‘Se diz que é mimimi, ou é ignorante ou quer manter privilégios’: Jornalista da Globo faz em discurso ao vivo contra o racismo

Instagram/@jessicasenra/Reprodução

A jornalista Jéssica Senra, da afiliada da Globo na Bahia, tem ficado conhecida pelo seu estilo único de apresentação. Na quarta-feira, 20 de novembro, a apresentadora impressionou, mais uma vez, com seu discurso para o Dia da Consciência Negra. “Quando um branco diz que falar de racismo é ‘mimimi’, é vitimismo, é porque esse branco ou é ignorante, no sentido de ignorar o que se passa debaixo de seu nariz, ou porque quer manter seus privilégios”, afirmou.

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À frente do Bom dia Bahia, a jornalista falou de privilégio branco, da importância do protagonismo negro e dos impactos do racismo nas desigualdades sociais. Mas deixou claro qual era seu papel dentro da luta contra o racismo. “Como branca, meu papel é ouvir e respeitar. Assim, eu me coloco a disposição para lutar junto, mas sabendo que o protagonismo é dos negros”, afirmou.

O discurso foi bastante elogiado nas redes sociais da apresentadora, mas também recebeu críticas. No entanto, Jéssica não hesitou em ampliar o debate para as redes sociais. Um dos internautas disse que não concorda com benefícios criados por conta da cor da pele. “Infelizmente, os benefícios por causa da cor da pele existem há séculos – são desfrutados pelos brancos. Qualquer coisa que hoje seja feita no sentido de cotas é apenas reparação histórica. É justiça”, respondeu ela ao comentário em seu Instagram. 

No dia 18 de novembro, a jornalista já tinha tocado no assunto ao apresentar uma notícia sobre o desemprego na Bahia. Segundo a pesquisa do IBGE divulgada na notícia, o perfil de desempregados é majoritariamente composto por mulheres negras de baixa escolaridade. Jéssica explica como o machismo e o racismo estão relacionados a essa estatística. “Por isso, combater machismo, racismo e a desigualdade social é importante para vivermos numa sociedade justa. E, principalmente, para tirar o peso absurdo, insustentável, dos ombros de mulheres negras desprivilegiadas”, conclui.

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Em Salvador, o desemprego tem cara e perfil: mulheres negras com baixa escolaridade. Em todo o país, este também é o perfil da maioria dos desalentados, aqueles que já desistiram de encontrar trabalho. Na capital baiana, mulheres representam quase 60% dos desempregados; negros são quase 86% (números acima da proporção de mulheres e negros em geral na cidade). Em torno de 31% têm o ensino médio completo. O que isso demonstra? Que, também no mercado de trabalho, o machismo prevalece, assim como o racismo e a desigualdade de classe. E que cada um desses sistemas de exclusão dificulta o acesso ao emprego para uma parte da população. E tem uma parte que sofre triplamente: a mulher negra e pobre: é excluída por ser mulher; é excluída por ser negra e também por não ter podido estudar. E este é apenas um recorte. A gente percebe esses sistemas opressores se olhar para a violência doméstica, por exemplo. As negras são 65% das vítimas de feminicídio. Em dez anos (de 2003 a 2013), o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%. O de brancas reduziu 9,8%. Conhecer e entender a realidade são os primeiros passos para se encontrar soluções para as desigualdades e as injustiças. [Veja a matéria que estou comentando no GloboPlay – BMD desta segunda, 18/11] #TamoJuntoBMD #Informação #Reflexão #ConhecerParaMudar #DesigualdadeDeGênero #DesigualdadeRacial #DesigualdadeSocial #Desemprego

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Luta contra a homofobia e o machismo

Em 23 de outubro, Jéssica noticiou uma agressão homofóbica na edição do Bom Dia Bahia. Como sempre, de forma didática e bem articulada, a jornalista explicou, ao vivo, como a homofobia está ligada ao machismo e à ideia de superioridade do homem.

“A homofobia é isto: é ignorância, falta de qualquer lógica. Tem a ver com o machismo. Percebam que muitos homossexuais são chamados de ‘mulherzinha’, como se isso fosse ofensivo, como se ser mulher fosse uma ofensa. Por isso, a gente diz que o combate ao machismo precisa ser de absolutamente toda a sociedade”, afirmou no jornal.

Ao BHAZ, Jéssica afirmou que entende sua posição na mídia como um espaço de privilégio e que não pode deixar de dar voz aos grupos oprimidos. “É um dever nosso provocar reflexões. Quem tem esse espaço de privilégio, tem que falar”, defende.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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