Jogadora do Galo sofre lesão grave e torcedores comemoram em tom de vingança

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Calhau já havia sofrido ataques após episódio de assédio envolvendo o mascote do Atlético (Daniela Veiga/Atlético + Twitter/Reprodução)

Apesar do futebol feminino e o papel da mulher no esporte caminharem a passos lentos, na direção de obterem mais visibilidade e aceitação, ainda há situações que mostram como a caminhada está longe de acabar. Depois do episódio de machismo envolvendo a zagueira Vitória Calhau, do Atlético, e o Galo Doido, torcedores do time voltaram a atacar e a ofender a jogadora: desta vez, comemorando uma lesão que ela sofreu.

Em fevereiro, o mascote do Atlético protagonizou uma cena lamentável antes da partida contra a Caldense, pelo Campeonato Mineiro. Ao apresentar Calhau, do time feminino, o Galo Doido fez a atleta dar uma “voltinha” para olhá-la e ainda esfregou as mãos.

Torcedores do Galo e de times por todo o país repudiaram a atitude e o clube divulgou nas redes sociais um pedido de desculpas oficial do mascote à atleta. Por outro lado, houve quem considerou o ocorrido “uma brincadeira” e viu um exagero na repercussão, chamando a reação de puro “mimimi”.

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Na segunda-feira (9) surgiu o anúncio de uma lesão grave que a jogadora sofreu: Calhau vai passar por cirurgia depois de romper o ligamento cruzado anterior do joelho direito e poderá ficar afastada por até 9 meses.

As respostas ao tuíte da página Fala Galo revelaram uma face mais agressiva de parte dos torcedores que defenderam a atitude do mascote. “Kkkkkk minha praga deu certo”, “Feitiço virando contra o feiticeiro”, “É zica do Galo Doido”, “Todo castigo é pouco” e “Melhoras à mimizenta” foram alguns dos comentários, entre outros vários que desejavam melhoras à jogadora.

Para a doutora em direito Luana Magalhães, que também é atleticana apaixonada, os comentários absurdos são reflexo de um ambiente que resiste em dar espaço para a mulher. “Seja na arquibancada, como jornalista, como atleta, o futebol é um espaço onde a mulher é malquista até hoje. E na era do ódio que a gente vive hoje na internet, as pessoas têm se dado a licença poética de serem cretinas”, conta ela ao BHAZ.

“Acredito que os homens tenham guardado esse rancor da situação por toda a repercussão que o caso teve. Antes, situações como essa não tinham consequências formais para o time, e agora o Atlético se manifestou e desculpou institucionalmente. Esse reconhecimento do erro incomoda o machista, que se sentia protegido pela impunidade. Essa posição de segurança, conforto, de certa forma foi desafiada e isso dói no brio do homem”, explica Luana.

A especialista ressalta ainda que, como atleticana que frequenta o estádio e acompanha o time, sabe por experiência própria como a mulher é tratada no esporte e menos valorizada como torcedora do que um homem. Apesar disso, Luana ficou satisfeita com o posicionamento do Atlético em relação ao episódio do Galo Doido.

“Eles podiam ter deixado a história morrer, mas hoje não é isso que a gente espera. Erros acontecem e vão continuar, mas é importante ver que, mesmo paulatinamente, medidas têm sido tomadas para repensar essas situações. A questão é não normalizar esses atos, deixar acharem que está tudo bem, porque não está. Não podemos deixar que eles se sintam protegidos para continuarem reproduzindo esse comportamento retrógrado e machista”, completa a advogada.

‘Galo lamenta profundamente’

O diretor de comunicação do Atlético, Domênico Bhering, afirmou que o clube está ciente dos ataques e que o departamento jurídico do time está à disposição de Calhau, caso ela queira tomar alguma medida. “O Galo lamenta profundamente esses ataques que vêm das redes sociais, que infelizmente têm acontecido com frequência”, afirmou Bhering ao BHAZ.

“Conversamos com a Nina [coordenadora de futebol feminino do Atlético] e com o departamento jurídico e, por se tratar de algo pessoal, se ela quiser tomar providências o departamento está à disposição para orientá-la quanto a isto”, completou.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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