“Não existe nada mais importante, principalmente para quem fala com jovens, do que se informar a respeito da depressão.” O desabafo do youtuber Felipe Neto nas redes sociais, publicado na noite desse domingo (1º), contrapõe uma fala humorista Carlinhos Maia, sobre a depressão em jovens, que tem dado o que falar entre internautas de todo o Brasil.
Em sua página oficial, Carlinhos Maia havia publicado uma série de ataques destinados a adolescentes que ameaçam se matar. Em um trecho do vídeo, o humorista chegou a incentivar que jovens se suicidassem “Vai, ô, imbecil. Vai se matar porque você nem começou a vida ainda”, disse.
“Se você ouviu algum influenciador, ou alguma pessoa, falando que se você tiver 16 anos, e você está se sentindo com vontade de se matar, tem mais é que se matar mesmo, pelo amor de Deus, ignore isso. Ignore completamente. A sua dor é legítima. O seu sofrimento é real, e é legítimo. E ninguém pode tirar isso de você, e ninguém pode dizer que isso não é”, reagiu Felipe Neto, sem citar nomes.
Atenção aos próximos stories.
— Support Felipe Neto ⓢ (@SupportFeNeto) September 2, 2019
Em seu instagram, @felipeneto comenta sobre a necessidade em se informar acerca da depressão e o cuidado que se deve ter ao falar sobre o assunto.
Confira o vídeo mencionado: https://t.co/cGtkmq9wRi
[segue a thread] pic.twitter.com/oBe9lTSzQD
Nesta segunda-feira (2), Carlinhos Maia disse, por meio do Instagram, que seus comentários não eram sobre a depressão. “Em momento nenhum falei sobre depressão, o assunto é gente que quer desistir na primeira pancada e cobiça o que quer do outro”, disse.
O humorista disse que, em momento algum, citou distúrbios psicológicos.
“É sobre quem mal começou a vida e já quer o que é do outro. Já acha que a sua vida não está perfeita, fica olhando a grama do vizinho crescendo e a sua não crescendo”, comentou.
Carlinhos disse ainda que não falou para nenhuma pessoa de 16 anos diretamente.”Fiz uma reflexão em cima, são coisas que eu recebo e fiz uma reflexão em cima”, explicou.
Na rede social, o humorista ressaltou que seu objetivo era incentivar os mais jovens a conversar com pessoas mais velhas para entender que “a vida de todo mundo nunca foi fácil e mesmo assim elas não desistiram.”
De acordo com o influenciador, existe um grupo de perseguição que cortam trechos de seus vídeos para criar polêmicas.
O que a lei diz sobre isso?
Felipe Neto também publicou um trecho do artigo 122 do Código Penal – Decreto Lei 2848/40, que discorre sobre as penas para quem “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça”.
De acordo com o Código Penal, a pena para esses casos é de reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Podendo ser duplicada caso o crime é praticado por motivo egoístico; ou em casos nos quais a vítima é menor ou tem a capacidade de resistência diminuída, por qualquer causa.
Só passando pra lembrar que pic.twitter.com/MQiTAZHq1E
— Felipe Neto (@felipeneto) September 2, 2019
A influenciadora e advogada Babi Magalhães, respondeu ao tweet de Felipe Neto, e explicou que “o crime só se consuma com a efetiva morte da pessoa ou se do induzimento ou instigação resultar lesão corporal grave (nesse caso na forma tentada) pelo amor de deus galera, o cara é um boçal mas bora evitar mais desserviço”.
Segundo ela, o artigo se refere a pessoa determinada, e não existe induzimento ou instigação para pessoa não determinada. Ou seja, como Carlinhos Maia não mencionou nenhum jovem especificamente, não poderia se enquadrar nessa pena.
Felipe, é pessoa determinada. Nao existe induzimento ou instigação pra pessoa não determinada.
— Babi (@babi) September 2, 2019
OBVIAMENTE É UM GATILHO LIXO, nisso eu nao discordo, critiquei hj inclusive. Mas o tipo penal nao se amolda ao caso em tela.
Ao BHAZ, o professor universitário e advogado criminalista Ricardo Fonte Bôa explicou que, ainda que o fato seja reprovável no campo moral, não é possível falar de responsabilidade penal. Isso porque, aparentemente, o humorista não se dirigiu à uma pessoa específica.
“Se estava abstrato e genérico não tem como falar que é crime do (artigo) 122. Nem que é apologia ao suicídio, porque o nosso Código Penal não pude a auto-lesão”, disse. “Tem que determinar a vítima, até mesmo para instaurar o inquérito”, acrescentou.
Setembro amarelo
Diagnosticado com depressão há dez anos, Felipe Neto aproveitou a oportunidade para disseminar informações sobre o Setembro Amarelo, campanha criada em prol da prevenção ao suicídio, que começou nesse domingo. “O que você tem é uma doença. Não é frescura, não é ‘baitolice’, não é nada que não seja sintoma de doença”, explicou.
Em um texto publicado em seu perfil no Instagram, o youtuber ainda explicou que “a depressão não se cura sozinha, não ‘passa’ e não é ‘uma fase'”.
“Como qualquer outra doença, a depressão precisa de ajuda médica e tratamento. Se você tiver uma pneumonia, vai esperar passar? Não. Então, caso você esteja manifestando qualquer sintoma de depressão, chame seus pais, amigos, familiares e CONTE. Fale! Coloque pra fora, olhando nos olhos. Apenas diga: ‘eu sinto que estou com depressão e preciso de ajuda’. A partir daí, o próximo passo é buscar profissionais da área de saúde mental que possam ajudar”, disse.
Confira a publicação:
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Felipe Neto (@felipeneto) em
O nome de Carlinhos Maia permaneceu nos Trending Topics do twitter durante a manha desta segunda-feira (2), ao lado da hashtag #Chernobyl – o desastre nuclear catastrófico de 1986 tem sido utilizado pelos internautas para se referir à pessoas e/ou situações tóxicas.
Prevenção ao suicídio
Você sabia que as ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que auxilia na prevenção do suicídio, são gratuitas?
Por meio do número 188, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados. Também é possível ser atendido por chat ou email, disponíveis no site www.cvv.org.br.