A jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, sofreu uma tentativa de intimidação em um debate realizado pelo UOL, em parceria com a Folha de S. Paulo, na noite de ontem (13). O deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos) acuou a profissional e foi expulso do local pela organização do evento.
“Me xingou de vergonha do jornalismo, reproduzindo a frase do presidente Jair Bolsonaro (PL) no outro debate, dizendo que eu ganho R$ 500 mil por ano, quando isso não é verdade. Eu ganho R$ 22 mil por mês da TV Cultura, desde 2020. Um contrato que é público, que ele como deputado já requereu”, explicou Vera após o ocorrido.
Vídeo gravado por uma testemunha mostra o instante em que o parlamentar avança contra Vera. Com o celular na mão, o candidato a deputado federal grava a jornalista e questiona o valor de seu contrato de trabalho.
Em dado momento, o diretor de Jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, sai em defesa da apresentadora e joga o aparelho para longe (assista abaixo).
A @tvcultura teve seu jornalista Vladimir Herzog assassinado pela ditadura. Hoje, em pleno período democrático, seu diretor Leão Serva honrou a história e se obrigou a fazer uso de legítima defesa da profissional da emissora @veramagalhaes, vítima de injusta violência política. pic.twitter.com/WCIZpB1HUe
— Alexandre Aguiar (@alexaguiarpoa) September 14, 2022
Assédio e perseguição
A profissional revelou que estava sentada na primeira fileira do evento quando tudo aconteceu. Ela precisou sair escoltada por seguranças. Em vídeo gravado para o UOL, Leão Serva esclarece os motivos que o levaram a “tacar” o smartphone de Douglas para longe.
“O deputado Douglas Garcia já tem uma prática de perseguição, de assédio em relação a Vera Magalhães há algum bom tempo. Dois anos atrás, ele foi à TV Cultura usando as prerrogativas de deputado pra obter uma cópia do contrato de trabalho dela, foi à Assembleia Legislativa e divulgou como se fosse um salário mensal aquilo que era, na verdade, o salário anual”, disse Leão.
“Ela foi vítima de um ataque completamente desmesurado do presidente da República no debate da Bandeirantes, e ele veio aqui incrivelmente com a intenção de, como eles gostam de falar, lacrar. Eu entendo que a única solução possível naquela hora era afastá-lo da lacração e, por isso, então, eu interrompi a gravação que ele estava fazendo como forma de separá-lo da Vera no momento daquela agressão”, conclui o diretor de Jornalismo.
🗣️ “Ele veio aqui visivelmente com a intenção de ‘lacrar’. A única solução possível naquele momento era afastá-lo da ‘lacração’”, disse Leão Serva sobre o momento em que tirou o celular da mão de Douglas Garcia, que “já tem uma prática de assédio a @veramagalhaes há um bom tempo” pic.twitter.com/yErInE6TKF
— UOL Notícias (@UOLNoticias) September 14, 2022
‘Democracia pressupõe imprensa livre’
Já em casa, na madrugada desta quarta-feira (14), Vera veio a público explicar o que aconteceu. Ela estava sentada na primeira fileira do auditório onde ocorria um debate entre os principais candidatos ao governo de São Paulo quando Douglas “se ajoelhou” na frente dela e começou a gravá-la sem que ela percebesse.
Eu estava sentada na primeira fileira vendo meu celular. Vou registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra o deputado Douglas Garcia, do PL. Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe de Tarcisio Freitas no debate apenas para vir mentir e me acossar e ameaçar
— Vera Magalhães (@veramagalhaes) September 14, 2022
“Isso não é aceitável. O Brasil é uma democracia, uma democracia pressupõe imprensa livre”, desabafa a jornalista. Vera Magalhães recordou o episódio em que Jair Bolsonaro (PL) a agrediu verbalmente, apontando que desde então vem sendo atacada.
“Eu estou sofrendo ataques violentos e virulentos de uma base bolsonarista autorizada pelo presidente da República, porque ele me atacou e essa base se sente autorizada a repetir os ataques”, continuou.
A jornalista afirma que vai registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra o deputado Douglas Garcia. “Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe de Tarcisio Freitas no debate apenas para vir mentir e me acossar e ameaçar”, escreveu no Twitter.
Nomes como o ex-presidente Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) usaram as redes sociais para manifestar repúdio ao episódio que vitimou a jornalista. Compartilhando o vídeo no qual Leão Serva explica a reação dele, Vera agradeceu ao “jornalista premiado, ser humano de melhor qualidade”.
Deputado registra boletim de ocorrência
Na manhã de hoje, Douglas publicou um vídeo no qual disse que não se arrepende do ocorrido. Ele alega que Leão Serva jogou o celular para longe na intenção de quebrá-lo e, assim, excluir supostas provas de que não houve agressão contra Vera.
“Os jornalistas começaram a me atacar dizendo que eu estava divulgando fake news, inclusive a própria senhora Vera Magalhães. Então eu fui questioná-la pessoalmente em relação ao contrato firmado com a Fundação Padre Anchieta. Foi apenas isso que aconteceu”, disparou.
“A Vera Magalhães está espalhando por aí que eu a agredi. Isso é mentira. Eu vou processar ela e quem divulgar isso por calúnia! Eu apenas a questionei educadamente, mas ela e seus amigos reagiram com agressividade”, escreveu, compartilhando o vídeo da discussão.
Sobre o caso Vera Magalhães e Leão Serva:
— Douglas Garcia – 1070 Dep Federal (@DouglasGarcia) September 14, 2022
boletim de ocorrência registrado. pic.twitter.com/MeNGeV3Z3G