O diretor-geral de Jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, enviou aos profissionais da emissora um e-mail onde dá dicas de como eles devem se portar nas redes sociais ao comentarem assuntos relacionados a diversos temas, entre eles a política.
A mensagem é uma resposta aos áudios do âncora do Bom Dia Brasil, Chico Pinheiro, que foram divulgados nos últimos dias. Neles, o jornalista lamenta a prisão de Lula e afirma que “a direita está louca. Os coxinhas estão perdidos”. Apesar de não citar Chico, Kamel destaca que “não se pode expressar essas preferências publicamente”.
A divulgação dos áudios é, para Kamel, uma forma de contaminar o ambiente de trabalho e que isso afeta até mesmo o público. “É impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento”, disse. O diretor ainda destacou que a emissora é “apartidária, independente, isenta e correta” e que quando áudios como o de Chico são divulgados a emissora é danificada.
Os áudios de Chico foram enviados para um grupo de WhatsApp com políticos de esquerda, além de outros jornalistas. “Realizaram o fetiche. O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi feito do jeito que eles queriam, mas o Lula foi. E agora?”, indagou em outro trecho.
Confira a íntegra do e-mail enviado por Ali Kamel aos profissionais.
Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.
Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos. Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento. Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito. A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):
“A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos: (…) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.”
É com isso em mente que envio esse e-mail.
Ali
