Carnaval de BH: Blocos de rua cobram da prefeitura ‘direitos iguais’ na divisão de verbas

carnaval de rua bh
Verbas da prefeitura para o Carnaval BH 2023 estão sendo distribuídas para os blocos e escolas de samba (FOTO ILUSTRATIVA: Amanda Dias/BHAZ)

A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) divulgou o regulamento do desfile das escolas de samba do Carnaval BH 2023, com a verba que vai ser destinada às escolas. Isso acabou levantando questionamentos entre alguns representantes de blocos de rua por causa da diferença em relação ao valor que as escolas recebem.

O regulamento, publicado nessa terça-feira (10), descreve como as escolas de samba podem receber a verba da prefeitura. Ao todo, o valor dos recursos será de R$2,11 milhões divididos da seguinte forma:

  • Escolas de samba do Grupo Especial: cada uma receberá R$ 230 mil, totalizando um valor de R$ 1,84 milhão;
  • Escola de samba do Grupo de Acesso que ascendeu no Carnaval de 2020: R$ 138 mil;
  • Escolas de samba do Grupo de Apresentação: cada uma receberá R$ 69 mil, totalizando um valor de R$ 138 mil.

As escolas de samba devem usar o auxílio financeiro exclusivamente para pagar os itens adquiridos e serviços contratados para a realização da apresentação durante o desfile (acesse o regulamento completo aqui).

Blocos pedem direitos iguais

“Eu defendo que tenha isonomia entre quem realiza o Carnaval de BH. Os blocos estão ficando muito prejudicados na promoção da festa. Existe essa possibilidade de 5 milhões de pessoas visitando a cidade e os blocos são responsáveis por uma parcela significativa dessas pessoas”, declara Reinaldo Trindade, fundador e produtor executivo do Bloco Faraó.

Neste ano, dos 479 blocos cadastrados para o Carnaval BH 2023, 196 se inscreveram no edital de auxílio da prefeitura, e 71 apenas receberam aprovação. O edital é dividido entre as categorias A (R$ 20 mil), B (R$ 12 mil) e C (R$ 7 mil), e cada bloco escolhe em qual delas deseja concorrer. 

Os representantes de blocos de rua deixam claro ao BHAZ que não querem que as verbas destinadas às escolas de samba diminuam ou acabem, mas, sim, que os blocos, principalmente os médios e grandes, recebam um valor que seja capaz de cobrir os gastos necessários para o Carnaval 2023 em BH.

“A discussão é sobre uma valorização efetiva dos blocos de rua. Nossa reivindicação é que sejam destinados mais valores aos blocos e que o poder público nos dê estrutura. A retomada do Carnaval de rua se deu muito pelos blocos, e a gente tem um desequilíbrio na aplicação dos recursos públicos e privados”. diz Matheus Brandt, músico e fundador do bloco Me Beija que eu sou Pagodeiro.

Quanto custa para um bloco grande desfilar?

Segundo um levantamento feito pelo BHAZ, um bloco de porte grande (público aproximado de 300 mil pessoas) tem custo de aproximadamente R$ 70 mil para conseguir desfilar com estrutura completa.

Confira a lista de gastos:

  • Trio Elétrico
  • Carro de Apoio
  • Equipe de apoio e cordeiro
  • Alimentação e hidratação
  • Efeitos visuais
  • Plotagem do trio elétrico
  • Músicos e técnicos de som.
  • Microfonação de instrumentos
  • Fotografia
  • Filmagem
  • Material de consumo e pulseiras
  • Ambulância

Robson Abreu, presidente da AbraBH (Associação dos Blocos de Rua de Belo Horizonte), relatou em reportagem recente ao BHAZ o impacto da alta nos preços. “Em 2020, um trio elétrico era R$ 5 mil, e hoje estão cobrando R$ 10 mil, fora as camisas que pagávamos R$ 9,90 cada e o pessoal está cobrando R$ 29,90 a R$ 40. Brigadista era na faixa de R$ 120 e hoje está em torno de R$ 190”.

Compreensão com a caminhada das escolas

Felippe Diniz, diretor geral de Carnaval da escola de samba Triunfo Barroco, acredita que, ao invés de questionar, deveria haver um entendimento sobre a caminhada das escolas no Carnaval de BH. “Temos escolas de samba com mais de 50 anos que já tiveram que ir para a avenida sem verba alguma”.

“Essa verba para as escolas é uma coisa recente, depois de mais de 50 anos de desfile. Elas chegaram nesse patamar financeiro, que ainda não é o ideal para uma escola de samba. Precisamos entender esse movimento. As escolas foram a resistência para o Carnaval não morrer”, defende Felippe.

O diretor geral de Carnaval aponta que escolas de samba já desfilaram com R$ 10 a R$ 15 mil de verba, e que o espetáculo gera mais gastos do que um bloco de rua e, portanto, precisaria de mais verba dos que os blocos que sairão pelas ruas de BH em 2023. “Escolas de samba, blocos de rua e blocos caricatos deveriam sentar juntos e discutir com a Belotur como cada coisa funciona”, propõe.

Diálogo com a Belotur

Reinaldo Trindade, do bloco Faraó, também defende que haja um diálogo com a Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte) para a empresa entender as necessidades dos blocos. “A gente não consegue entender como que a Belotur pensa esses valores”.

“O pessoal da passarela lutou muito para chegar no ponto que chegou, mas nossa situação está muito aquém”, diz Reinaldo. No inicío de janeiro, alguns dos grandes blocos do Carnaval de BH declararam que os cortejos acontecerão a duras penas por conta da falta de recursos.

Até o momento, a PBH ainda não conseguiu patrocínio privado para a folia. Porém, a Belotur garantiu, em entrevista ao BHAZ, que está correndo atrás do recurso. Caso não consiga, o Carnaval acontecerá com recursos do tesouro municipal.

O que diz a Belotur

Sobre a distribuição das verbas públicas para o Carnaval BH 2023, a Belotur informou, em nota à reportagem, que “o formato e as demandas dos atores do carnaval (blocos de rua, escolas de samba e blocos caricatos) são completamente distintas” (leia a nota na íntegra abaixo).

A empresa explicou que a definição do orçamento para cada grupo acontece por meio de diálogos e do “respeito às especificidades de cada cultura”. Segundo a Belotur, o número de público dos blocos não balizam a distribuição das verbas.

“Ademais, a operacionalização dos desfiles dos blocos de rua geram um custo maior para administração pública em comparação aos desfiles das escolas de samba. Entre eles estão: banheiros químicos, grades, ambulâncias, postos médicos avançados e outros serviços”, concluiu a empresa.

Leia a nota da Belotur na íntegra

A Belotur informa que a dinâmica, o formato e as demandas dos atores do carnaval (blocos de rua, escolas de samba e blocos caricatos) são completamente distintas. A definição quanto ao orçamento e os fomentos para cada grupo se dá, tanto nos diálogos, quanto no respeito às especificidades de cada cultura.  
Além disso, dentro do universo de blocos de rua existe uma diversidade imensa, desde blocos que reúnem público de 100 mil pessoas até blocos com a presença de 100 foliões. Portanto, esses números não são o que balizam as políticas públicas. 
Ademais, a operacionalização dos desfiles dos blocos de rua geram um custo maior para administração pública em comparação aos desfiles das escolas de samba. Entre eles estão: banheiros químicos, grades, ambulâncias, postos médicos avançados e outros serviços.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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