Comentário de Nego Di sobre Gilberto levanta discussão sobre colorismo

nego di e gilberto
Para humorista, participante do BBB não é negro (Reprodução/Rede Globo)

“Ele é um pouquinho sujinho. Se esfregar bem…”. A fala de Nego Di, participante do BBB 21, levantou uma discussão sobre colorismo nas redes sociais. O humorista disse a frase, que abre esta reportagem, ao se referir a Gilberto afirmando que o confinado não é negro. O tema foi um dos mais comentados na web e fez Tiago Leifert abordar o assunto na edição de ontem (5).

O colorismo é um termo utilizado para diferenciar as várias tonalidades da pela negra. No Brasil, conforme explica o advogado e historiador Gilberto Silva, teve início na época da escravidão. “O colorismo tem relação, justamente, com a miscigenação que houve no Brasil, em relação aos estupros das mulheres negras escravizadas. Os senhores de engenho faziam práticas sexuais e começou a miscigenação no país”.

O estudioso destaca que o “pensamento europeu” que vigora no Brasil amplia o preconceito existente. “Quando falamos de colorismo, nos referimos ao pensamento de quanto menos retinta [escura] a pele, mais a pessoa é aceita. Daí surgiu a expressão moreno para diminuir os efeitos do racismo. Temos pessoas negras com tonalidade de pele mais clara e elas são mais aceitas nos campos social e econômico”, diz.

“As pessoas mais escuras têm menos oportunidade emprego, de aceitação na sociedade e vive no cotidiano a questão do racismo na essência”.

‘Falácia’

Tiago Leifert destacou na edição de ontem que a etnia é definida por autodeclaração. “Do ponto de vista do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que faz o nosso censo, o que vale mesmo é a autodeclaração. Então para nosso país, na hora do censo, a pessoa que declara qual é a cor da pele dela”, destacou. Por conta disso, Gilberto é negro, já que é assim que ele se autodeclara.

A fala de Nego Di de que Gilberto “é um pouquinho sujinho”, não passa de “falácia”, conforme ressalta Silva. “A gente não pode cair na falácia de que a pessoa, por ter a pele menos retinta, que basta esfregar que vai se tornar branca. Até uma pessoa retinta, se ela não tiver contexto histórico de sua negritude, ela pode ser tornar um não negro”.

Silva exemplifica a fala com o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo. “Apesar de ser preto retinto, ele vem desconstruindo toda negritude com os posicionamentos. Não basta ser preto, tem que se reconhecer no contexto histórico e levantar a bandeira para deixarmos de ser discriminados e deixados à margem da sociedade”.

Racismo

O colorismo, segundo Silva, “reforça o racismo” existente em nossa sociedade e o fato é lamentado por ele. “Em plena modernidade, onde temos chuva de informações e ensinamentos, ainda prevalece este tipo de pensamento. E pensamentos deste tipo se sustentam não só com BBB, mas com lideranças do país que reforçam este tipo de discriminação e racismo com discursos de ódio e alimentando o racismo estrutural”.

Repercussão

Após os brothers falarem sobre colorismo, o termo foi amplamente pesquisado na web, conforme publicação realizada por Boninho, diretor da atração. No Twitter, por exemplo, o assunto também foi um dos mais comentados pelos usuários da rede social. “Colorismo não é sinônimo de negrometro. Mas no Brasil virou isso através de discursos que muitas vezes são utilizados para silenciar pessoas negras entre pessoas negras”, disse Winnie Bueno.

Edição: Vitor Fernandes
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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