Novela tem primeiro beijo de homem trans com mulher cis na história da TV aberta brasileira

Primeiro beijo com homem trans globo
Artistas se pronunciaram sobre a cena (Reprodução/@tvglobo/Twitter)

Pela primeira vez na história da televisão aberta brasileira, um homem trans e uma mulher cis protagonizaram um beijo na boca. A cena foi exibida na noite dessa quarta-feira (14), na novela das 19h da TV Globo, “Salve-se Quem Puder’. O personagem Catatau, interpretado pelo ator Bernardo de Assis, um homem transexual, e Renatinha, interpretada pela atriz Juliana Alves, tornaram-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.

Na cena, Catatau é alvo de transfobia dentro de um restaurante. Durante a discussão, Renatinha defende o amigo, que diz às pessoas que o atacaram: “Dois ignorantes. Preconceituosos! Se é show que vocês querem, é show que vocês vão ter”. Nesse momento, o personagem de Bernardo beija Renatinha. A cena é seguida por aplausos dos demais clientes no local.

“Me sinto muito honrada em fazer parte dessa cena emblemática na história da teledramaturgia: o primeiro beijo entre um homem trans e uma mulher cis em uma televisão aberta. É gratificante para mim, enquanto atriz, poder usar o meu trabalho para trazer representatividade e ajudar a normalizar o amor em todas as suas formas”, disse a atriz que interpreta Renatinha, em rede social.

A artista ainda discute a importância do beijo para a quebra de preconceitos. “Qual a força do beijo? Grande símbolo do amor, o beijo pode representar muito mais que um gesto de carinho. Um beijo pode ser transformação e também luta”, escreveu. “Por que esse beijo é tão simbólico? Em um país que aumentou a violência contra mulheres negras e no país que mais mata pessoas LGBTQI+ no mundo, essa cena simboliza o reconhecimento do nosso direito de ter uma vida digna e de ser feliz”, continua.

Feitos históricos

Juliana lembra de outros marcos históricos de pessoas trans. “Reverencio Glamour Garcia (atriz do primeiro beijo trans-cis na televisão brasileira), Rogéria (primeira pessoa trans na TV do país) e, principalmente, meu companheiro de cena Bernardo Assis, que emprestou todo seu talento ao Catatau para tornar possível esse trabalho incrível!”, disse. A atriz termina o texto agradecendo a Daniel Ortiz, o autor da novela, e deixa uma reflexão: “A igualdade e o respeito deve ser uma luta de todes! Vamos juntes!”.

O primeiro beijo na televisão aberta brasileira envolvendo uma pessoa trans aconteceu em 2019, na novela “A Dona do Pedaço”, escrita por Walcyr Carrasco. A cena foi protagonizada pelos personagens Britney, interpretada pela mulher trans Glamour Garcia, e Abel, interpretado pelo ator Pedro Carvalho.

A cena também foi comentada pela atriz Vitória Strada, que interpreta a protagonista Kyra na novela. “Tão necessário essa cena da Renatinha com o Catatau! Colocar um personagem trans e não resumir ele a isso mas mostrar a quebra do preconceito, é sobre isso! #SalvaseQuemPuder que orgulho!”, disse.

Transfobia é crime

Em junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero é crime. Com a decisão da Corte ficou definido o seguinte:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de 2 a 5 anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.

Nos votos que fizeram durante a sessão, os ministros fizeram ressalvas a respeito de manifestações em templos religiosos. Os espaços não serão criminalizados por dizer que são contra as relações homossexuais. No entanto, não podem incitar ou induzir, mesmo que no interior de suas dependências, discriminação ou preconceito.

Como denunciar?

As denúncias de crimes LGBTfóbicos podem ser realizadas em delegacias especializadas em crimes de ódio e nas comuns. Em Belo Horizonte, há a Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Racismo, Xenofobia, Homofobia e Intolerâncias Correlatas. O espaço fica na avenida Barbacena, 288 – Barro Preto, na região Centro-Sul da capital.

Nenhum agente pode se recusar a abrir um boletim de ocorrência quando solicitado. Se a vítima for menor de 16 anos, os casos também pode ser direcionados aos conselhos tutelares.

Além das delegacias, outras instituições auxiliam pessoas LGBTQIA+, como as defensorias públicas, núcleos especializados da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ongs como a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo) e a Cellos (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais).

Em casos de crimes em ambientes virtuais, a orientação é de que as vítimas juntem provas, como prints, áudios, fotos e vídeos, se possível, e procurem as autoridades.

Edição: Vitor Fernandes

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