Candidatas mineiras com poucos votos em 2016 voltam à disputa eleitoral

Arte Pollyanna Dias

Por Lara Alves

Em 2016, Áurea Carolina (PSOL) recebeu 17.420 votos e foi a vereadora mais votada de Belo Horizonte. Uma vitória inédita. Em 2018, ela resolveu disputar novamente: agora aspira a uma cadeira na Câmara dos Deputados e batalha em sua campanha para repetir o feito nas urnas. A dobradinha das mulheres que pleiteiam um cargo de vereadora em uma eleição e, dois anos depois, concorrem a deputada estadual ou federal não é novidade no meio político. No entanto, poucas candidatas conseguem o resultado da vereadora do PSOL. Algumas recebem uma quantidade significativa de votos, mas não se elegem e aproveitam a projeção conquistada para uma próxima disputa. O problema, porém, são as candidatas que recebem uma baixa quantidade de votos para vereadora e retornam às urnas buscando vagas estaduais ou federais de forma duvidosa.

Entre as 260 mineiras que disputam estas eleições e não possuem perfis online rastreáveis – dado apresentado nesta terça-feira (25) pela Campanha Libertas – a reportagem encontrou 17 que apareceram no pleito municipal de 2016 e receberam menos de 20 votos, o que representa ao menos 6,5% de candidaturas inexpressivas. Muitas delas, inclusive, tiveram seus registros deste ano indeferidos pela Justiça Eleitoral.

A ausência dessas mulheres nas campanhas eleitorais e na internet reforça a suspeita do uso de laranjas por partidos políticos para o cumprimento da cota de gênero. A lei exige que cada partido ou coligação preencha no mínimo 30% de suas vagas com candidaturas femininas. Segundo levantamento da Campanha Libertas, a maior parte das 17 está inapta para concorrer por “ausência de requisito de registro”, isto é, quando as legendas não submetem todos os documentos necessários a uma candidatura nos órgãos da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual.

Novo levantamento

Com base nos resultados das eleições de 2016 divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG) e na pesquisa da Campanha Libertas pelas páginas virtuais das candidatas mineiras atuais, a reportagem fez um cruzamento de dados e chegou ao total de 42 mulheres (das 260 postulantes desconectadas) que fazem a dobradinha vereadora 2016 / deputada 2018. São 21 concorrentes ao cargo estadual e 21 ao federal neste ano. Confira o levantamento e o perfil das candidatas que tiveram menos de 20 votos há dois anos:

Caso se repete

Lúcia*, dona de casa, tinha 41 anos quando concorreu ao cargo de vereadora. O município em que ela vive tinha quase cinco mil habitantes e o candidato mais votado, naquelas eleições, recebeu 274 votos. À época, concorreu pelo PTdoB e recebeu apenas 5 votos. Dois anos depois ela volta à corrida eleitoral, desta vez pelo Avante, mas teve sua candidatura a deputada estadual indeferida na última semana por não entregar todos os documentos solicitados pela Justiça.

Situação semelhante aconteceu com Daniela*. Com 59 anos de idade em 2016, a candidata disputou a vereança de sua cidade, que tinha cerca de 3.600 habitantes na época. Ela também disputou pelo PTdoB e recebeu somente 1 voto. Neste ano, ela tentaria o cargo de deputada federal pelo Avante, assim como Lúcia, no entanto, sua candidatura foi igualmente indeferida.

Os casos até poderiam ser considerados isolados, se não fosse a repetição da situação com candidatas de outros municípios. São nove (de 17) postulantes que concorreram em 2016 pelo PTdoB e tiveram menos de 20 votos. O curioso é que essas mesmas mulheres trocaram de partido e, agora, em 2018, aspiram ao Legislativo pelo Avante, sendo que sete delas já tiveram suas candidaturas indeferidas.

O Avante, aliás, é o segundo colocado no ranking de indeferimentos de candidaturas já estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o momento, 26 candidaturas do partido foram consideradas inaptas para a disputa de 2018, sendo 22 dessas de mulheres. A Campanha Libertas procurou a legenda para esclarecimentos, mas não recebeu nenhuma resposta.

Avante, PRTB e PSL lideram candidaturas desconectadas

Trinta e três dos 35 partidos contavam com pelo menos uma candidata sem rastro de campanha política na internet, na primeira semana de setembro, quando foi feito o levantamento da Campanha Libertas. O próprio Avante lidera a lista de siglas que mais registraram situações de possíveis laranjas, seguido por PRTB e PSL. As siglas têm, respectivamente, 33, 24 e 21 mulheres sem perfis online, o que corresponde a uma participação de 8% a 12,7% no total de candidaturas não rastreáveis. O problema é mais comum entre as deputadas estaduais: são 158 desconectadas, que não possuem páginas para divulgar a própria candidatura.

Arte Pollyana Dias

Em agosto, a Campanha Libertas noticiou que o Ministério Público Eleitoral havia pedido a impugnação das candidaturas do Avante pelo descumprimento à cota de gênero. Na época, o partido alegou que o MP Eleitoral se equivocou no pedido e que até 7 de setembro teria a chapa completa, observando o critério de proporcionalidade entre homens e mulheres. Nossa reportagem também conversou com mulheres do PRTB, que denunciaram a falta de apoio do partido.

Campanha Libertas tem procurado todos os partidos desde a semana passada. Nenhum dos três que lideram o ranking de candidatas desconectadas responderam aos questionamentos da reportagem.

Os 10 partidos com mais candidatas que “não existem” online

Avante: 33
PRTB: 24
PSL: 21
PHS: 19
PSC: 18
PROS: 15
PTB: 15
PTC: 13
PPL: 12
DC: 10

*Para evitar possíveis retaliações às candidatas, a Campanha Libertas optou por preservar seus nomes nesta reportagem

 

Veja também: Um terço das candidatas mineiras não existem na internet

 

 

 

Campanha Libertas[email protected]

Somos um coletivo de mulheres jornalistas de Minas que já trabalharam em redações de grandes jornais de BH e em assessorias de imprensa. A Campanha Libertas – Por mais mulheres na política surgiu para fazer uma cobertura jornalística independente sobre as eleições de 2018 com foco nas mulheres.

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