Minas prepara protocolo para volta às aulas e sindicatos discordam

Sala de aula vazia
Minas prepara protocolo para retomar aulas (Amanda Dias/BHAZ)

Minas deve ter um protocolo para a retomada das aulas no estado em breve. Enquanto o documento não fica pronto, os sindicatos de educadores reprovam a possibilidade de aulas presenciais em meio à pandemia da Covid-19. Ontem (25), representantes de escolas particulares apresentaram ao governo do Estado uma proposta de retorno para o ensino infantil como uma opção para os pais que voltaram a trabalhar, após a reabertura da economia, e não têm com quem deixar os filhos.

O plano de retomada das aulas, que não tem data para ser divulgado, está sendo produzido pela SEE (Secretaria de Estado de Educação) e pela SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde). Nesta quarta (26), o secretário adjunto de Saúde, Marcelo Cabral, disse que a proposta apresentada pelo Sinep-MG (Sindicato das Escolas Particulares em Minas Gerais) está sendo analisada.

“É necessário que se observe vários critérios científicos e técnicos para dar uma respostas e o governo segue avaliando”, disse Cabral. O secretário também acrescentou que os protocolos precisam de mais cuidado, já que envolvem crianças. “Todos os riscos são levados em consideração para que seja dada uma resposta, já que isso se referirá a crianças, grupo de maior risco a não adaptação desses protocolos, e que tem contato com pais e avós em casa”, destacou.

Em nota (veja na íntegra abaixo), o governo confirma a produção do protocolo e diz que “está avaliando os meios mais seguros para retomada das atividades presenciais nas instituições de ensino, considerando critérios técnicos e científicos”. Enquanto isso, a educação segue em estado de caos.

Sem imediatismo

Ao BHAZ, a presidente do Sinep-MG, Zuleica Reis, disse que a proposta apresentada ao governo foi construída por demanda apresentada pelos pais de alunos. “Parte quer que as aulas sejam retomadas e parte não, o que estamos propondo é apresentar essa opção para os pais, respeitando todos os protocolos, não queremos forçar a reabertura. Não queremos o retorno imediato, apenas uma previsão para se organizar e famílias se organizarem também”, disse.

“Com a abertura do comércio, existem pais que precisam da escola. Estamos observando o surgimento de casas clandestinas e hoteizinhos funcionando para atender essa demanda, sem protocolos, e isso também nos preocupa. Para os pais que não querem enviar seus filhos às escolas, vamos manter as atividades online”, afirma a presidente.

Outra questão levantada por Zuleica é a iminente crise no setor da educação privada. “Existe o receio do aumento no fechamento de escolas de educação infantil, que não têm condições financeiras de arcar com os custos, pois as famílias cancelam matrículas e encerram contratos. E não estou me referindo a escolas grandes apenas. Só em BH, 60% das escolas de são pequenas, com 150 a 200 alunos”, afirma.

‘Sem condições’

Para Valéria Morato, presidente do Sinpro-MG (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais), a discussão não deve ser tomada pela questão da crise econômica do setor, mas sim, pela saúde. “Como garantir o distanciamento das crianças pequenas? Não tem a menor condição”, afirma.

“Os donos não são médicos, como vão garantir que não vai ter contaminação nas escolas, lugar com maior aglomeração? Como controlar crianças? Essa decisão deve ser dos infectologistas e profissionais da saúde, vamos lutar até o final para proteger a saúde dos professores e dos estudante também”, destaca a presidente.

Não é o momento’

Denise Romano, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas Gerais), disse que na semana passada o governo convidou a categoria para uma reunião, mas não apresentou propostas concretas ou respostas.

“Para estado discutir qualquer protocolo relacionado às aulas presenciais, o estado precisa cumprir, pelo menos, três pré-requisitos apontados pela Fiocruz: redução de transmissão comunitária, redução continua de mortes e das contaminações. Não estamos nesse patamar em MG, portanto não é o momento de se iniciar essa discussão”, diz Denise.

Ainda de acordo com a coordenadora, o sindicato se colocou contrário ao retorno. “Somos contra até que não seja assegurada a segurança de professores, funcionários e alunos. O estado não apresentou nenhum programa que garante isso. Quem faz esses protocolos não conhece a realidade da educação, das salas de aulas e das escolas de MG. Tem locais que alunos compartilham copo para beber água porque não tem condições de ter uma garrafinha de água”, relata.

Para ela, a estabilização da pandemia em Minas não indica um bom cenário ainda, já que estamos no topo do platô de casos, sem sinal de queda. Além disso, os professores conseguiram uma liminar judicial (relembre aqui) que impede o retorno presencial.

“Essa discussão não pode ser baseada no interesse mercadológico. O que defendemos é que para o estado discutir flexibilização ele precisa atingir alguns patamares de segurança. Nós temos ainda uma decisão liminar em vigor que impede a retomada, por conta da pandemia, o que também é um impasse”, acrescenta Denise.

O que diz o Governo de Minas

O Comitê Executivo Covid-19 recebeu representantes do Sindicato das Escolas particulares, nesta terça-feira (25/8), para discutir propostas e demandas da educação, diante da pandemia que atinge o estado.
Ressaltamos que o Governo de Minas está avaliando os meios mais seguros para retomada das atividades presenciais nas instituições de ensino, considerando critérios técnicos e científicos.

Informamos ainda que a Secretaria de Estado de Educação (SEE) está elaborando um protocolo para o retorno às aulas presenciais, em consonância com as orientações da Secretaria de Estado de Saúde (SES). O material será finalizado, após amplas discussões e estudos realizados pela secretaria com entidades educativas e será apresentado em breve”.

Edição: Roberth Costa
Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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