21, 2022
O deputado estadual eleito Leonel Radde (PT-RS) disse que protocolou uma moção de repúdio contra as declarações de Bibo Nunes na Câmara Municipal de Porto Alegre.
MPF investiga
O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS) instaurou um procedimento preparatório para investigar as falas do parlamentar. O caso está sendo apurado pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), que atuará em conjunto com a PRM (Procuradoria da República no Município de Santa Maria).
“A investigação segue na esfera da tutela coletiva, sendo que o material também será encaminhado para apreciação da Procuradoria-Geral da República especificamente na área criminal pois o parlamentar possui foro privilegiado e eventual ilícito eleitoral”, diz comunicado do órgão (leia na íntegra abaixo).
A representação contra as críticas de Bibo Nunes foi feita pelo presidente da Assembleia Legislativa do estado, deputado Valdeci Oliveira (PT-RS), e pelo radialista Luciano Guerra. Agora, Bibo Nunes será oficiado para que preste informações sobre o ocorrido, no prazo de 10 dias.
‘Grande injustiça’
Bibo Nunes fez uma nova transmissão ao vivo, nesta sexta, se manifestando sobre a repercussão das declarações. Ele chamou de “grande injustiça” e de “absurdo” as críticas que vem sofrendo ao longo do dia.
“Sem fundamento algum. Manchetes de jornais: ‘Bibo Nunes quer queimar vivos os estudantes da UFSM’. Só se eu fosse louco para falar uma coisa assim. Não sou uma criança, não sou um cara para sair dizendo essas loucuras, essas bobagens”, disse o parlamentar contrariando o vídeo anterior.
O parlamentar defendeu o próprio mandato na Câmara dos Deputados e disse ser a favor de que as universidades “façam educação de verdade”. “Às vezes, a gente fala muito empolgado, até uma força de expressão pode ser mal compreendida. Mas o que fizeram foi muita maldade”, disse.