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Sobre O Boêmio e a alma de um bar

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O Boêmio, localizado no Edifício Central.
O Boêmio, localizado no Edifício Central.

Me disseram uma vez que eu tinha que parar de personificar comércios. Ignorei o conselho, pois acho inevitável atribuirmos características humanas a negócios que representem tanto para nossas vidas. Quem não consegue enxergar isso está morto por dentro.

Alguns comércios adquirem vida própria com mais frequência que outros. Uma loja, por exemplo, acaba por ser transacional demais. Não vamos com frequência e não nos delongamos muito. Já um bar participa de diversos momentos das nossas vidas. Desde os mais corriqueiros como um almoço corrido e um delivery, até os mais representativos, como uma comemoração de aniversário ou o primeiro encontro do casal.

E esse tal de dar adjetivos demais ao bar, acaba fazendo com que ele tenha alma.

Nada contra os desalmados, porque isso por si só não é garantia de qualidade. A alma não testemunha sobre atendimento, comida ou preço. Ela é o símbolo de que aquele lugar tem uma personalidade, quase que vida própria. A alma resume as impressões que os clientes possuem do bar.

E é aí que tá. Como uma loja de alvenaria começa a construir essa tal personalidade? Como ela ganha contornos poéticos a ponto de identificarmos que ela tem alma? E a resposta é: A alma do bar reflete a personalidade do dono.

Simples assim.

Ao começar um negócio, talvez o dono não perceba, mas está imprimindo sua personalidade nas paredes. De tal forma que acredito ser impossível um empreendedor atribuir características ao negócio que sejam tão contrárias às suas próprias, e ter sucesso na empreitada. Nós, seres humanos criteriosos com o dinheiro que podemos gastar, gostamos da VERDADE. O que é autêntico nos encanta e automaticamente atrai pessoas que se identificam. Atrai até mesmo pessoas que não se identificam, mas se aproximam pela força que tem a verdade de alguém.

E assim, chegamos na parte mais importante desse post: A alma de Saimon Bessa. Sua personalidade está estampada em seu bar, O Boêmio. A loja de poucos m² no Edifício Central foi o primeiro bar/restaurante a funcionar a noite no prédio. E nesse pouco tempo de estrada, o bar conquistou lojistas e trabalhadores do Central – público que Saimon queria atingir primeiro – e a população boêmia de Belo Horizonte. Na informalidade do trato, na simplicidade da proposta e na transparência do negócio, quem vai no Boêmio vê verdade.

Estufa do bar O Boêmio, de onde saem petiscos em pequenas porções, totalmente preparados antes da operação.
Estufa do bar O Boêmio, de onde saem petiscos em pequenas porções, totalmente preparados antes da operação.

É tudo bem simples. Na cozinha, que fica ali mesmo no balcão, 2 bocas de fogão. Dela saem os preparos que vão para a estufa, viabilizando o atendimento noturno. Durante a operação não tem preparação. Provamos as gostosas almôndegas de porco e a suã carnuda. Ambas custam R$ 20 e são servidas com um excelente pão da Bagueteria Francesa e com um delicioso molho de tomate. Comemos também a carne de panela com batatinhas (R$ 25). Ela é servida com um delicioso molho de cerveja clara, que pedimos colher para finalizar.

Para beber, rótulos selecionados para o dia, das cervejarias Astúcia, Mills e Pedrosa. Os barris ficam em uma câmara fria no teto, um dos melhores aproveitamentos de espaço que vimos nos últimos tempos. Os copos de 450ml custam R$ 14 ou R$ 18, a depender do estilo escolhido. Drinks belo-horizontinos como o Lambe Lambe e a Caipi do Vô, custam entre R$ 20 e R$ 23.

Uma bela pedida no Boêmio: Almôndegas de porco no molho de tomate, pãozinho perfeito, conserva de pimenta e uma Cacau Porter da Mills.
Uma bela pedida no Boêmio: Almôndegas de porco no molho de tomate, pãozinho perfeito, conserva de pimenta e uma Cacau Porter da Mills.

As mesas do terraço estavam todas ocupadas, símbolo da segunda feira de recorrente sucesso do bar. Trocamos então a vista pelo balcão, onde observamos com carinho o lido com os clientes, a rapidez no serviço e a alegria com a qual conduzem o bar. Ali fizemos amigos, ouvimos fofoca, bebemos e comemos bem. A alma do Boêmio é tão real que acredito estar presente mesmo quando o Saimon não está por ali.

O Boêmio abre de segunda a sábado, sempre na parte da noite. Definitivamente vale a visita.

Pedro Costa

Deixou a carreira de gerente comercial para se dedicar totalmente a sua paixão: O universo da gastronomia. À frente de bares e projetos do ramo, é belo-horizontino com o maior orgulho possível, cozinha por gosto e também por obrigação e não dispensa uma boa festa.
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