Jacyntho Brandão é eleito para Academia Mineira de Letras e fala sobre planos

Jacyntho Brandão é o mais novo membro da Academia Mineira de Letras

O doutor e professor da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, Jacyntho Lins Brandão, foi eleito, com 32 votos, para a cadeira de número 25 da Academia Mineira de Letras. O espaço estava vago desde o falecimento do ex-governador Francelino Pereira dos Santos, em dezembro passado. Jacyntho, que é uma das figuras mais importantes dos estudos clássicos no Brasil, é professor titular de língua e literatura grega da Faculdade de Letras.

Jacyntho é um dos poucos no Brasil que conhece o acádio, uma língua já extinta, de origem semita, que era falada na região da Mesopotâmia. O professor é o responsável pela tradução, diretamente do acádio, de um dos mais antigos registros literários de que se tem conhecimento, que deu origem ao livro: “Ele que o abismo viu: a Epopeia de Gilgamesh” (336 páginas, Editora Autêntica).

O professor publicou diversos volumes de teoria literária, nos quais se ocupa geralmente da literatura grega clássica, do ensino de grego antigo e da filosofia grega (particularmente Platão). “Eu gostaria de ter mais tempo para escrever, mas eu não me permito por conta dos meus trabalhos. Considero-me um autor bissexto, como dizia Manuel Bandeira”, diz o professor.

Brandão recebeu a reportagem do Bhaz para uma conversa sobre a escolha do seu nome para a Academia Mineira de Letras. Segundo ele, fazer parte do grupo é uma novidade. “Eu nunca havia pensado nisso, mas acho interessante”, comenta. Jacyntho falou também sobre seus planos para o futuro, sobre o espaço da literatura no mundo dominado pela tecnologia, e também sobre a morte de seu filho, Pedro Guadalupe, idealizador do portal Bhaz.

Qual a importância dessa entrada na Academia Mineira de Letras para o senhor?

A princípio, a academia é só o conjunto de pessoas que compõem uma entidade cultural. Mas, é importante. A academia conta com pessoas de várias gerações, tendências e profissões, como escritores, jornalistas, políticos. É um espaço de convivência para encontrar pessoas, sem nenhuma obrigação prevista.

Agora que o senhor faz parte deste seleto grupo, quais são os projetos?

A proposta colocada é fazer com que a Academia se assuma como espaço cultural. Ela tem uma localização ótima, no Centro da cidade, com um auditório sensacional e uma grande biblioteca. Porém, o acervo ainda está sendo organizado e deve ser disponibilizado em breve. Há uma perspectiva boa pela frente. Se eu puder ajudar na transformação da academia em um projeto de caráter social, será muito interessante. O mais difícil será fazer com que as pessoas se acostumem com esse espaço cultural.

Em relação aos livros e peças de teatro, tem algum plano para o futuro?

Como professor, faz parte do meu trabalho escrever muitas coisas, principalmente sobre literatura grega antiga, que é a minha área. Mas, eu sempre penso que eu deveria ter mais tempo para escrever, mas, eu não me permito fazer isso por conta dos meus trabalhos. Como já dizia Manuel Bandeira, sou um escritor bissexto, faço coisas esporádicas. Mas, eu estou sempre escrevendo alguma coisa. Neste momento, estou trabalhando em uma análise de um poema babilônico de 130 versos sobre a ‘Descida de Easter – a deusa do amor – ao mundo subterrâneo’. Meus projetos são mais alongados, pois eu busco fazer uma tradução poética próxima dos textos e de seu contexto.

A evolução tecnológica trouxe novos hábitos para a sociedade. O senhor acredita que a cultura literária esteja ameaçada?

Na cultura, há muita coisa que se perde. Como professor, vejo muitos alunos mais novos que, conforme os anos avançam, vão trazendo novas maneiras de falar e agir. Mas, o importante é cultivar o meio comum, de convivência social, que é onde nasce a cultura e os povos se entendem. O que observamos diante das tecnologias é que, hoje em dia, as pessoas não se entendem mais, principalmente no Facebook. Em outro aspecto, essa mudança cultural também parte da escola. Há a ideia, por exemplo, de que a literatura não serve para nada. Até concordo, mas isso não significa que ela não deva existir. É um conhecimento que serve para que as pessoas vejam quem elas são e reconheçam seu papel na cultura e na sociedade. E isso tudo pode ser perdido caso a educação seja voltada para o mercado e não para a preparação do ser humano. Isso sim, pode ser extremamente prejudicial.

Recentemente, o senhor perdeu um filho, Pedro Guadalupe, em um acidente. Ele estava empolgado com a chance de sua eleição à academia. Sua conquista pode ser considerada uma homenagem a ele?  

Realmente, o Pedro gostaria muito de participar deste momento. Quando surgiu esse assunto de academia, ele queria fazer uma campanha para mim como se fosse uma propaganda política (Jacyntho se emociona). Estou muito triste ainda. Continuo dando aulas, escrevendo e já tive o tempo social para o luto. Neste momento, todos esperam que você toque a vida. Por outro lado, a gente faz de conta que melhorou, mas, no fundo, não melhorou nada. Mas, acredito que essa entrada na academia pode ser considerada, sim, uma homenagem ao Pedro.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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