Zé Neto recebe críticas por homofobia em live e internautas apontam desconforto de cantora

Zé Neto
Cantor fez imitação ‘afeminada’ ao vestir uma camisa do São Paulo (Reprodução/Zé Neto e Cristiano/Youtube)

O cantor sertanejo Zé Neto, da dupla com Cristiano, recebeu críticas nas redes sociais por uma ação considerada homofóbica após fazer uma imitação “afeminada” ao vestir uma camisa do São Paulo, depois de perder uma aposta. Internautas sinalizaram que a cantora Luiza, da dupla com Maurílio, deixou a transmissão após ficar desconfortável com as “brincadeiras” feitas pelo artista. No final da live, Zé Neto pediu desculpas “se alguém se sentiu ofendido”.

“Coloquei esta camisa e estou me sentindo super bem, tô super tranquilo agora. Tá vindo um ventinho gelado, não tá?”, comentou Zé Neto após vestir a camisa do time, enquanto dava pulos, virava as mãos, empinava o quadril e imitava gestos atribuídos a homens gays, rindo.

A zombaria já começou a incomodar os espectadores da live, que se manifestaram nas redes sociais. “2021 e ser LGBT ainda é motivo de piada pra hétero”, comentou uma internauta. “Mimimi = a dor que dói no outro não me incomoda. Só quem é LGBT+ sabe a dor que esse tipo de ‘brincadeira’ nos trás. Em pleno 2021 os caras acham ok fazer isso? Se eu já detestava sofranejo, por N motivos, agora mais ainda!”, publicou outro.

Luiza deixa a live

Em outro momento da transmissão, os usuários apontaram uma aparência de desconforto na cantora sertaneja Luiza, que é lésbica, enquanto os outros participantes conversam. “Sabe o que eu acho? Viva as diferenças. Cada um goza por onde gosta. E, gente, é meu jeito”, disse Zé Neto enquanto os artistas criticavam a “geração da internet”.

Pouco depois, Luiza sinalizou que queria ir ao banheiro e deixou a live, mas não voltou mais. Para alguns internautas, ela saiu da transmissão por estar incomodada com o comportamento dos colegas. Durante a live, a namorada da cantora, a ex-BBB Marcela Mc Gowan, ainda escreveu no Twitter: “inacreditável”, sem dar mais detalhes.

Pedido de desculpas

Depois que a sertaneja deixou a transmissão, Zé Neto pediu desculpas pelas piadas e disse que “a intenção foi brincar”: “Se alguém se sentiu ofendido, do fundo do meu coração, essa não foi minha intenção. A minha intenção foi brincar, a gente tá zoando um negócio aqui que não tem nada a ver, mas me desculpe se alguém realmente se sentiu ofendido, peço desculpas aqui ao vivo”.

“Não tô preocupado se vão me cancelar, se vão me linchar, se vão fazer qualquer coisa. Eu estou falando por sentir que talvez eu tenha me expressado mal, talvez o pessoal tenha entendido mal. Isso aqui é tudo uma brincadeira, eu tenho pessoas gays na minha família, eu tenho gays como amigos, que trabalham comigo, não tenho nenhum tipo de preconceito com ninguém que tenha nenhum outro tipo de opção. Não é opção, a pessoa nasce desse jeito e a gente respeita”, concluiu.

LGBTfobia

Há mais de 20 anos, ainda em 1990, a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a homossexualidade da lista de doenças. No entanto, a luta por equidade, bem-estar social e qualidade de vida da população LGBTQIA+ segue diária. Em 17 de maio, comemora-se o Dia Internacional da luta contra a LGBTfobia e, no Brasil, a data é ainda mais importante. É que o país é o que mais mata e discrimina pessoas LGBTQIA+. Em 2020, segundo o Relatório: Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil, produzido pelo Grupo Gay da Bahia, 237 LGBT+ tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: foram 224 homicídios e 13 suicídios.

E engana-se quem acredita que a LGBTfobia só ocorre quando há violência física. Em 2017, por meio de dados do Disque 100, que recebe denúncias, a Transgender Europe identificou que a maior parte dos relatos da comunidade LGBTQIA+ diz respeito à violência psicológica, que inclui ameaças, humilhação e bullying. Tais comportamentos podem afetar a saúde mental das pessoas e levá-las, até mesmo, ao suicídio e à depressão.

Homofobia é crime

Em junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero é crime. Com a decisão da Corte ficou definido o seguinte:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;

  • a pena será de um a três anos, além de multa;

  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de 2 a 5 anos, além de multa;

  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.

Nos votos que fizeram durante a sessão, os ministros fizeram ressalvas a respeito de manifestações em templos religiosos. Os espaços não serão criminalizados por dizer que são contra as relações homossexuais. No entanto, não podem incitar ou induzir, mesmo que no interior de suas dependências, discriminação ou preconceito.

Como denunciar?

As denúncias de crimes LGBTfóbicos podem ser realizadas em delegacias especializadas em crimes de ódio e nas comuns. Em Belo Horizonte, há a Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Racismo, Xenofobia, Homofobia e Intolerâncias Correlatas. Nenhum agente pode se recusar a abrir um boletim de ocorrência quando solicitado. Se a vítima for menor de 16 anos, os casos também pode ser direcionados aos conselhos tutelares.

Além das delegacias, outras instituições auxiliam pessoas LGBTQIA+, como as defensorias públicas, núcleos especializados da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ongs como a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo) e a Cellos (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais).

Em casos de crimes em ambientes virtuais, a orientação é de que as vítimas juntem provas, como prints, áudios, fotos e vídeos, se possível, e procurem as autoridades.

Homofobia contra a coletividade

Nas últimas semanas, famosos como Caio Castro, Rafa Kalimann e Patrícia Abravanel receberam críticas por conta de ações consideradas homofóbicas. Os dois primeiros compartilharam o vídeo de um pastor que dizia ser contra o casamento entre dois homens. Já a filha de Silvio Santos foi alvo de repúdio por minimizar a discussão a respeito de comportamentos homofóbicos. Eles podem ser punidos?

Como as ações dos famosos não foram direcionadas a uma pessoas específica, é necessário que entidades de defesa da população LGBTQIA+ representem contra eles por meio de ações civis públicas em prol da coletividade. Foi o que ocorreu com Patrícia Abravanel e o SBT, que tornaram-se alvo de duas denúncias de LGBTfobia protocoladas pelo Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e Gênero e pela Associação Brasileira de Mulheres LBTIs. As denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público Federal e à Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo.

A partir das denúncias, os grupos esperam que a emissora e a apresentadora sejam punidos e, em caso de indenizações, que os valores sejam revertidos em ações de combate ao preconceito.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!