O deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, segue sendo politicamente penalizado após o vazamento de um áudio em que diz que as ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Nessa terça-feira (8), o Podemos anunciou a desfiliação do parlamentar do partido, a pedido dele.
Por meio de nota, o partido declarou que “não tolera sexismo ou qualquer tipo de comportamento preconceituoso de seus filiados”. A presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu, classificou as declarações de Arthur do Val como “gravíssimas e inaceitáveis”.
“Esperamos que este triste episódio mostre à sociedade que também é tempo de oportunidade para mudança e de pôr fim no machismo estrutural e no preconceito de qualquer tipo, seja de raça, cor, religião ou condição social”, disse.
Na segunda-feira (7), o Podemos já havia oficializado a abertura de processo disciplinar contra Arthur do Val, que estava filiado havia apenas 30 dias. Com o pedido do próprio deputado para deixar o partido, o processo perdeu seu objeto e foi encerrado.
Sem novo mandato
Em carta enviada aos gabinetes dos colegas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) ainda nessa terça-feira, Arthur do Val ainda informou que não vai concorrer a um novo mandato como deputado nas próximas eleições.
No documento, o “Mamãe Falei” escreve que “errou feio” e que envergonhou toda a família. Ele ainda disse que não houve assédio às mulheres ucranianas durante a viagem, apenas “palavras horrorosas, desrespeitosas, desprezíveis”.
“Aproveito, por oportuno, para comunicar aos meus colegas que não mais concorrerei ao cargo de deputado, sendo esse meu último ano nesta honrosa casa legislativa”, escreveu o parlamentar na carta.
Saída do MBL e possível cassação
Além da desfiliação do Podemos e da desistência a uma concorrência a novo mandato, Arthur do Val também deixou o MBL (Movimento Brasil Livre) e ainda pode ter o atual mandato cassado.
Em vídeo publicado ontem em seu canal no YouTube, o deputado anunciou a saída do MBL. “Não acho justo que, por conta de um erro meu, outras pessoas paguem. Não quero ser esse fardo, não tenho esse direito. Eu tomei a decisão de me afastar de tudo um pouco”, disse.
“Vou tentar defender meu mandato. Nem tanto por vontade de continuar. Mas porque eu tenho orgulho do meu mandato. E eu vou ser cassado em três dias, o recorde histórico de tempo. E quando você é cassado você perde os seus direitos políticos”, completou.
Ele se refere aos pedidos de cassação ao mandato protocolados nos últimos dias na Alesp. O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da casa legislativa já recebeu pelo menos 12 pedidos, ssinados individual ou coletivamente por 26 deputados.
As representações contra o parlamentar devem tramitar no Conselho de Ética por um período entre 30 e 40 dias. Ao final do processo, o deputado pode ser absolvido, advertido ou até mesmo perder o mandato de forma temporária ou definitiva. A perda de mandato, seja temporária ou permanente, precisará ser votada em plenário.
O áudio
Arthur do Val sofre as consequências após gravar um áudio com declarações misóginas e machistas referentes às mulheres ucranianas. Arthur do Val viajou para o país na última semana, em meio a diversas críticas sofridas nas redes sociais.
Ao deixar o país, na fronteira com a Eslováquia, o deputado enviou um áudio a amigos, elogiando a beleza das refugiadas. Em seguida, afirmou que pretende voltar ao Leste Europeu e disse que as mulheres são “fáceis” por serem pobres.
“Assim que essa guerra passar eu vou voltar pra cá. E detalhe, elas olham. E são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de minas e é inacreditável a facilidade”, disse ele no áudio.
Na chegada ao Brasil, Arthur do Val deu entrevistas confirmando ser o autor do áudio e retirou sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ele reconheceu ter cometido “um erro em um momento de empolgação”.
“Não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro em um momento de empolgação. A impressão que está passando aqui é que eu cheguei lá, tinha um monte de gente, e eu falei: ‘quem quer vir comigo que eu vou comprar alguma coisa’. Não é isso. Eu fui pra fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa”, defendeu.
