Bispo que comanda Metodista em Minas defende exclusão de LGBTs da igreja

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Roberto Alves de Souza é bispo na Igreja Metodista (Reprodução/Facebook)

O bispo Roberto Alves de Souza, que é presidente da 4ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista (Minas Gerais e Espírito Santo), defendeu que os LGBTs devem ser excluídos da denominação. A afirmação foi feita durante uma videoconferência que contava com a presença de pastores. Nos últimos dias, um movimento dentro da própria igreja reforçou as críticas à declaração do líder, que vazou nas redes sociais ainda em junho.

Na videoconferência, o bispo comenta que o movimento LGBT quer apresentar uma proposta para o conselho geral da Metodista. “Tem que excluir eles da igreja, isso sim”, falou Roberto. Um pastou que participa da conversa completa: “Tem que fazer isso enquanto é tempo, né, porque senão depois [inaudível] cresce na briga e só Jesus”. Veja o momento:

Na semana em que se cultiva o respeito e o enfrentamento da violência contra as pessoas LGBT, o bispo Roberto Alves de Souza, da Igreja Metodista, afirmou, “Tem que excluir eles da igreja, isso sim.”, referindo-se aos membros da igreja que apresentam propostas de acolhimento pleno. Ele diz isso sorrindo. Quando eu era adolescente, na Igreja Metodista Central em Sorocaba, queríamos instalar uma rede de vôlei no estacionamento da igreja. Alguns adultos eram contrários… minha vó, que era tesoureira, orientou: façam uma proposta ao concílio. Fizemos e ela foi aprovada… até quem era contrário votou favoravelmente, não tanto por gostar de vôlei, mas em apoio àquele grupo tão decidido de adolescentes…Aprendi, desde cedo, que na Igreja Metodista, o concílio é o lugar das propostas. Lamento profundamente num contexto em que o mundo clama por diálogo e respeito, existam pessoas na igreja que pregam a exclusão… Se houver base canônica para excluir quem faz propostas ao concílio, serei expulso da igreja e essa expulsão servirá como testemunho contra ela perante a justiça divina.Além da proposta do nosso irmão Alexandre, também estou apresentando, junto com a Revda. Eliad, uma proposta ao Concílio Geral. Para quem está disposto a dialogar, compartilho o teor da justificativa:“Cada contexto histórico apresenta desafios específicos à vida e missão das igrejas. As respostas que o metodismo brasileiro oferecerá aos desafios atuais determinará se ele será acolhido ou rejeitado por aquele que o tem chamado a ser Igreja. Quando se trata do acolhimento pleno de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais na Igreja Metodista em solo brasileiro, muitos podem ser os equívocos, fundamentados, em geral, nos preconceitos de nossa cultura patriarcal, machista, racista e sexista, sem qualquer relação com um diálogo sério com os fundamentos da fé cristã.No primeiro século, as igrejas da Judeia e da Ásia viveram grandes desafios. Um dos primeiros e mais decisivos foi o acolhimento de “gentios” à comunhão. Grupos conhecidos como “judaizantes” exigiam que pessoas que não eram judias cumprissem algumas leis para que fossem incluídas na igreja. Paulo se coloca como defensor dos gentios, líderes da igreja de Jerusalém como defensores dos judaizantes e Pedro vacila, o que o faz ser reprovado por Paulo. A expressão 'em Cristo' na pregação de Paulo e no testemunho daquelas igrejas, especialmente em seu confronto com os judaizantes, nos ensina que o apego a identidades fixas nos afasta do preceito básico da fé – "amar a Deus e às pessoas" – e nos conduz a um tipo de idolatria muito perversa, que destrói a alteridade e impõe um culto de si mesmo a todas as pessoas. "Em Cristo", então, não significa "ser cristão" ou "cristã", mas acolher e amar a outra pessoa em sua singularidade que nem sempre é admitida pelas muitas identidades sociais, religiosas, culturais.A história das igrejas cristãs está repleta de momentos como aquele, nos quais elas precisaram abandonar aspectos culturais que aprisionavam as comunidades e tentavam limitar o poder transformador do Espírito Santo: Na Reforma, o protestantismo abriu mão de uma vasta tradição para firmar-se sobre o pressuposto da graça e da justificação mediante a fé. Na guerra civil estadunidense o metodismo daquele país se dividiu entre favoráveis e contrários à escravidão de pessoas negras. Na luta pelos direitos das mulheres a igreja conviveu com pessoas favoráveis e contrárias aos movimentos por emancipação e pelo voto. Pessoas que se separavam em seu relacionamento conjugal também eram impedidas de servir a Deus mediante seus dons na igreja. Duramente séculos, crianças foram excluídas da mesa da comunhão com base em leituras bíblicas ofuscadas por preconceitos. Cada um desses momentos foi marcado pela ação de homens e mulheres que, mediante a ação do Espírito Santo, chamaram a igreja a um novo modo de testemunhar o amor de Deus. Pessoas com orientação sexual diferente da heteronormativa fazem parte da Igreja Metodista e de toda sociedade. São leigos e leigas, clérigos e clérigas que exercem seus dons e ministérios contribuindo para a expansão do evangelho mesmo sem, muitas vezes, revelarem sua identidade, pois sabem que serão excluídas da oportunidade de oferecerem seus dons a Deus mediante o serviço na igreja. Outras, em geral adolescentes e jovens se afastam espontaneamente por compreenderem como falso o discurso de amor proferido pelas igrejas. Outras ainda são excluídas de diversos modos do convívio da fé. Outrossim, tentando se fechar em uma realidade particular, a igreja ignora a violência contra travestis, transsexuais, lésbicas e gays, não oferecendo, de fato, a proteção necessária a essas pessoas. O sangue de vidas que as igrejas lançam cotidianamente à exclusão e à morte, no entanto, será cobrado de seus líderes. Deste modo, propomos que a Igreja Metodista repare o que pode ser considerado como uma omissão histórica e promulgue o pleno acolhimento de pessoas LGBT no exercício de seus dons e ministérios da igreja.Jundiaí e São Paulo, 30 de junho de 2020.”Minha esperança resite do amor incondicional de Jesus!Que mais e mais pessoas se unam ao propósito de testemunhar o respeito e o amor dentro e fora da igreja!

Posted by Pedro Camargo on Tuesday, June 30, 2020

Indignação

O vídeo viralizou entre membros da igreja, que mostraram indignação com o posicionamento dos religiosos. Publicações de apoio aos LGBTs logo começaram a surgir. “Pensavam que éramos poucos, que seria só ‘excluir eles logo’. Mas não. Somos muitos, somos fieis e nos comprometemos a dar esses passos juntas e juntos. Somos levedura, queremos uma Igreja que cresce porque acolhe todas as pessoas!”, diz trecho de uma publicação dos Metodistas LGBTs.

Segundo a mensagem, 115 metodistas de mais de 25 igrejas e congregações de todos os distritos da 3ª Região Eclesiástica apoiam a proposta de acolhimento de fiéis LGBTs. “A discussão é urgente. Não se trata de uma polêmica. Estamos falando das nossa vidas. Nós metodistas LGBT, sempre existimos e resistimos! O sangue de Jesus vertido por todos nós é sinal de amor, graça e reconciliação. Seguimos, Deus conosco”, completou.

Reprodução/Facebook

Nas redes sociais podem ser encontradas diversas postagens de repúdio à fala do religioso. “A Igreja Metodista brasileira tem em suas mãos sangue de gente excluída na época da ditadura. Esse filme não é novo”, diz um usuário do Twitter. Veja mais:

O BHAZ entrou em contato com a Igreja Metodista Central em Belo Horizonte e pediu um posicionamento diante da repercussão do caso, porém nenhum comunicado foi enviado até o momento da publicação desta matéria. O texto será atualizado caso a igreja se manifeste.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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