O que a ideologia separa, o negócio pode unir. Pelo menos é essa a experiência que vem sendo vivida por manifestantes pró-Lula, em vigília nas proximidades da Polícia Federal, em Curitiba (PR) e um eleitor do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), de direita. De acordo com a agência Estado, o desempregado Eduardo Maciel, 20 anos, viu na movimentação dos petistas uma oportunidade de negócio.
Sem a infra-estrutura necessária no acampamento onde se revezam cerca de 1,3 mil pessoas, Eduardo passou cobrar daqueles que precisavam de um banheiro. E, numa placa, estabeleceu o preço de sua mercadoria: “Número 1 – R$ 2, número 2 – R$ 3, banho: R$ 4, carregamento de celular – R$ 2.” “Faturamos entre R$ 300 e R$ 400 por dia”, disse ele à reportagem, enquanto organizava a fila do banho.
A proximidade com os adversários políticos, no entanto, não fez com que Maciel deixasse de falar de política com militantes petista. “Voto no Bolsonaro. Vi os vídeos dele e gostei. Se o Lula está preso, não é por acaso”, afirmou o jovem, enquanto os integrantes da fila olhavam com reprovação.
Mas, se politicamente Maciel diverge dos petista, a presença dos apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) – que está preso na sede da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR) – incomoda o aposentado Atahyde Carlos da Silveira, 59, morador do bairro há 25 anos e eleitor de Lula e Dilma.
Silveira reclama da “vigília”. “Minha vida virou de pernas para o ar. Nossa liberdade de ir e vir está comprometida. Nem o carteiro consegue chegar mais aqui. Tenho que andar com comprovante de residência e não posso mais chamar convidados”, disse ele.
A estrutura de funcionamento no local é a mesma dos acampamentos recém-criados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): há uma organização rigorosa, com divisão de trabalho, provisões de alimentação e água, estrutura provisória de moradia (barracas de lona improvisada e de camping).