Putin promete retaliação a quem interferir na guerra contra Ucrânia; entenda como o conflito afeta o Brasil

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Vice-presidente Hamilton Mourão diz que Brasil desaprova invasão à Ucrânia (Reprodução/Twitter)

Em discurso de anúncio sobre a guerra contra a Ucrânia, o presidente Vladimir Putin declarou retaliação aos países que tentarem interferir em seu plano de invasão militar à nação ucraniana. Além de afirmar que está pronto para qualquer desenvolvimento do cenário bélico atual, recomendou que os ucranianos fiquem em casa.

“Em cumprimento aos tratados de amizade e cooperação ratificados pela Assembleia Federal com a República Popular de Donetsk e a República Popular do Lugansk [municípios ucranianos], eu tomei a decisão de conduzir uma operação militar especial”, começa o presidente.

“Nossos planos não incluem a ocupação de territórios ucranianos, não vamos forçar nada a ninguém. Enfatizo, mais uma vez, toda a responsabilidade por possível derramamento de sangue recairá inteiramente e completamente sobre a consciência do regime que governa o território da Ucrânia”.

O líder extremista reforça que aqueles que tentem intervir no evento [invasão à Ucrânia] devem temer. Putin reforça que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências “nunca vistas na história”. “Estamos prontos para qualquer desenvolvimento dos eventos. Todas as decisões necessárias a este respeito foram tomadas”, finaliza.

Veja discurso traduzido, abaixo:

Como o conflito afeta o Brasil?

Estudiosos pontuam que o principal reflexo da guerra russa contra a Ucrânia será econômico. Segundo o advogado e especialista em Direito Internacional Leonardo Leão, nos próximos dias o Brasil deve sentir impactos relacionados ao aumento no preço da gasolina e de alguns grãos, como o trigo. Tendo em vista que a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo e fornecedores de gás natural da Europa, a exportação dos bens deve ser dificultada pelas sanções.

“Temos na zona de guerra a Rússia que é um dos maiores produtores de Petróleo no mundo, com capacidade de produção de mais de 10 milhões de barris por dia. O país é ainda o maior fornecedor de gás natural da Europa, o barril já bateu o preço de mais de 100 dólares. Isso faz com que tenhamos de imediato mais aumento no preço dos combustíveis no Brasil”, detalha o advogado.

Leão considera a visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Kremlin um erro no jogo político do país. “Infelizmente o presidente errou ao fazer uma visita desnecessária e manifestar apoio ao presidente Putin, economicamente e historicamente os Estados Unidos são parceiros mais importantes para o Brasil que os russos, e o que o presidente demonstrou nessa visita foi muito mais um ato contra o presidente Biden que pró Rússia, isso é muito ruim para o Brasil”, comenta.

Visita de Bolsonaro foi ‘inoportuna’

Leonardo Leão avalia que a visita do presidente Jair Bolsonaro à capital russa foi “fora de hora”, uma vez que a iminência do ataque à Ucrânia já era declarada. Diante disso, o país poderá sofrer mais pressão vinda dos Estados Unidos, rival declarado dos russos.

“As declarações de Bolsonaro na Rússia ao dizer que Brasil e Rússia pregam a paz mundial foram na contramão do que está sendo dito pelas principais nações, entre elas os Estados Unidos. Diante da gravidade da atual situação, e depois da visita inoportuna a Moscou do presidente, o Brasil pode sofrer mais críticas e pressões dos EUA”, finaliza.

No aspecto econômico, o preço do petróleo impacta diretamente na inflação mundial e, logo, a brasileira. O especialista em direito internacional diz também que a alta no preço do insumo e a consequente inflação dificulta o trabalho do Banco Central no país no que diz respeito à condução e ao controle dos preços. O resultado é a adoção de taxas de juros mais altas a longo prazo.

Brasil não concorda com invasão, diz Mourão

Quebrando o silêncio do governo brasileiro sobre o ataque à Ucrânia, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o país desaprova o movimento político de Putin. O general ainda pontuou que o Brasil não está neutro sobre o tema.

“O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade”, afirmou a jornalistas na chegada ao Palácio do Planalto. Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o conflito.

Em nota (leia abaixo na íntegra), o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) informou que está acompanhando a situação na Ucrânia com “grave preocupação” e afirmou que o Brasil continua engajado nas discussões multilaterais “com vistas a uma solução pacífica”.

‘Recolham as armas’

O mundo inteiro entrou em tensão com o anúncio de Putin, que antecedeu a invasão ao território russo na madrugada de hoje (24). Pouco depois de anunciar que o país do Leste europeu havia decidido realizar uma operação militar especial no território ucraniano, explosões foram relatadas em diversos pontos do país.

Em sua fala, Vladimir Putin disse também que os ucranianos devem recolher suas armas e voltar para casa, ao encontro de suas famílias. Em outro trecho, garante que está seguro de que os soldados e oficiais leais das Forças Armadas da Rússia cumprem com seu dever de profissionalismo e valentia.

Segundo o The New York Times, o Ministério do Interior da Ucrânia, as tropas russas desembarcaram na cidade de Odessa, no Sul do país. Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores, definiu a invasão como sendo “de larga escala” e disse que seu país se defenderia, enquanto apelava ao resto dos países para conter Vladimir Putin.

Por meio das redes sociais, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou a imposição da lei marcial e disse que os cidadãos dispostos a defender a nação receberão armas do governo.

Nota do Itamaraty na íntegra

“O Governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia.

O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil.

Como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil permanece engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias.”

Edição: Vitor Fernandes
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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