Após críticas a cena de ‘racismo reverso’, autora de ‘Nos Tempos do Imperador’ admite erro e se desculpa

nos tempos do imperador
O texto da cena, exibida no último sábado, dá a entender que pessoas brancas sofriam preconceito durante o período escravocrata brasileiro (Reprodução/@nostemposdoimperador_/Instagram)

A autora de “Nos Tempos do Imperador”, da TV Globo, pediu desculpas por uma cena de “racismo reverso” – ideia equivocada de que pessoas brancas sofrem racismo – exibida no último sábado (21). A telenovela, exibida no horário das 18h, retrata o período do Brasil Império trinta anos após a independência do Brasil ser proclamada.

No capítulo, o personagem negro Samuel, interpretado por Michel Gomes, lamenta que Pilar (Gabriela Medvedovski), mulher branca, não possa morar com ele. “Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como que queremos ter os mesmo direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?”, questiona.

Pelo Instagram, o ativista AD Junior criticou duramente o texto da novela, que dá a entender que pessoas brancas sofriam preconceito durante o período escravocrata brasileiro. “São cenas como essa que viram verdades para pessoas desinformadas sobre o período da escravidão. […] Aplicar o conceito de racismo reverso numa fala é muito perigoso e essa cena vai morar na cabeça de milhares de pessoas. Um desserviço total!”, escreveu.

A publicação levantou um ampla discussão sobre o racismo estrutural na história brasileira. Diversos outros ativistas negros se manifestaram, nos comentários, com incredulidade. “Tem coisa que já cansou!”, desabafou uma pessoa. O ator Helio de la Peña também usou o espaço para expor sua opinião. “Bola fora total! Uma cena que marca e deseduca. Lamentável”, disse.

‘Erro grosseiro’

Ainda pelos comentários da publicação de AD, a autora da novela, Thereza Falcão, lamentou o que chamou de “erro grosseiro”. Ela se justificou dizendo que em 2018, quando a novela foi escrita, a equipe não contava com uma “assessoria especializada”.

“Foi péssimo. Pedimos muitas desculpas. Eu mesma quando vi a cena aqui em casa, falei: o que foi isso? Todos os capítulos que vão ao ar até o 24 foram escritos em 2018, gravados na ampla maioria em 2019. Na época não contávamos com uma assessoria especializada, o que só aconteceu no ano passado, com a entrada do Nei Lopes”, disse.

Apesar das explicações, diversos internautas questionaram a ausência de pessoas negras na equipe de roteiro e direção da telenovela. “Legal seu comentário, mas não acredito nesse tipo de desculpas porque vocês fazem assim, sempre. Já partem errados na largada, com enredo medíocre, com argumentos mais medíocres ainda, porque são tão descolados da realidade que ainda insistem em produtos imperialistas”, respondeu o influencer Roger Cipó.

Racismo reverso não existe

Vale ressaltar que o racismo reverso é um termo que não existe. Segundo o site Alma Preta, “o racismo é fruto de um mito criado sobre a cor de pele negra na qual o fenótipo (conjunto de características físicas de uma pessoa) são os escolhidos para terem criado um ódio e características negativas à pessoas com concentração alta de melanina. A essas pessoas foram atribuídas diversas características negativas (gente amaldiçoada, suja, violenta, cabelo duro e ruim e etc), sustentadas pelas elites sociais em todas as épocas da história da humanidade, que se inseriram e perpetuaram no imaginário social, mantidas até os dias atuais”.

Veja mais explicações abaixo e o artigo completo aqui.

“Ao contrário do racismo, como já vimos que é um fenômeno antinegro, o preconceito pode ter muitas vertentes, entre elas a própria questão racial, mas não só ela. Pode-se ter preconceito pela roupa de uma pessoa, o cabelo, o local onde mora, a orientação sexual, enfim uma quantidade infinita de tipos preconceitos.

Por isso, quando uma pessoa branca sofre algum tipo de agressão verbal relacionada à sua cor, ela não pode dizer que sofreu racismo reverso, porque o racismo é única e exclusivamente direcionado a pessoa negra. A pessoa branca nesse caso sofreu um preconceito, uma discriminação ou uma injúria racial que esta relacionada á ofensas contra a honra da vítima, independente de seu fenótipo. Racismo é um crime histórico que foi criado pelo ódio à etnia negra e que matou e continua a matar milhares de pessoas negras em todo o mundo”.

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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