Milton Ribeiro diz que recebeu ligação de Bolsonaro: ‘Ele acha que vão fazer busca e apreensão’

Bolsonaro e Milton Ribeiro
Elementos dos autos da investigação embasariam a suspeita (Clauber Cleber Caetano/PR)

Em conversa com a filha, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse antes de ser preso que recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ele, o mandatário disse achar que a Polícia Federal faria uma busca e apreensão na casa do ex-ministro. A conversa entre Ribeiro e a filha foi feita no dia 9 de junho, e o trecho foi divulgado nesta sexta-feira (24) pela GloboNews.

“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”, disse o ex-ministro para a filha.

“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, perguntou ela. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, respondeu Ribeiro.

Indícios de interferência

O trecho é um dos motivos que fez o MPF (Ministério Público Federal) encaminhar a investigação sobre Milton Ribeiro para o STF (Supremo Tribunal Federal), após enxergar indícios de possível interferência do presidente Jair Bolsonaro nas apurações da Polícia Federal sobre o caso. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (24) pela coluna de Rodrigo Rangel no Metrópoles.

Após pedido do MPF, juiz federal Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília, determinou o envio do caso para o STF, em razão do foro privilegiado de Bolsonaro.

A relatora do caso volta a ser a ministra Cármen Lúcia, que que havia enviado o caso para a primeira instância depois que Milton Ribeiro pediu demissão do MEC (Ministério da Educação).

De acordo com a coluna, no pedido acolhido pelo juiz, o MPF detalhou os elementos presentes nos autos da investigação que embasam a suspeita de interferência do presidente.

Ainda segundo o Metrópoles, antes da decisão do juiz, o delegado da Polícia Federal à frente da investigação já havia enviado mensagem de texto aos colegas envolvidos na operação relatando “interferência” de superiores no caso.

Segundo o delegado Bruno Calandrini, isso seria por causa da decisão da corporação de não transferir Milton Ribeiro de São Paulo para Brasília após a prisão, alegando contenção de despesas.

Ligações telefônicas

De acordo com a GloboNews, o pedido do MPF foi feito com base em interceptações telefônicas de Milton Ribeiro, que indicam a possibilidade de vazamento das apurações do caso. O órgão aponta para indícios de que vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do Bolsonaro, como na ligação com a filha.

Em trechos da decisão, segundo o jornal, aparecem transcrições de diferentes conversas de Milton Ribeiro, além da conversa com a filha. O juiz Borelli escreveu que, por meio das ligações, “foi possível vislumbrar eventual conhecimento das apurações com contornos de interferência”, já que o ex-ministro supostamente teria sido avisado sobre a operação com antecedência.

“Tudo caminhando, tudo caminhando. Agora… tem que aguardar né […] aquela mentira que eles falavam…que os ônibus estavam superfaturados no FNDE […] agora vai faltar o assunto dos pastores, né? Mas eu acho assim, que o assunto dos pastores… é uma coisa que eu tenho receio um pouco é de… o processo… fazer aquele negócio de busca e apreensão, entendeu?”, diz Ribeiro em uma ligação com uma pessoa identificada como Waldomiro.

Em uma conversa com um homem identificado como Adolfo, ele diz: “[…] mas algumas coisas já foram resolvidas né… acusação de que houve superfaturamento… isso já foi… agora, ainda resta o assunto do envolvimento dos pastores, mas eu creio que, no devido tempo, vão ser esclarecido”.

Preso e solto

O desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), deferiu nessa quinta-feira (23) pedido de defesa do ex-ministro da Educação em habeas corpus e cassou a prisão preventiva de Milton Ribeiro e de outros quatro presos na operação da Polícia Federal de quarta-feira (22), que apura esquema de corrupção no MEC.

Os demais presos beneficiados pela decisão são os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, o ex-gerente de projeto da Secretaria Executiva do Ministério da Educação, Luciano de Freitas Musse e o ex-assessor e o da Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura de Goiânia, Helder Diego da Silva Bartolomeu.

A nova decisão declarou ilegal a prisão preventiva de Ribeiro, alegando que os fatos que levaram à prisão são antigos e o risco de dano ao inquérito é remoto, uma vez que o ex-ministro não faz mais parte da administração pública federal.

O ex-ministro havia sido preso em função da operação “Acesso Pago”, da Polícia Federal, que investiga tráfico de influência e corrupção na liberação de recursos públicos do MEC. Segundo a PF, foram identificados indícios de crime na liberação das verbas públicas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao ministério.

As suspeitas de desvios em recursos do FNDE também foram alvo de inspeção do Tribunal de Contas da União (TCU) em abril, após a Folha de S. Paulo divulgar um áudio em que ele disse favorecer prefeituras de municípios ligados aos pastores Arilton Moura e Gilmar Silva. Os dois teriam atuado como intermediários junto aos municípios na liberação de recursos, em troca de pagamento de propina.

A denúncia levou a um pedido de demissão de Milton Ribeiro, e também levou à abertura de inquérito no STF e na PF, além de uma fiscalização extraordinária do próprio TCU.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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