Relato impactante de médica revela gravidade da Covid-19: ‘Forçado a brincar de Deus’

IMAGEM ILUSTRATIVA (Warley de Andrade/TV Brasil + Parentingupstream/Pixabay)

O número de mortos pela Covid-19 em todo o mundo, por si só, já demonstra a gravidade do surgimento e expansão do novo coronavírus em diversos países. Estados Unidos, Itália, China e Espanha são os mais afetados, com milhares de mortos. No Reino Unido, são 769 falecimentos até este domingo (29). E é de lá que surgiu o relato mais impactante, até agora, da situação de trabalhadores da saúde que lidam com os infectados.

Um médico do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, NHS na sigla original, relatou como tem sido a rotina dele diante dos pacientes que chegam à unidade de saúde em que trabalha, em Londres, a procura de atendimento. O relato completo acompanha cinco dias de trabalho dp médico no hospital, de segunda até sexta-feira. O texto pode ser lido na íntegra aqui, em inglês.

”A visão do NHS é que, se você não tiver sintomas, continue trabalhando. Sinto-me profundamente inquieto, pressionado contra as pessoas, potencialmente as matando e elas trazendo a morte para mim. No entanto, que escolha eu tenho?”, diz logo no início.

”Vários pacientes morreram no fim de semana. Estou aliviado por não estar lá para vê-los morrer. Há tanta morte. Uma enfermeira, em lágrimas, me diz que não consegue lidar com o manejo de camas por causa do tsunami de novos pacientes. Enquanto isso, a enfermaria geriátrica está cheia de pessoas com problemas mentais que não têm ideia do que está acontecendo. Eles são todos positivos para o Covid-19. Todos provavelmente morrerão”, descreve.

Sem ter o nome revelado, o profissional revela ser ”forçado a brincar de Deus” por ter que ver pessoas morrendo sem a possibilidade de tratar a Covid-19. ”Agora sou forçado a brincar de Deus. Uma doce senhora de 80 anos está lutando para respirar. Não há nada que eu possa fazer para ajudá-la – e por causa de suas condições e idade pré-existentes, ela simplesmente não é candidata a tratamento intensivo”, descreve no texto, publicado originalmente no Mail Sunday.

O médico continua e diz que, apesar de parecer insensível, existem outros pacientes que também precisam do respirador utilizado pela idosa. ”Parece insensível, não é? Mas há 11 pessoas em outros lugares que precisam desesperadamente do respirador”, conta. O profissional ainda explica que também precisa ligar para a filha da paciente e explicar que o hospital não poderá fazer nada para impedir que a mãe dela morra.

Em outro momento, ele descreve o caso de uma filha inconsolável pela iminente morte do pai, também vítima de Covid-19. ”O homem de 68 anos ainda não está respondendo. Teremos que parar o tratamento dele. Sua filha, no entanto, se recusa a aceitar isso e entra no quarto sem o EPI completo”, conta. ”Tem partículas de vírus em todos os lugares. É muito perigoso para ela, mas ela é inconsolável. Soluçando, ela pede para salvá-lo. ‘Por favor’, ela chora repetidamente. A pobre menina está na casa dos 30 anos. Eu tenho uma irmã dessa idade. Poderia facilmente ser ela. Assim como o moribundo poderia ser meu pai”, diz o profissional.

”Saio tarde pouco depois que o homem de 68 anos é retirado do respirador. Foi uma semana longa. Um colega médico envia uma mensagem sobre números da Itália dizendo que 51 médicos morreram de coronavírus. Vou apagar essa, obrigado. Eu deveria mandar uma mensagem para minha mãe. Ela está sempre preocupada e não terei um momento amanhã, pois sei que meu pager não para de tocar. Enquanto digito, uma tosse surge do nada. ‘Então aí está’, eu penso. Eu estive esperando por você. Por que demorou tanto?”’, finaliza o médico, já na sexta-feira.

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