Parque do Ibitipoca recebe pessoas com deficiência: ‘Sonho que realizei’

IEF/Divulgação

Da Agência Minas

“Foi um sonho que realizei. Deu até vontade de chorar na hora. Gosto muito de aventura e sempre quis conhecer a Janela do Céu porque é um lugar muito bonito. Espero voltar logo”. Tauana Aparecida Silva do Nascimento, de 12 anos, moradora de Conceição do Ibitipoca, na Zona da Mata mineira, é uma das três visitantes que inauguraram duas cadeiras de roda nessa terça-feira (21) no parque. Finalmente, pessoas com deficiência podem conhecer o local.

O objetivo é garantir o acesso aos principais atrativos do Parque Estadual do Ibitipoca, unidade de conservação gerenciada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), com ajuda de pessoas que conduzem as cadeiras durante as trilhas.

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Tauana contou com a ajuda de funcionários do Parque do Ibitipoca para chegar até a Janela do Céu, um dos principais atrativos da unidade de conservação, que tem percurso de 16 quilômetros de ida e volta.

A família dela já é frequentadora do parque e, pela dificuldade de locomoção da jovem, normalmente só conseguia chegar até a Prainha, nas margens do Rio do Salto, que é de acesso mais fácil. “Ela gostou demais. Se não fosse a cadeira, ela não conseguiria chegar. Conseguiu realizar seu sonho de aventureira com 12 anos. Foi emocionante ver essa vitória”, diz a mãe Maria Francisca. 

Por ter nascido com um encurtamento em uma das pernas, Tauana usa cadeira de rodas. Agora ela encontrou uma forma bem mais fácil de visitar os lugares que ainda não conhece do parque. “Vou contar para todos da escola. Essa cadeira vai ajudar muitas pessoas com deficiência que sonham visitar lugares como a Janela do Céu, da mesma forma que eu fiz”, diz.

Lago dos espelhos

Quem também teve o prazer de testar a novidade foi a jovem Simara Gabriela Ferreira Silva, de 15 anos. Ela foi até o Lago dos Espelhos e aproveitou para entrar dentro d’água de cadeira e tudo. Funcionários do parque também ajudaram na condução da cadeira. “Eu tinha muita vontade de conhecer os principais atrativos do Ibitipoca. Fiquei muito feliz e agora eu quero ir à Janela do Céu”, diz ela. 

O pai da jovem, Edison Fernandes da Silva, ficou emocionado com o resultado. Eles frequentam o parque e também só conseguiam chegar até a Prainha, pela facilidade de acesso. “Ela ficou numa alegria imensa. Foi maravilhoso porque era um sonho que ela tinha. O mais legal é que o novo serviço vai ajudar não só a gente, mas várias pessoas que agora passam a ter essa oportunidade”, diz Edison.

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A terceira pessoa que também inaugurou a cadeira foi Lucas José Chagas dos Santos, de 27 anos, que é morador de Santa Rita do Ibitipoca. Ele não perdeu a chance de tomar um banho nas águas do Lago dos Espelhos. “Sensacional isso aqui. Vale a pena demais,” comemora.

‘Eu disse que onde ela quisesse ir eu a levaria’

A cadeira batizada de Julietti foi desenvolvida pelo engenheiro Guilherme Simões Cordeiro, de 34 anos, para atender uma demanda da esposa, a também engenheira Juliana Tozzi, de 36. Eles são moradores de São José dos Campos e praticam montanhismo.

Há quatro anos, quando Juliana ficou grávida do filho do casal, ela desenvolveu uma doença neurológica rara, que reduziu sua mobilidade. “Eu disse que onde ela quisesse ir eu a levaria”, diz Guilherme, que desenvolveu a cadeira batizada de Julietti para acompanhar Juliana.

O equipamento tem uma única roda, o que facilita o acesso em ambientes de trilha e acidentados. O portador de dificuldades de locomoção fica assentado em um banco e preso a um cinto. A roda fica em posição central e a cadeira tem dois puxadores nas extremidades, semelhantes aos de uma maca hospitalar, o que facilita a condução sobre solos em desnível. As cadeiras são conduzidas por outras pessoas, a partir desses puxadores. 

Solidariedade

As duas unidades do Ibitipoca foram adquiridas com fundos arrecadados em um jantar beneficente, que contou com apoio de diversos parceiros, segundo a gerente do parque, Clarice Silva. A gestora da unidade de conservação conta que a emoção invadiu o parque. “Durante o caminho, visitantes ajudaram como voluntários, pediram para poder carregar, se envolveram e bateram palmas. Isso é a coisa mais gratificante que pode acontecer para um gestor”, diz ela.

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Para o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, a iniciativa, além de mostrar respeito à diversidade, mostra que temos belezas naturais que todas as pessoas merecem conhecer. “É assim, com uma medida simples, que nós buscamos divulgar as enormes belezas naturais de Minas Gerais, fazer com que as pessoas tenham educação ambiental, conhecimento da natureza, sentimento de pertencimento com o meio ambiente, além de gerar emprego e renda para a população dos municípios do entorno dessas belezas”, diz. 

Saiba como usar o serviço

Clarice Silva explica que o parque vai oferecer as duas cadeiras para quem quiser, de forma 100% gratuita, durante o horário de funcionamento da unidade, das 7h às 17h. Já as pessoas que vão conduzir a cadeira são de responsabilidade dos interessados em fazer as trilhas. Para isso, todas as orientações serão fornecidas por e-mail, incluindo o número de condutores ideal para cada tipo de passeio.

Nos mais difíceis, como a Janela do Céu (16 quilômetros) e o Circuito do Peão (10 quilômetros), o mais indicado é que o grupo seja composto de oito pessoas, para que haja um revezamento nos condutores. Nos atrativos do Circuito das Águas (4 quilômetros), o parque recomenda que o interessado em usar a cadeira vá com quatro pessoas no apoio. 

O e-mail para agendamento é [email protected]. Quem não tiver as pessoas disponíveis para fazer a condução das cadeiras pode verificar se existe algum voluntário na região do parque. Basta fazer a solicitação pelo e-mail, que também deve incluir a data e o horário de interesse para a checagem da disponibilidade do objeto. 

De acordo com o diretor-geral do IEF, Antônio Malard, a inauguração das cadeiras foi histórica para o IEF. “Sabemos que muitas pessoas têm o mesmo sonho desses jovens que usaram as cadeiras pela primeira vez. Este projeto é apenas o início de várias iniciativas que pretendemos colocar em prática, para trazer mais acessibilidade nas áreas de uso público de nossas unidades de conservação”, diz.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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