A esposa de Milton Ribeiro disse, no dia da prisão do ex-ministro da Educação, que ele já estava sabendo que seria alvo da PF (Polícia Federal). A informação é de uma ligação interceptada entre Myrian Ribeiro e um homem não identificado, divulgada pelo r7 nessa sexta-feira (24). O áudio ainda menciona que houve “rumores do alto” sobre a operação.
“O Matheus tava explicando que o advogado vai tentar um habeas corpus e talvez… Fica em Santos… Ele não queria acreditar, mas ele… ele estava sabendo. Eu falei… pra ter rumores do alto, é porque o negócio já tava certo”, diz a mulher. “É. É isso mesmo… tudo bem, né”, responde o homem. “Ai, meu Deus”, finaliza a esposa de Ribeiro.
A ligação entre Myrian Ribeiro e o rapaz, chamado Edu, aumenta suspeitas de que houve vazamento das apurações sobre a operação “Acesso Pago” da PF. O ex-ministro foi preso junto com outros suspeitos na manhã dessa quarta-feira (22), acusado de pedir propina para liberar verbas públicas do MEC (Ministério da Educação) para municípios. Ele já foi solto.
Ouça o áudio abaixo:
Desembargador manda soltar Ribeiro
No dia seguinte à prisão de Ribeiro, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), deferiu pedido de defesa em habeas corpus e cassou a prisão preventiva do ex-ministro e de outros quatro presos. A decisão veio horas depois do despacho do desembargador plantonista, Morais da Rocha, que rejeitou a ação sem analisar o mérito.
A nova decisão declara ilegal a prisão preventiva de Ribeiro, alegando que os fatos que levaram à prisão são antigos e o risco de dano ao inquérito é remoto, uma vez que o ex-ministro não faz mais parte da administração pública federal.
Segundo a PF, foram identificados indícios de crime na liberação das verbas públicas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao ministério. Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e cinco prisões em Goiás, São Paulo, Pará e Distrito Federal.
‘Ela acha que vão fazer busca e apreensão’
Em outra conversa interceptada pela PF (ouça abaixo), Milton Ribeiro diz para a filha que recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ele, o mandatário disse achar que a Polícia Federal faria uma busca e apreensão na casa do ex-ministro. A conversa entre Ribeiro e a filha foi feita no dia 9 de junho, e o trecho foi divulgado nessa sexta-feira (24) pela GloboNews.
“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”, disse o ex-ministro para a filha.
“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, perguntou ela. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, respondeu Ribeiro. Relembre o restante do diálogo aqui.
Investigação da operação é enviada ao STF
O juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, decidiu enviar ao STF (Supremo Tribunal Federal) a investigação da operação Acesso Pago, que apura o desvio nas verbas do MEC. Segundo divulgado nessa quinta-feira (23), há a presença de “ocupante de cargo com prerrogativa de foro” [o presidente Bolsonaro], portanto o caso não poderá continuar na primeira instância da Justiça.
A ministra Cármen Lúcia deverá analisar se a investigação continuará no Supremo ou se o caso será “fatiado” entre a Corte e a vara federal. Antes de chegar à primeira instância, a investigação começou a tramitar no Supremo, mas foi enviada ao juiz Borelli depois que Milton Ribeiro deixou o cargo.
Em nota, a defesa do ex-ministro declarou que recebeu com surpresa a decisão que enviou a investigação para o STF, além de afirmar que a medida poderá tornar as decisões da investigação nulas. O advogado dele menciona que as mensagens foram gravadas antes da deflagração da operação, por isso o juiz de primeiro grau não seria competente para analisar o pedido feito pela polícia e, consequentemente, declarar prisão preventiva.
“A defesa ainda analisará tudo e o todo que foi anexado aos autos, se lhe for franqueada vista da íntegra da documentação. Todavia, se realmente esse fato se comprovar, atos e decisões tomadas são nulos por absoluta incompetência e somente reforça a avaliação de que estamos diante de ativismo judicial e, quiçá, abuso de autoridade, o que precisará também ser objeto de acurada análise”, diz um trecho do comunicado.
Com Agência Brasil