Fim de ano e Covid: Posso viajar, comemorar o Natal e o Réveillon? Veja respostas

Festas de fim de ano em meio à pandemia preocupam especialistas (Arquivo EBC + Reprodução/Pixabay)

Um ano extremamente atípico está chegando ao fim. E o que tornou 2020 um “novo normal”, contudo, continua presente: o novo coronavírus ainda é uma realidade que precisa ser encarada. Nas últimas semanas, o que se tem visto não é uma regressão de casos, mas sim um aumento nas taxas de transmissão e de infectados, em um cenário inclui Minas Gerais e BH.

A população vê-se, então, em um dilema. Dezembro é um mês típico de comemorações com parentes e amigos, enquanto janeiro normalmente apresenta uma alta no número de viagens. Com o aumento do número de casos de Covid-19, contudo, as confraternizações estão em xeque, já que o isolamento social é necessário para a diminuição dos níveis de transmissão do vírus.

A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) recomendou aos cidadãos que não realizem e nem participem de eventos de final de ano. Já o governo estadual, ontem (22), pediu para que a população redobre os cuidados de distanciamento e higienização e alertou que a PM poderá prender quem estiver em aglomerações ao longo dos próximos dias.

Apesar das recomendações locais, no âmbito federal não há nenhum restrição ou instrução explícita de como se comportar nas próximas semanas, diferentemente de países como a Holanda e a Espanha, por exemplo, que impuseram um limite de 3 e 10 convidados, respectivamente, no Natal e Réveillon.

O BHAZ procurou especialistas para falar sobre as festas de fim de ano, mas já dá um “spoiler”: não há resposta fácil nem definitiva, e a confraternização não é recomendada por nenhum dos médicos. O infectologista Leandro Curi, integrante do Comitê de Covid-19 da prefeitura de Ibirité, reconhece que “ficar privado desse tipo de situação é muito difícil” e que “períodos como esses de final de ano a gente está a acostumado a confraternizar”, mas que “a realidade se impõe, infelizmente”.

Segundo o médico, estamos caminhando para uma situação de risco e “é essencial que as pessoas adotem medidas de cuidado, isolamento, inclusive nesse período de final de ano”. “Reuniões mesmo familiares, em ambientes fechados, sobretudo, são fortemente desaconselhadas”, explica.

Para Curi, o andamento da pandemia depende muito mais das pessoas do que dos governos. “A gente tá acostumado com a falta de orientação dos governantes. A nossa responsabilidade ou irresponsabilidade que vai determinar a taxa de transmissão, isso tem a ver com nosso senso de comunidade”, pondera o infectologista.

“A ideia é que a gente suporte um pouco mais, aguente firme, passe por mais essa provação, restrição, em um período tão difícil, esperando entrar ao longo do 1º e 2º semestre com a disponibilidade da vacina e a esperança que no final do ano que vem as coisas estejam diferentes”, diz Curi.

Alternativas

Tanto Leandro, quantos os psiquiatras Frederico Garcia e Renato Silveira, aconselham o uso das tecnologias para driblar a saudade. “O ideal é usufruir da tecnologia que a gente tem, vídeo, chamada de vídeo, mensagem, telefone, pra fazer uma coisa mais segura”, disse Leandro. Renato também disse que “precisamos recorrer ao que temos” e lembrou dos idosos, que precisam de atenção o ano inteiro, não só agora.

“A questão dos idosos não deve ser vista só nas festas, esse ano todo a presença em ligação, mandar alguma coisa para eles, não necessariamente encontrar fisicamente. Nós podemos gravar alguns vídeos e encaminhar para os idosos”, sugere.

Leandro Curi lembra, inclusive, que é com os idosos que devemos nos preocupar mais na hora de decidir comemorar ou não o Natal e Ano Novo. “Tem muito parente do grupo de risco, idosos, podemos ser vetores da doença, sem sintoma levar a doença para a pessoa”. Para ele, o ideal é que possamos “suprimir nossa saudade e a vontade de estar junto com os nossos entes, e simplesmente não encontrar”.

“Eu acho que o momento não é esse, eu sempre estou falando também que pra gente poder desfrutar de um 2021 mais seguro, com os nossos entes queridos, o ideal é agora a gente se preservar”, finalizou.

E se eu encontrar?

O infectologista reconhece que não são todos que irão seguir o isolamento. “Infelizmente, a gente sabe que a maioria vai encontrar os parentes”, diz. Nesses casos, ele propõe, então, uma política de redução de danos. Encontrar o menor número de pessoas possível, não dar o “famigerado abraço e beijinho que a gente tanto gosta”, e manter o distanciamento.

Ele ressalta a preferência pela confraternização em lugares abertos, com muita circulação de ar para evitar aerossóis. “Quando a gente fala, ri, faz cânticos, tudo que a gente faz no Natal, a gente tá eliminando aerossóis”. “Eles ficam em suspensão no ar e geralmente é no momento de descontração que a gente infecta”, disse.

Leandro reforça também o uso de máscara (no nariz e na boca!). “Tem gente que fala que é desconfortável, ‘não aguento’. Se não tolera, fica em casa, em respeito aos outros. Você pode contaminar toda uma família pelo o seu desconforto de não usar a máscara”, aconselha. Por fim, ele reforça também a higienização das mãos, das superfícies e o distanciamento. “E se qualquer pessoa tiver sintomas gripais, sejam dor de garganta, nariz escorrendo… ficar em casa”, pontua.

Quantas pessoas?

De acordo com Leandro Curi, o número máximo é discutível e segundo ele “não tem número mágico”. Se o encontro for dentro de um ambiente fechado e sem espaço para manter distância de 1,5 metro a 2 metros das pessoas, o conselho será diferente daquele em lugares abertos.

Além disso, tem a questão de quem está dentro do local. Se são pessoas que estão se resguardando, como elas estão se comportando, se estão descuidadas ou utilizando máscara. “Quanto mais gente tiver, mais gente descuidada, e mais chances de você ter uma ou mais entre elas infectadas pelo corona, inclusive assintomáticas”, explica.

Por esse motivo, Curi desaconselha reuniões familiares. “O número máximo parte muito do razoável e do bom senso. É o mínimo de pessoas. Normalmente são as pessoas que habitam o domicílio que vão ter que estar ali. E mesmo se entre essas, uma ou mais tem que sempre sair, fazer uma compra, mesmo entre essas, a gente também tem que guardar as medidas de cuidado, prevenção”, diz.

Viagens

Muitas pessoas têm família no interior e já têm garantido que viajarão e para ver parentes. Nesse caso, o infectologista diz que a pessoa deve se isolar em casa por dez dias, sem contato com outros, e fazer o exame para minimizar as chances.

O exame recomendado é o PCR RT, conhecido como “teste do cotonete”, já que utiliza de um cotonete para obter amostra da mucosa nasofaringe (nariz e garganta). É um teste indolor, apesar de incômodo para alguns pacientes, e que detecta o vírus na fase aguda da doença.

Confinamento e saúde mental

Para o psiquiatra Frederico Garcia, o grande drama que estamos vivendo no Brasil é a falta de perspectiva. “Normalmente a gente aqui no Brasil tem uma expectativa de final de ano que gira em torno de começar algo novo, uma vida diferente, pular ondinha, uma série de coisas que a gente acaba ritualizando, e junto disso vai a questão das férias de janeiro”, disse.

Para ele, existe, ainda, outro fator. “No Brasil, como somos muito do contato pessoal, físico, a falta de perspectiva de poder rever a família também tem um impacto psíquico”. Apesar dos impactos mentais que o isolamento pode causar, ele ressalta que estamos um momento de guerra e que situações do tipo impõem restrições que precisam ser respeitadas.

Renato também destaca que os riscos à saúde mental no isolamento são grandes, mas que “nesse momento temos algumas prioridades”. Ele lembra dos idosos. “Eles são mais vulneráveis. Embora a gente entenda que passou o ano inteiro, o que a gente tem pedido é para evitar comemorações em casa”.

Uma solução, além do uso de tecnologias, é conversar com os idosos, explicando a questão dos riscos e pensar que estamos perto de uma vacina “se tudo correr bem – vai – o Natal do ano que vem vai poder ser retomado com mais segurança”, torce. Ele diz que existem algumas questões que se antecedem agora: “Estar vivo, sobreviver”.

O infectologista e professor de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Vandack Alencar, por sua vez, diz que, apesar de recomendar as restrições, acredita que as pessoas também devem ser individualizadas. “Privar essas pessoas [com distúrbios mentais] de maneira muito rigorosa de reuniões e atividades realmente traz um risco maior. O que elas não podem é ficar sozinhas”, explica. Se encontrar com os pais, por exemplo, torna o risco de agravamento menor. Nestes casos, ele diz que é o encontro é interessante, desde que medidas sejam respeitadas.

Sinais

Frederico destaca que a realização do diagnóstico é importante. Se for percebido que o quadro de tristeza e ansiedade está recorrente, há mais de duas semanas, e está perturbando o sono, sexualidade, energia, alimentação, e até capacidade de trabalho, é preciso avaliação psiquiátrica. Ele lembra que muitos estão atendendo presencialmente ou por telemedicina, que “funciona tão bem quanto”.

Como dica de prevenção, o especialista recomenda o estabelecimento de uma rotina (hora de comer, acordar) e agenda semanal (como vai organizar e executar a semana), manter o clico de sono correto e realizar atividade aeróbica pelo menos três vezes por semana. Ligar para os amigos também é importante para nos sentirmos pertencentes a uma rede de pessoas. “Manter o suporte social nesse momento que é imprescindível”.

Réveillon

Para o Réveillon, as recomendações são as mesmas, mas com um quê a mais de preocupação. “Me preocupa mais que o Natal o Réveillon, já que no Ano Novo as pessoas saem pra festa, balada, praia, hotel… juntam. E aí tá todo mundo celebrando, brindando, ninguém tá preocupado em proteção”, diz Curi.

O evento é esperado principalmente pelos jovens, mas Frederico destaca que a maior parte das pessoas internadas agora, em decorrência de Covid, têm até 40 anos. “Já conseguimos sobreviver até aqui, estamos perto, a solução está próxima, a recomendação é ter paciência, as coisas vão voltar a uma forma de viver menos sofrida do que essa”, finaliza.

Reforce a proteção contra o vírus

A SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) orienta que a população tome algumas medidas de higiene respiratória para evitar a propagação da doença, são elas:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
Edição: Roberth Costa

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