Somente três vereadores querem largar o osso em BH; meta de reeleição é de 93%

Reprodução/CMBH

O descontentamento da população diante da classe política brasileira parece não abalar os planos dos vereadores da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Ao menos é o que aponta o levantamento realizado pelo Bhaz, o qual indica que 93% dos atuais parlamentares da capital não querem deixar as cadeiras. A parcela corresponde a 38 do total de 41 vereadores.

Dois parlamentares, entretanto, anunciaram o encerramento da carreira política: Professor Ronaldo Gontijo (PPS) e Alexandre Gomes (PSB) — ambos com seis mandatos na Casa. O terceiro parlamentar que não disputará as eleições trata-se do Daniel Nepomuceno (PSB), que também é presidente do Clube Atlético Mineiro.

A reportagem do Bhaz realizou a pesquisa junto aos 41 gabinetes parlamentares da CMBH durante o mês de junho deste ano.

Ainda que, se dependesse somente da vontade dos atuais vereadores, a próxima legislatura teria poucas mudanças, especialistas apostam em um índice de renovação recorde nestas eleições municipais. Isso porque os candidatos provavelmente encontrarão maior dificuldade em se reeleger justamente em razão do cenário adverso à classe política.

“É razoável que a taxa de renovação será um pouco maior mesmo diante do desejo de grande parte dos vereadores de se manter no cargo”, avalia o cientista político e pesquisador do Centro de Ciências Políticas da UFMG, Lucas Cunha, ao Bhaz.

“O momento de insatisfação com a política afasta o eleitor das discussões, porém, por outro lado, penso que os cidadãos e a população de uma forma geral terão um senso crítico e uma responsabilidade ainda maior ao confirmar o seu voto”, ponderou.

Ademais, para o cientista político, as alterações na legislação eleitoral — como restrições nas doações financeiras, redução do período de campanha política e, por conseguinte, o baixo orçamento para financiamento de campanhas — podem complicar ainda mais a vida dos candidatos que tentarão a reeleição.

“Os vereadores certamente terão mais dificuldade para se reeleger nestas eleições municipais. Além de se tratar de eleições extremamente competitivas, que demandam grande esforço por parte dos candidatos, a capacidade crítica dos eleitores estará acentuada diante dos desdobramentos dos escândalos de corrupção que estamos vendo”, destacou.

“É importante lembrar ainda que a acentuação do senso crítico por parte dos cidadãos não diz respeito a um ou outro parlamentar, ou então a este ou aquele partido; mas sim, diz respeito à classe política como um todo”, acrescentou.

Perpetuação do poder

“É natural que os vereadores tendem a se viabilizar politicamente por meio da reeleição. É uma estratégia para se manter na política”, avaliou o cientista político Lucas Cunha, diante da meta de reeleição de 93% na CMBH.

Para o professor, a perpetuação no poder pode contribuir para que o cidadão “reforce a visão de criminalizar a política”, mas, por outro lado, “suscita o questionamento do sistema como um todo”. Entretanto, o cientista político avalia como “natural” o alto índice de parlamentares que desejam se manter no cargo.

“A perpetuação é ambivalente. Pode ser ruim, pois viabiliza a formação de grandes caciques políticos, mas também funciona como uma forma de premiar aqueles que têm atuação de destaque”. Lucas Cunha, cientista político

Renovação

Em 2008, 1.025 candidatos concorreram a uma cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Do total de 41 vagas, 16 cadeiras foram ocupadas por vereadores novatos, representando um índice de renovação de 39%.

Já nas eleições municipais de 2012, 1.286 concorreram ao parlamento municipal. A taxa de renovação foi de 53%, correspondendo a 21 vagas ocupadas por novos vereadores — o número é o recorde de renovação até então.

Crise política?

Para alguns dos atuais vereadores de Belo Horizonte, a crise política pela qual atravessa o país não compromete o desejo de perpetuar no cargo.

“A crise é na esfera federal, aqui está tudo bem”, é o que disse o vereador Antônio Torres (PRP), ao ser questionado pela reportagem do Bhaz se o momento de crise não poderia influenciar no desejo de reeleição.

“O momento político não influencia”.
Vereador Henrique Braga (PSDB)

Mais ponderado, o vereador Arnaldo Godoy (PT) avalia que a crise política o deixa ainda mais motivado no exercício parlamentar. “Este momento político me impulsiona ainda mais a ser um agente que pode mudar a realidade atual da política”.

É o que pensa também o vereador Bispo Fernando (PSB). Para ele, “é preciso continuar acreditando”. “Se desanimarmos vamos afundar o Brasil; tem que acreditar para reverter a situação”, disse ao Bhaz.

“A mudança tem de ser implementada, é importante que possamos influenciar nessa mudança”.
Vereador Coronel Piccini (PSB)

Desmotivados

Já outros dois vereadores entre os mais antigos da Casa — com 25 anos de CMBH, cada — disseram estar desmotivados com a política.

“Quando se perde a motivação, temos de seguir novos caminhos”, desabafou o vereador Alexandre Gomes (PSB), após seis mandatos na CMBH. Alexandre, que também é médico em Belo Horizonte, disse que a crise política somente “consolidou uma decisão que já estava tomada”, de encerrar a carreira política, e que irá se concentrar nos atendimentos médicos a partir de agora.

O vereador Professor Ronaldo Gontijo (PPS) se diz “desmotivado“. “Não tenho me sentido mais à vontade”, desabafou ao Bhaz. “Acho que a questão legislativa depende de um debate mais profundo, e o atual modelo foi se desqualificando. Por isso chegamos onde estamos”.

Os pré-candidatos às eleições municipais de 2016 têm até o dia 15 de agosto para entrar com o registro de candidatura junto ao Tribunal Superior Eleitoral (STE). Nesse sentido, a meta de reeleição traçada pela reportagem do Bhaz ainda pode sofrer alterações.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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