De todos os 853 municípios de Minas Gerais, apenas nove deles ainda não registraram nenhum caso da Covid-19. Um deles é São Tomé das Letras, no Sul de Minas. Com o maior número de habitantes entre as cidades livre do vírus, o local tem chamado atenção pelas medidas de prevenção adotadas. A cidade está fechada para turistas desde o dia 17 de março – e já avisou que vai continuar assim. O novo decreto que passou a valer nesse domingo (20) estipula que a entrada de “estranhos” segue proibida pelos próximos 20 dias.
Além disso, também estão mantidas as regras de distanciamento social e outras medidas como uso de máscaras e a higienização das mãos. A prefeitura divulgou ainda ações previstas para a retomada das atividades turísticas na cidade, como cadastro para inventário turístico e treinamento para donos e funcionários do setor.
Mesmo com a dificuldade de comprovar a inexistência de casos, medidas desse tipo contribuem significativamente com os baixos índices de contágio, conforme explica o médico infectologista Leandro Curi. “As medidas sanitárias funcionam. O fechamento da rede de turismo, do comércio, de praças, isso tudo contribui fortemente. Até porque, se você traz gente de outros lugares, é claro que vai acontecer [a transmissão]. Foi assim que todas as doenças aconteceram, é assim que vírus e bactérias circulam no mundo”, explica.
Exemplo claro disso é o caso que aconteceu justamente em São Tomé das Letras, no mês passado, quando precisou isolar pacientes e trabalhadores da saúde que tiveram contato com um médico que havia testado positivo para a Covid-19 (relembre aqui). Ele não era morador da cidade, mas atendia por lá semanalmente. À época, a prefeitura foi notificada pelo médico após a confirmação de que ele estava contaminado e contatou todos os envolvidos para colocá-los em isolamento.
Cidades livres da Covid-19
Ao todo, os nove municípios sem notificações da enfermidade somam aproximadamente 30 mil habitantes. Pouco mais de seis meses depois da chegada da pandemia em Minas, eles continuam se mobilizando para adiar o máximo possível – e quem sabe até evitar – confirmações de infecção pelo vírus. Confira abaixo a lista das cidades e o número de habitantes de cada município, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística):
- Aracitaba, na Zona da Mata (2.058 habitantes);
- Botumirim, no Norte (6.288 habitantes);
- Camacho, no Centro-Oeste (2.869 habitantes);
- Cedro do Abaeté, na região Central (1.157 habitantes);
- Pedro Teixeira, na Zona da Mata (1.806 habitantes);
- Queluzito, na região Central (1.943 habitantes);
- Santana do Garambéu, na Zona da Mata (2.476 habitantes);
- São Tomé das Letras, no Sul (7.120 habitantes);
- Veredinha, no Alto Paranaíba (5.727 habitantes).
Casos X Diagnósticos
Apesar de a falta de notificações parecer um cenário muito positivo para os municípios, especialistas alertam que é preciso ter cuidado com as afirmações muito categóricas. Ao BHAZ, Curi explica que é delicado afirmar que não há nenhum caso em qualquer cidade.
“A gente precisa abrir uma série de perguntas e avaliar todas as variáveis, se realmente ninguém foi infectado, qual o real número disso, como os testes foram feitos, lembrar que temos pacientes assintomáticos… Então vai saber se ninguém de fato teve o vírus. É diferente falar que ‘não teve casos’ e que ‘não teve diagnósticos’. É possível você não diagnosticar ninguém e ter vários infectados”, avalia.
O infectologista explica ainda que, apesar de difícil, a possibilidade de manter os casos da Covid-19 no zero é maior em cidades com pequenas populações: “Pra eu ter certeza disso, eu teria que testar a população inteira e isso as vezes não acontece. Se a população for um número pequeno, você consegue fazer um controle muito maior do que numa população grande, que se dispersa mais facilmente”.
Situação do estado
Ao contrário das cidades citadas acima, a realidade em cerca de 99% dos municípios mineiros é bem diferente. Até hoje (22), já foram confirmados 273.233 casos da Covid-19 e 6.764 já perderam a batalha contra a doença em 574 municípios. Apenas nas últimas 24 horas, foram mais de 2.000 notificações de infectados e 37 mortos. Os dados são do boletim epidemiológico mais recente.
Entre as vítimas, a maioria são homens e pessoas acima de 60 anos. Os índices de comorbidades ilustram, na realidade, o alerta que especialistas vêm fazendo há meses: 75% das pessoas que morreram por causa da doença tinham alguma outra condição de saúde – dentre as quais se destacam as doenças do coração e o diabetes.
