O que era para ser um passeio transformou-se em dor para uma família que foi devastada pelo rompimento das barragens da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Um arquiteto de 31 anos, a noiva dele – grávida de cinco meses -, o pai e uma irmã foram atingidos quando estavam na pousada Nova Estância, na sexta-feira (25). O empreendimento foi arrastado pela lama e ficou completamente destruído. O dono do espaço, o empresário Márcio Paulo Mascarenhas, um filho dele, e a esposa também morreram na tragédia. Ao todo, o número de mortos chega, nesta quinta-feira (31), a 110 pessoas. Os desaparecidos, por sua vez, são 394.
O corpo do arquiteto Luiz Taliberti foi cremado no Parque Renascer, em Contagem, nesta quinta pela manhã. Ainda ontem, o padrasto dele fez um desabafo por meio do Facebook contando que o enteado seria papai em breve. “Luiz, você é minha vida para sempre”, escreveu Vagner Diniz na rede social. A publicação tem mais de 26 mil compartilhamentos e outras 130 mil reações.
“31 anos de doçura e amor a natureza. Escolheu a Austrália para uma carreira de arquiteto de sucesso. Mas, a sirene não tocou. A gerente da pousada nos contou que todos estavam muito preparados para emergência e rotas de fuga. Em cinco minutos todos estariam seguros. Mas a sirene não tocou. Como a sirene, estamos em um silêncio de dor. ‘Ainda que eu ande pela Vale da morte, temerei todos os males'”, completou o padrasto do arquiteto no desabafo.
Luiz, a irmã, Camila Taliberi, e a noiva dele, Fernanda Almeida, de 30 anos, moravam na Austrália, mas teriam vindo ao Brasil para contar sobre a gravidez da mulher. Ela estava no quinto mês de gestação e ainda está entre os desaparecidos. O caso é o mesmo de Maria Lurdes da Costa Bueno, mulher do pai do arquiteto, Antônio Ribeiro da Silva. Silva e a filha Camila tiveram os corpos reconhecidos nesta quinta-feira. Todos estavam na pousada Nova Estância.
Amigo querido
O australiano Andrei Dolnikov, fundador da empresa de arquitetura Binyan Studios, e colega de Taliberti, contou ao SBS que guarda memórias dos anos em que trabalharam juntos e que o brasileiro era um amigo querido. “Luiz sempre ajudou seus colegas a superar seus desafios”, disse. “Você não podia dizer não a ele. [Ele era] muito genuíno, sem ego, muito humilde, uma pessoa muito confiante em suas habilidades. As pessoas sempre foram felizes com ele”, contou.
